|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
A escolha certa
DAVID BROOKS
DO "NEW YORK TIMES"
Barack Obama escolheu seu
companheiro de chapa na disputa pela Casa Branca. Espero,
pelo bem dos EUA, que ele tenha escolhido Joe Biden.
As fraquezas de Biden estão
na superfície. Ele disse uma série de coisas idiotas ao longo
dos anos e, nos dias seguintes à
sua escolha, essas gafes serão
constantemente recordadas.
Mas isso não causará grandes
danos porque os eleitores são
inteligentes o bastante para
perdoar as falhas genuínas de
pessoas genuínas. E, a longo
prazo, Biden dá a Obama aquilo
que ele precisa:
1) Raízes na classe operária.
Biden é um democrata marmiteiro. Seu pai era rico quando
jovem. Mas, após uma série de
más escolhas, ele estava falido
quando Biden nasceu. Eles viveram com os sogros em Scranton, Pensilvânia, depois se mudaram para uma área de trabalhadores em Wilmington, Delaware. Num dado momento, o
pai de Biden limpava boilers
durante a semana e vendia enfeites nos fins de semana.
Seu filho cresceu com um feroz orgulho da classe operária
-ninguém é melhor do que
ninguém. Ainda hoje, o senador
Biden mantém um jeito de ser
ostensivamente despretensioso. Ele desdenha os privilégios
e os progressistas de limusine.
Os democratas em geral, e
Obama em particular, têm problemas em se conectar com os
eleitores da classe operária. Biden seria a ponte.
2) Honestidade. A característica mais notória de Biden é a
sua oratória. Seu estilo de conversar é cansativo para alguns,
mas tem uma característica excepcional. Ele é direto. Independentemente de quem seja
seu interlocutor, ele diz exatamente o que pensa.
Os presidentes precisam de
alguém que seja incansavelmente direto. Obama, que atrai
bajuladores, precisa disso mais
do que a maioria.
3) Lealdade. Depois que Biden foi eleito para o Senado em
1972, sua mulher, Neilia, e sua
filha Naomi morreram em um
acidente de automóvel. Sua
carreira também foi marcada
por crises menores. Sua primeira disputa presidencial terminou em um escândalo de
plágio. Ele quase morreu de
aneurisma cerebral.
Governos novos são dominados por jovens e arrogantes e se
beneficiam da presença daqueles que passaram pelo pior e desenvolveram outra perspectiva. Há momentos em que o presidente tem de ir a uma reunião
de gabinete e anunciar uma decisão da qual quase todos em
sua equipe discordam. Nesses
momentos, precisa de um vice-presidente que dê apoio absoluto. Esse tipo de lealdade vem
mais facilmente de pessoas que
já estiveram por baixo e tiveram que confiar em outros.
4) Experiência. Quando Biden era um jovem senador, ele
teve como mentores Hubert
Humphrey, Mike Mansfield e
outros como eles. Ele aprendeu
os procedimentos do Senado
em tempos em que o Senado
era menos dividido. Se Obama
pretende passar reformas nos
setores de energia e saúde, ele
precisa de alguém com esse tipo de conhecimento legislativo, que possa unir os senadores
como antigamente.
Biden é essa pessoa.
Esse artigo foi publicado no "New York Times"
na sexta-feira, antes do anúncio de Obama
Tradução de RODRIGO RÖTZSCH
Texto Anterior: No primeiro discurso de campanha, Biden ataca McCain Próximo Texto: Argentina admira Brasil, mas não o Mercosul Índice
|