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EUA esperam pragmatismo à Lula
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os EUA esperam que o mesmo
"pragmatismo de sobrevivência"
em vigor no Brasil contamine
Néstor Kirchner, que assume hoje
a Presidência da Argentina.
Na visão americana, a Argentina apenas parece estar muito melhor do que já esteve. O fato é que
o país continua em moratória, foi
banido do mercado internacional
e vem apresentando uma recuperação ainda muito lenta.
Na visão do Departamento de
Estado americano, se quiser sobreviver dentro das regras democráticas, Kirchner terá não apenas
de abandonar a retórica populista
como de reatar um diálogo sério
com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Os EUA estão dispostos a ajudar. Interessa aos americanos que
a Argentina volte à estabilidade
democrática depois do turbilhão
político dos dois últimos anos.
Anteontem, o presidente George
W. Bush telefonou para Kirchner.
Além de felicitá-lo, fez também
um convite para que o argentino
visite a Casa Branca após a posse.
Na visão de especialistas ouvidos pela Folha, Kirchner deveria
aproveitar a chance.
""Não há muita gente interessada na Argentina. Uma estratégia
de confronto agora, principalmente com o FMI, será um tiro no
pé", diz Miguel Diaz, diretor para
América do Sul e Mercosul do
Centro Internacional de Estudos
Estratégicos de Washington.
Em setembro, termina o atual
acordo da Argentina com o Fundo, e o país, em tese, terá de fazer
um desembolso de US$ 3,2 bilhões. Se o acordo for renovado, a
dívida poderá ser rolada.
Frederick Jasperson, diretor para a América Latina do Instituto
de Finanças Internacionais, afirma que o fundamental é que a Argentina reinicie imediatamente o
processo de reformas para ""ganhar confiança e sustentar a atual
fase de crescimento", considerada
ainda muito frágil.
A mesma demanda foi feita nesta semana pelo próprio FMI. Segundo o seu porta-voz, Thomas
Dawson, ""há muitas questões estruturais a serem revolvidas" na
Argentina. Embora o país venha
projetando uma taxa de crescimento de 4% neste ano, o PIB
(Produto Interno Bruto) caiu
mais de 22% desde 1998.
A tendência de valorização do
peso sobre o dólar também é vista
como artificial, já que a Argentina
não está pagando seus compromissos em dólar com o exterior.
A aproximação entre Kirchner e
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva tem duas leituras para os
americanos. A negativa é que é
mais um obstáculo nos planos
dos EUA para finalizar a Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) no prazo -até janeiro
de 2005. A positiva, que prevalece,
é que Lula tem sido considerado
um exemplo na condução econômica, e o Brasil, na continuação
do processo democrático.
A aposta dos EUA é que Kirchner siga o mesmo caminho e reconstrua a política argentina.
Nesse sentido, a derrota eleitoral do ex-presidente Carlos Menem, cujo governo chegou a confessar no passado ""relações carnais" com os EUA, não foi mal recebida. Na última campanha,
além da fama de corrupto, os
americanos agregaram a Menem
a pecha de ""antiquado".
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