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AMÉRICA LATINA
O esquerdista Lucio Gutiérrez, que liderou golpe em 2000, tem ampla vantagem na disputa presidencial hoje
Populista é favorito na eleição do Equador
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O Equador deve eleger hoje à
Presidência do país o coronel Lucio Gutiérrez, populista de esquerda que ganhou notoriedade
ao liderar o golpe de Estado que
derrubou o presidente Jamil Mahuad em janeiro de 2000. Segundo as últimas pesquisas, Gutiérrez
tem uma vantagem folgada sobre
seu adversário de hoje no segundo turno da eleição presidencial, o
empresário Álvaro Noboa, o homem mais rico do país.
Uma pesquisa do instituto Informe Confidencial, divulgada
anteontem, dava 53% das intenções de voto para Gutiérrez, contra 25% para Noboa. Em outra
pesquisa, do instituto Cedatos/
Gallup, que considera somente os
votos válidos, Gutiérrez tinha
60%, contra 40% de Noboa. "Noboa pode reduzir um pouco mais
a diferença, mas é praticamente
certa a vitória de Gutiérrez", disse
à Folha o analista Políbio Córdoba, diretor do Cedatos/Gallup.
Na última semana da campanha, a diferença entre os dois havia caído mais de dez pontos, em
grande parte como consequência
da campanha agressiva adotada
por Noboa. "Gutiérrez foi obrigado a adotar uma postura defensiva diante de Noboa, que tomou a
iniciativa neste segundo turno",
disse o cientista político Simón
Pachano, da Flacso (Faculdade
Latino-Americana de Ciências
Sociais), de Quito.
A denúncia de maior impacto
foi relativa a uma suposta agressão de Gutiérrez à sua mulher, no
ano passado, divulgada pela propaganda televisiva de Noboa. A
propaganda mostrava um boletim de ocorrência supostamente
registrado pela mulher de Gutiérrez e perguntava se os eleitores
votariam em um homem violento
para a Presidência. A acusação
acabou desmentida por um advogado citado como representante
da mulher de Gutiérrez, e o documento, cuja autenticidade nunca
foi comprovada, sumiu da delegacia onde teria sido registrado.
"Depois de escolherem dois
candidatos que pregavam renovação, é paradoxal que os equatorianos tenham acompanhado
uma campanha eleitoral marcada
pelo retorno das antigas práticas
de ataques pessoais, que prevaleceram sobre outros meios de informar o eleitor", afirma o cientista político César Montúfar, diretor da organização Participação
Cidadã, montada para fazer um
acompanhamento da eleição.
Nos últimos dias da campanha,
Noboa voltou a investir pesado
contra Gutiérrez, comparando-o,
em sua propaganda, ao presidente Hugo Chávez, da Venezuela. Os
spots mostravam cenas de distúrbios e quebra-quebras nas ruas de
Caracas e diziam que os equatorianos deveriam aprender com
"os erros alheios" e não votar em
um "comunista".
A propaganda levou o embaixador venezuelano em Quito, Carlos Santiago, a protestar formalmente ao governo equatoriano.
O próprio Noboa, porém, também se viu às voltas com acusações, algumas das quais já o haviam perseguido no primeiro turno. Na quinta-feira, um tribunal
de Londres deu a ele ganho de
causa em um processo movido
por duas de suas irmãs, que o acusavam de se apropriar, por meio
de fraude, da herança do pai, Luis
Noboa, morto em 1994.
O empresário também voltou a
ser acusado de utilizar trabalho
infantil em suas fazendas de plantação de banana. A revelação havia sido feita meses antes da eleição por uma reportagem do jornal "The New York Times". Noboa negou a acusação e apresentou na propaganda depoimentos
de funcionários de suas empresas,
que se diziam felizes com o tratamento dado pelo patrão.
Com as acusações mútuas monopolizando o debate, foram deixados de lado na campanha temas importantes para o futuro do
país, como a manutenção da dolarização da economia, adotada
em 2000, o desemprego crescente
e a intensa emigração.
Noboa, que, no primeiro turno,
quando chegou a ter mais de 40%
nas pesquisas, recusou todas as
propostas de debate e praticamente todos os pedidos de entrevista, desafiou Gutiérrez a um debate na terça-feira. Por sua proposta, o debate seria transmitido
pelo Canal 10 de Guayaquil (sua
cidade natal), que o apóia, com a
mediação do jornalista Carlos
Larreategui, ex-ministro de Mahuad (derrubado por Gutiérrez) e
permitiria a participação de assessores. Gutiérrez, por sua vez, queria um debate somente entre os
dois, com a transmissão por um
pool de emissoras e com a participação de vários jornalistas, de diferentes meios.
Sem um consenso para o debate, restou aos eleitores a tarefa de
escolher entre "o agressor da mulher" e o "fazendeiro explorador
de crianças".
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