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Crise aproxima a Argentina do Brasil
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
A aproximação da Argentina
com o Brasil e o aprofundamento
do Mercosul, prometidos pelo
presidente eleito Néstor Kirchner
e por seu futuro chanceler, Rafael
Bielsa, são o único caminho viável
para a política externa argentina,
na avaliação de analistas dos dois
países ouvidos pela Folha.
Para eles, as circunstâncias devem forçar ainda a Argentina a
deixar de lado as rivalidades históricas para assumir a condição
de parceiro menor do vizinho.
"A aproximação com o Brasil é
necessária para a Argentina", avalia o cientista político argentino
Atílio Borón, secretário-executivo
do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais).
Para ele, a fragilização do país devido à crise econômica torna
qualquer outra opção inviável.
A visão é compartilhada com
Alberto Pfeifer, do Nupri (Núcleo
de Pesquisa em Relações Internacionais da USP) e diretor-executivo do Ceal (Conselho de Empresários da América Latina). "A opção pela aliança com o Brasil é
pragmática. A Argentina tem hoje
credibilidade econômica e política internacional baixíssima", diz,
acrescentando que o país não teria condições hoje, por essa razão,
de repetir a política externa do ex-presidente Carlos Menem, de alinhamento total com os EUA.
"Os EUA não têm interesse em
negociar a Alca bilateralmente
com a Argentina, e os próprios argentinos não admitiriam essa atitude", avalia Janina Onuki, professora de relações internacionais
da PUC-SP e pesquisadora do
Nupri.
Posição de inferioridade
Para o cientista político argentino Ariel Armony, pesquisador do
Woodrow Wilson International
Center for Scholars, de Washington, e professor do Colby College,
a Argentina dará um passo muito
importante se deixar de lado a soberba, reconhecer que está em
uma posição débil e se aliar ao
Brasil como seu parceiro menor.
"Estão dadas as condições para
que a Argentina reorganize o seu
posicionamento no hemisfério",
diz. "O diagnóstico de Kirchner é
acertado. Esse é o caminho a seguir", afirma.
Para Janina Onuki, a Argentina
"já assumiu a condição de parceiro menor" e não tem "a menor
condição de reivindicar uma posição maior, pois depende do Brasil para ampliar sua inserção internacional". Para ela, uma eventual rivalidade entre os dois países
não impediria a aliança. "As rivalidades efetivamente relevantes
-de disputa da hegemonia política e territorial na região- já foram superadas", diz.
Na avaliação de Atílio Borón,
não existem hoje mais rivalidades
entre a Argentina e o Brasil "além
do futebol". "Há um mito em relação a essa rivalidade. O que existe é uma competição como a que
há na União Européia, por exemplo, entre os produtores rurais da
França com os da Alemanha", diz.
Para ele, o fortalecimento do
Mercosul para a negociação da
Alca pode impedir que ela se torne "um simples projeto de anexação", como aconteceria, segundo
ele, se cada um dos países negociasse diretamente com os EUA.
"Os dois países têm muito a ganhar se trabalharem juntos e muito a perder se ficarem separados."
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