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"Coisas estão melhorando"
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
MARVIN OLASKY, QUE INSPIROU a política social
de Bush, tem história peculiar. Neto de imigrantes lituanos e ucranianos, nascido numa família judia, tornou-se ateu aos 14, quando virou marxista. Aos 26, tornou-se
cristão e, oito anos depois, conservador. Doutor em cultura americana, editor da revista cristã "World" e professor da Universidade do Texas, Olasky é autor de 13 livros, incluindo "Conservadorismo com Compaixão".
O volume inspirou Bush a adotar a prática em seu governo,
criando o Escritório de Iniciativas
Comunitárias e Baseadas na Fé
tão logo tomou posse.
Os conservadores compassivos
defendem que o Estado repasse
fundos e transfira sua responsabilidade no que se refere à assistência social para instituições religiosas, que podem prestar uma assistência mais completa. "Nós temos
alma", diz Olasky. "Instituições
religiosas também lidam com os
problemas espirituais."
A idéia caiu como uma luva para o gabinete neoconservador de
Bush, que tem um rígido conjunto de valores morais e para o qual
o Estado deve ser desonerado do
bem-estar social. Críticos, no entanto, temem que a transferência
exclua do sistema gente que adota
um comportamento reprovado
pela instituição religiosa, ou que
exija dos assistidos a conversão.
O professor desmente a segunda crítica, mas confirma a primeira. "Gente que está se matando de
beber ou de usar drogas não deve
receber ajuda do Estado", diz. Ele
também não
vê problemas
em Estado e religião se misturarem, ainda
que a Constituição dos
EUA os separe.
Olasky falou
com a Folha
por e-mail. Eis
a entrevista.
Folha - O sr. se
diz um "imigrante político
e religioso". Como assim?
Marvin
Olasky - Fui
criado como
judeu, tornei-me ateu e marxista
na adolescência e cristão há 28
anos, pela graça de Deus. É uma
longa história, mas a coisa mais
importante é que li a Bíblia e acreditei que aquilo era verdade. Essa
crença religiosa me levou a dar
mais ênfase ao que a Igreja e a família podem fazer do que ao que
um governo, às vezes ateu, pode
fazer.
Folha - Como surgiu o conceito de
conservadorismo com compaixão?
Olasky - Da leitura da Bíblia e de
ver como Deus quer que ajudemos os pobres de um modo que
realmente os ajude, e não apenas
para fazer os ricos se sentirem
melhores. A Bíblia destaca a compaixão: o significado literal é "sofrer com" outra pessoa.
A ajuda compassiva é de pessoa
para pessoa, não se resume em
aprovar uma lei ou enviar um
cheque. Os conservadores compassivos se envolvem pessoalmente ao ajudar os pobres, fazendo de tudo, de ensinar um semi-analfabeto ou praticar esportes
com um órfão a ensinar um ex-preso ou adotar uma criança difícil de ser aceita.
Folha - De que maneira as instituições religiosas podem ser melhores provedoras de assistência
social do que o Estado?
Olasky - Nós não somos apenas
organismos, também temos alma.
A ajuda estatal abrange apenas
problemas materiais, mas as instituições religiosas também lidam
com os problemas espirituais.
Folha - Transferir a responsabilidade da assistência social para as
instituições religiosas não restringe o acesso para quem adota um
comportamento questionável ante
a Igreja?
Olasky - Gente que está se matando de beber ou de usar drogas
não deve receber ajuda do Estado.
Não tem nada de compaixão em
ajudá-los a praticar um comportamento suicida. Qualquer pessoa
que deseje trabalhar, seja qual for
sua crença, deve receber ajuda, e é
isso que está acontecendo.
Folha - O sr. é um conselheiro próximo do presidente Bush. Como
avalia a prática do conservadorismo com compaixão no país durante
os últimos quatro anos? Quais os
resultados?
Olasky - É uma melhora lenta.
Tudo leva tempo, e a ênfase, desde [os ataques de] 11 de setembro
de 2001 tem sido, como deveria
ser, a guerra contra os terroristas.
Mas as coisas estão melhorando.
Folha - Houve mudança real na
assistência social praticada pelo
Estado?
Olasky - Sim,
mais gente recebeu ajuda
para conseguir
emprego, e
menos gente
que não quer
trabalhar recebeu apoio do
governo.
Folha - O que
podemos esperar para os próximos quatro
anos, se Bush
for reeleito?
Olasky - Mais
oportunidades
para que as
pessoas pobres
saiam da pobreza e passem a fazer parte da
classe média.
Folha - Em artigo recente, o sr.
criticou algumas posições do candidato democrata, John Kerry, e o
fato de ele elogiar outras religiões,
questionando se ele é realmente
católico, como diz. A seu ver, qual a
importância da crença de um presidente -ou de quão estritamente
ele segue sua religião- para suas
decisões políticas?
Olasky - Não há nada errado em
elogiar as coisas boas de outras religiões, mas o ensinamento católico se opõe ao homossexualismo e
ao aborto. Um presidente que segue os ensinamentos católicos
pode fazer muitas coisas boas, e
eu fico triste com o fato de Kerry
não segui-los.
Folha - Religião e Estado são instituições separadas, segundo a
Constituição americana. Como o sr.
acha que elas devem se relacionar?
Olasky - A Constituição dos
EUA determina que o Congresso
não "estabeleça" uma religião. Isso significa dar preferência a uma
religião particular e exigir que as
pessoas paguem impostos para
apoiá-la.
Isso é errado. A Constituição
americana também determina
que as pessoas têm direito ao livre
exercício de sua religião. Isso significa que um professor ou um assistente social cristão não deve ter
que fingir que é ateu. Eu concordo
com isso.
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