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EUROPA
Pleito parlamentar deve criar entrave às pretensões políticas de Haider, que rachou a coalizão de governo e seu próprio partido
Eleição austríaca deve punir extrema direita
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Em meio ao caos político que se
instalou no país após o enfraquecimento da atual coalizão governamental, os austríacos elegem
hoje um novo Parlamento (Nationalrat), sabendo que o maior derrotado deverá ser o Partido da Liberdade (FPÖ), do líder de extrema direita Jörg Haider.
Em 1999, o FPÖ protagonizou a
maior surpresa eleitoral da história da Áustria contemporânea,
pois deu um salto de 5% dos votos
para cerca de 27%, tornando-se a
segunda força política do país.
Ironicamente, a formação que
obteve mais votos (33%) em 1999,
o Partido Social-Democrata
(SPÖ), ficou fora da coalizão por
não aceitar uma aliança com a extrema direita, abrindo caminho
para os conservadores do Partido
do Povo (ÖVP), do chanceler
[premiê] Wolfgang Schüssel, que
tinham chegado em terceiro, com
pouco menos de 27% dos votos.
Agora a situação está indefinida, e, para especialistas consultados pela Folha, o Partido Verde
(GPÖ) deverá ser o fiel da balança.
As últimas pesquisas mostram
os dois principais partidos, o SPÖ
e o ÖVP, que governaram em
conjunto o país (quase sem interrupção) desde a década de 50 até
2000, com 39% das intenções de
voto. A extrema direita e os ambientalistas ficariam com 10%. As
pesquisas tinham margem de erro de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
"O desempenho do GPÖ será
decisivo porque os social-democratas descartam a possibilidade
de aliar-se aos extremistas. Ademais, os ambientalistas deverão
conquistar o apoio de parte das
pessoas que deixaram de votar no
último pleito e de uma parcela
significativa dos eleitores do ÖVP,
que estão decepcionados com o
partido por causa da aliança feita
com Haider há quase três anos",
explicou Fritz Windhager, da
Universidade de Viena (Áustria).
Diferentemente dos Verdes alemães, o GPÖ não teve origem
num amplo movimento popular,
mas foi criado por algumas personalidades políticas. O partido já
faz parte do Nationalrat há mais
de uma década e tem 14 de suas
183 cadeiras atualmente.
O resultado da eleição deverá
representar um entrave para as
aspirações de Haider, figura central da cena política austríaca nos
últimos anos. Ele e seu FPÖ deverão pagar caro por ter provocado
o fim antecipado do atual governo, de acordo com os analistas.
"Após as enchentes de agosto,
Schüssel decidiu adiar para 2004 a
reforma fiscal que deveria ocorrer
em 2003, como fez [o chanceler
alemão] Gerhard Schröder. Haider não aceitou o adiamento, e os
problemas da coalizão começaram", avaliou Herbert Dachs, do
Instituto de Ciência Política da
Universidade de Salzburgo.
"Com sua atitude, Haider causou uma grave disputa interna em
seu partido. Ela opunha os pragmáticos, como a vice-chanceler
Susanne Riess-Passer, que queriam continuar no poder, aos radicais de direita, que defendiam
uma rápida redução dos impostos. Isso foi muito malvisto pela
população e deverá custar caro à
extrema direita", disse Dachs.
Perspectivas sombrias
Algumas das figuras de ponta
dos dois principais partidos já
acenaram com a possibilidade de
formar uma "grande coalizão"
para "impedir a instabilidade político-institucional". Todavia esse
cenário poderia minar ainda mais
a legitimidade da classe política
austríaca, segundo os analistas.
"Em parte, a extrema direita teve sucesso em 1999 porque os eleitores estavam cansados de ver a
divisão do poder entre social-democratas e conservadores desde a
década de 50. Assim, só haverá
uma grande coalizão se o GPÖ
não conseguir bater o FPÖ ou se o
SPÖ não acabar a disputa em primeiro, pois seu líder [Alfred Gusenbauer] já disse que não aceitará governar se seu partido não ganhar o pleito", analisou Dachs.
A Áustria ainda não se recuperou, portanto, do choque provocado pela ascensão da extrema direita. Assim, a eleição de hoje poderá, na melhor das hipóteses,
restituir parte da legitimidade dos
atores da cena política do país.
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