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"É humilhante", diz brasileiro sobre barreira israelense
DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
Cinco palestinos naturalizados
brasileiros que vivem parte do
tempo em Manaus e parte em
uma pequena cidade perto de Hebron, na Cisjordânia, decidiram
visitar, anteontem, a delegação de
deputados federais brasileiros em
viagem oficial aos territórios ocupados palestinos. Em condições
normais, o percurso até Ramallah, sede da Autoridade Nacional
Palestina na Cisjordânia, levaria
cerca de 1h30. O grupo, que viaja
com documentos palestinos, demorou oito horas e precisou trocar de táxi nove vezes. É um
exemplo das restrições impostas
aos palestinos pelo Exército de Israel em resposta ao terrorismo.
"Não podemos circular em nosso próprio território, enquanto os
israelenses podem ir aonde quiserem. Em alguns lugares, não podemos nem usar as mesmas estradas que eles. É humilhante", disse
Hassan Ahmoud, empresário de
exportação e importação.
Segundo Issa Taraireh, dono de
uma indústria têxtil na Cisjordânia e de negócios na Amazônia, os
palestinos são obrigados a trocar
de condução a cada posto de controle israelense e, em alguns locais, precisam andar centenas de
metros até poderem pegar outro
táxi. "Às vezes, subimos montanhas a pé, carregando malas, porque não temos permissão para
andar na estrada", afirmou.
Israel argumenta que os bloqueios e as revistas são necessários para prevenir ataques de homens-bombas. Desde o início da
Intifada, grupos terroristas como
o Hamas têm enviado suicidas,
inclusive mulheres e adolescentes, para se explodirem em Israel.
O governo do premiê Ariel Sharon acusa o líder palestino Iasser
Arafat e a Autoridade Nacional
Palestina de colaborar com os terroristas por não combatê-los. E
afirma que, se a ANP não age, o
Exército de Israel precisa ir até os
locais de onde saem os homens-bombas para bloqueá-los.
Arafat nega conivência com os
extremistas, embora eles façam
parte abertamente do mundo político e religioso palestino.
Após o início da atual Intifada
(revolta contra a ocupação, em setembro de 2000), o Exército israelense, que havia se retirado das cidades palestinas em cumprimento aos acordos de Oslo, reocupou
a Cisjordânia. Há quartéis na entrada das principais cidades, e os
soldados, em veículos blindados,
entram e saem para realizar ações.
Os acessos a elas estão bloqueados, e seus habitantes só podem se
movimentar após serem revistados e obterem autorização, muitas vezes negada, dos militares.
Riad Malki, diretor da ONG Panorama (Centro Palestino para a
Disseminação da Democracia),
perde compromissos no exterior
devido à imprevisibilidade do
posto de fronteira. "Na próxima
semana, tenho um congresso em
Barcelona, mas não sei se poderei
ir. Nunca sabemos o que conseguiremos fazer no dia seguinte."
Terrorismo
Há um ano, o governo israelense começou a construir o que chama de "cerca de segurança" para
separar Israel das cidades da Cisjordânia ocupada, de onde parte a
maioria dos homens-bombas.
Já os palestinos o chamam de
"muro do apartheid" e acusam Israel de definir unilateralmente as
fronteiras de um futuro Estado
palestino. A ANP argumenta que
a barreira, com centenas de quilômetros, é ilegal por estar sendo
construída em terras palestinas.
A barreira também cerca cidades inteiras, como Qalqilya, com
cerca de 45 mil habitantes, isolando-a das térreas férteis utilizadas
para o cultivo de laranjas e de povoados que dependem da cidade.
Para chegar às suas terras ou aos
povoados, os habitantes precisam
se submeter ao posto de controle.
O resultado foi um desastre: segundo a prefeitura local, o orçamento familiar caiu em média
53%, 105 mil árvores, principalmente laranjeiras e oliveiras, foram cortadas para a passagem do
muro, e poços artesianos, numa
região carente de água, foram isolados de seus proprietários. Israel
diz ter indenizado as famílias e
plantado milhares de árvores.
Retirada de Gaza
Gaza é uma faixa estreita de terra, à beira do mar Mediterrâneo, e
que faz fronteira ao norte e a leste
com Israel e ao sul com o Egito. É
uma das áreas mais populosas do
mundo, com 60 mil habitantes
por quilômetro quadrado.
Cerca de 70% da população é
composta de refugiados ou descendentes de refugiados palestinos que deixaram suas casas em
1948, quando Israel foi criado
-foram expulsos ou fugiram durante a guerra árabe-israelense
que se seguiu à rejeição árabe da
partilha da Palestina britânica feita pela ONU. Os refugiados vivem
em acampamentos com casas de
infra-estrutura precária.
Antes da atual Intifada, muitos
palestinos de Gaza trabalhavam
em Israel, mas, com o fechamento
da fronteira, essa fonte secou. "O
desemprego nos acampamentos é
de 70%", diz Yousef Abu Safieh,
ele mesmo refugiado de Gaza,
apesar de ser ministro do Ambiente da ANP. Os moradores dependem de ajuda internacional.
A maioria dos refugiados tem
menos de 18 anos, e, devido à falta
de perspectivas, os acampamentos são um local onde grupos terroristas como o Hamas têm boa
penetração. Por isso, os acampamentos, tanto na Cisjordânia
quanto em Gaza, têm sido alvo de
incursões do Exército israelense.
O governo Sharon anunciou
que se retirará unilateralmente de
Gaza nos próximos meses e desmantelará as colônias judaicas na
região. É uma reivindicação dos
palestinos, mas a ANP quer que a
retirada faça parte de um acordo
amplo, com base no plano de paz
aceito pelas duas partes, mas não
implementado.
O governo israelense sustenta
que a retirada diminuirá a tensão
na região e dará uma nova dinâmica ao processo de paz.
(OD)
O jornalista Otávio Dias viajou a convite
da representação diplomática da Autoridade Nacional Palestina em Brasília.
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