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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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Crise aproxima a Argentina do Brasil

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

A aproximação da Argentina com o Brasil e o aprofundamento do Mercosul, prometidos pelo presidente eleito Néstor Kirchner e por seu futuro chanceler, Rafael Bielsa, são o único caminho viável para a política externa argentina, na avaliação de analistas dos dois países ouvidos pela Folha.
Para eles, as circunstâncias devem forçar ainda a Argentina a deixar de lado as rivalidades históricas para assumir a condição de parceiro menor do vizinho.
"A aproximação com o Brasil é necessária para a Argentina", avalia o cientista político argentino Atílio Borón, secretário-executivo do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais). Para ele, a fragilização do país devido à crise econômica torna qualquer outra opção inviável.
A visão é compartilhada com Alberto Pfeifer, do Nupri (Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP) e diretor-executivo do Ceal (Conselho de Empresários da América Latina). "A opção pela aliança com o Brasil é pragmática. A Argentina tem hoje credibilidade econômica e política internacional baixíssima", diz, acrescentando que o país não teria condições hoje, por essa razão, de repetir a política externa do ex-presidente Carlos Menem, de alinhamento total com os EUA.
"Os EUA não têm interesse em negociar a Alca bilateralmente com a Argentina, e os próprios argentinos não admitiriam essa atitude", avalia Janina Onuki, professora de relações internacionais da PUC-SP e pesquisadora do Nupri.

Posição de inferioridade
Para o cientista político argentino Ariel Armony, pesquisador do Woodrow Wilson International Center for Scholars, de Washington, e professor do Colby College, a Argentina dará um passo muito importante se deixar de lado a soberba, reconhecer que está em uma posição débil e se aliar ao Brasil como seu parceiro menor. "Estão dadas as condições para que a Argentina reorganize o seu posicionamento no hemisfério", diz. "O diagnóstico de Kirchner é acertado. Esse é o caminho a seguir", afirma.
Para Janina Onuki, a Argentina "já assumiu a condição de parceiro menor" e não tem "a menor condição de reivindicar uma posição maior, pois depende do Brasil para ampliar sua inserção internacional". Para ela, uma eventual rivalidade entre os dois países não impediria a aliança. "As rivalidades efetivamente relevantes -de disputa da hegemonia política e territorial na região- já foram superadas", diz.
Na avaliação de Atílio Borón, não existem hoje mais rivalidades entre a Argentina e o Brasil "além do futebol". "Há um mito em relação a essa rivalidade. O que existe é uma competição como a que há na União Européia, por exemplo, entre os produtores rurais da França com os da Alemanha", diz.
Para ele, o fortalecimento do Mercosul para a negociação da Alca pode impedir que ela se torne "um simples projeto de anexação", como aconteceria, segundo ele, se cada um dos países negociasse diretamente com os EUA. "Os dois países têm muito a ganhar se trabalharem juntos e muito a perder se ficarem separados."

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