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AMÉRICA LATINA
Após campanha de ONGs, começa amanhã ação contra desnutrição; presidente argentino culpa governos anteriores
Pressionado, Duhalde age contra a fome
DE BUENOS AIRES
O governo argentino anunciou
na semana passada um plano de
combate à desnutrição infantil. A
partir de amanhã, funcionários
do governo percorrerão as áreas
mais pobres do país para localizar
os casos críticos de subnutrição e
conceder tratamento e assistência
adequada às famílias.
O plano, dirigido pela primeira-dama Hilda González de Duhalde, só foi anunciado depois de terem sido divulgados vários casos
de mortes de crianças subnutridas. A primeira reação foi a de entidades de sociedade civil, que
passaram a intensificar programas de assistência e recolhimento
de doações para as famílias das regiões mais pobres.
O próprio presidente Eduardo
Duhalde havia firmado um abaixo-assinado, lançado por um
conjunto de organizações não-governamentais e pelo jornal "La
Nacion", pedindo a criação de um
projeto nacional de combate à fome. Os organizadores do documento já recolheram mais de 1
milhão de assinaturas. O projeto,
de 15 pontos, foi enviado ao Congresso e os deputados começaram
a discuti-lo na quinta-feira passada.
Nas Províncias, a primeira reação dos governadores foi eximir-se da responsabilidade pelas mortes e pelos casos de pobreza extrema. Na semana passada, o secretário da Saúde da Província de
Missiones, onde 49 crianças morreram de fome neste ano, acusava
o ex-presidente Fernando de la
Rúa e o presidente Eduardo Duhalde, que teriam cortado recursos antes destinados à região.
O governo não responde diretamente às críticas, mas funcionários das secretarias da Saúde insinuam que os governadores desviam as verbas que deveriam alimentar as crianças.
Duhalde não anunciou quanto
o governo vai investir no programa de combate à fome, chamado
"Operação Resgate". A primeira-dama apenas anunciou que estarão envolvidos o Exército, universidades e organizações não-governamentais.
Na Província de Buenos Aires,
onde vive mais da metade da população argentina, começou ontem um programa para identificar as crianças com problemas de
nutrição. O governador da Província, Felipe Solá, anunciou que
há cerca de 56 mil crianças desnutridas em Buenos Aires -aproximadamente 7% das crianças da
Província.
Como no programa federal, a
campanha da Província mais populosa e mais rica do país irá percorrer as áreas pobres e prover
tratamento para as crianças em
risco e para as famílias em situação de indigência.
Duhalde, que colhia os dividendos da estabilização econômica
que o país atingiu nos últimos
meses, se viu bombardeado por
todos os lados.
Anteontem, ele partiu para o
ataque e disse que o problema da
desnutrição não é um problema
de seu governo.
Para Duhalde, as gestões de
Carlos Menem (1989-99) e de De
la Rúa (1999-2001) têm de ser responsabilizadas pela crise social.
Menem, apesar de pertencer ao
mesmo partido de Duhalde, o PJ
(Partido Justicialista), é inimigo
político do presidente.
O governo espera também poder aumentar a cobertura do
principal programa social do país,
o Programa de Chefes de Família,
uma espécie de renda mínima
concedida aos chefes de família
desempregados. Cerca de 2 milhões de argentinos recebem o benefício -a estimativa é que haja
cerca de 5,8 milhões de indigentes
na Argentina.
(MARCELO BILLI)
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