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Mídia faz autocrítica sobre a cobertura do governo republicano
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
A mídia americana chega ao fim
da campanha eleitoral, uma das
mais polarizadas da história, segundo relatos, após uma seqüência de atos públicos de contrição
-de três de seus mais respeitados órgãos, "The New York Times", "The Washington Post" e a
rede CBS.
Começou em 26 de maio no
"NYT", num texto assinado "dos
editores", com críticas à cobertura que o próprio jornal fez do Iraque. Em especial, da suposta existência de armas de destruição em
massa, usada como justificativa
pelo governo de George W. Bush
para a invasão. Do "NYT":
- Nós deveríamos ter sido
mais agressivos em questionar as
declarações... As reportagens problemáticas dependeram pelo menos em parte de um círculo de informantes iraquianos.
Um, em particular, foi destacado pelo jornal: Ahmad Chalabi.
Ele foi a fonte de vários dos textos
"problemáticos" assinados pela
repórter Judith Miller. Mas para o
"NYT" o problema da cobertura
foi "mais complicado" do que
"repórteres individualmente".
Passando a responsabilidade
para a cúpula que havia deixado o
jornal meses antes, o texto "dos
editores" afirmou que "editores
em vários níveis que deveriam
pressionar os repórteres por ceticismo estavam talvez muito preocupados em correr com furos para o jornal".
A exemplo do "NYT", também
o "Washington Post" evitou pedir
desculpas abertamente, em seu
ato público de contrição -a reportagem assinada pelo colunista
de mídia Howard Kurtz, em 12 de
agosto, ouvindo editores e repórteres do jornal.
Novamente, o problema declarado foi que o "WP" não questionou como devia a suposta existência de armas de destruição em
massa no Iraque. A diferença é
que o jornal de Washington fez as
reportagens críticas, mas não deu
destaque na primeira página.
Editores como Leonard Downie
Jr. e o célebre Bob Woodward
-do caso Watergate- admitiram seus erros, em caráter individual, mas outros, como a editora
Liz Spayd, declararam que não
deviam desculpas aos leitores.
Desculpas, de fato, só foram
surgir no terceiro episódio envolvendo a mídia e o governo republicano. Desta vez, não mais por
cobertura leniente de Bush, mas o
oposto: por recorrer a documentos ao que tudo indica fraudados,
contra o presidente.
No programa "60 Minutes", o
principal jornalista da CBS, Dan
Rather, apresentou as supostas
provas, que passaram por severo
escrutínio de sites e jornais. Por
fim, em 20 de setembro, a rede
soltou um comunicado:
- Baseado no que sabemos
agora, a CBS não pode provar que
os documentos são autênticos.
Nós não devíamos tê-los usado.
Foi um erro, que lamentamos
profundamente.
Rather complementou, em comunicado à parte:
- Fizemos um erro de julgamento, e por ele eu peço desculpas.
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