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Desejo de mudança provoca "onda esquerdista"
DA REDAÇÃO
O que a eventual vitória do esquerdista Lucio Gutiérrez no
Equador teria em comum com o
triunfo de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil? Estaria se caracterizando uma onda esquerdista na
região? Para analistas ouvidos pela Folha, o que une os dois casos é
o desejo de mudança da população após o fracasso das políticas
neoliberais. Esse mesmo efeito teria levado o líder dos plantadores
de coca da Bolívia, Evo Morales,
ao segundo turno das eleições daquele país, em junho. Mas as semelhanças terminariam por aí.
"Parece haver uma tendência
nessa direção, provocada pela
frustração de mais de dez anos de
neoliberalismo", diz o professor
americano Christopher Mitchell,
do Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos da New
York University. "Mas o caso de
Lula é muito particular, porque
ele é um político profissional, com
uma história", afirma.
O cientista político equatoriano
Simón Pachano, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), de Quito, concorda.
"Gutiérrez não é um representante da esquerda tradicional, apesar
de ter votos da esquerda", diz.
"Duvido até mesmo que ele possa
fazer um governo de esquerda."
Pachano rejeita até mesmo a recorrente comparação entre Gutiérrez e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ambos militares
com passado golpista. "Não há
tanta similaridade entre os dois,
além do fato de ambos gostarem
de se vestir de escoteiro", ironiza
ele, fazendo referência ao fato de
os dois aparecerem com frequência com uniformes militares.
Apesar dos pontos em comum
entre Chávez e Gutiérrez, Mitchell
tem explicações diferentes para o
surgimento de um e de outro.
"Chávez apareceu como novidade, num momento em que os partidos políticos tradicionais da Venezuela caíam em descrédito por
causa dos constantes casos de
corrupção", diz. "No Equador, os
partidos sempre foram fracos, e a
carreira militar sempre foi um
trampolim para a política."
Apesar das diferenças, o cientista político Emílio Tadei, do Clacso
(Conselho Latino-Americano de
Ciências Sociais), de Buenos Aires, considera que exista a possibilidade de que Lula, Gutiérrez e
Chávez formem um bloco de governos de esquerda. "Mesmo com
características diferentes, eles têm
condições de articular uma frente
para pontos de interesse comum,
como a negociação da Alca [Área
de Livre Comércio das Américas],
por exemplo", afirma.
Gutiérrez, que elogia publicamente Chávez e Lula, mas faz
questão de marcar suas diferenças em relação a ambos, rechaça a
possibilidade de formar uma
aliança com os dois países.
Recentemente, Chávez também
ironizou acusações de setores ultraconservadores americanos segundo os quais Lula e Gutiérrez se
somariam a ele e ao ditador de
Cuba, Fidel Castro, para formar
um "eixo do mal". "Não seria do
mal, mas do bem, o eixo dos povos, o eixo do futuro", disse. "Eixo
do mal" foi a expressão cunhada
por George W. Bush no início do
ano para designar os países que
supostamente desenvolveriam
clandestinamente armas de destruição em massa -Iraque, Irã e
Coréia do Norte.
(RW)
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