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GUERRA SEM LIMITES
Para Gunaratna, que tem livro sobre a rede, terror pode crescer em regiões menos visadas, inclusive na AL
Al Qaeda amplia leque de alvos, diz autor
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Apesar de ter perdido cerca de
dois terços de seus efetivos e de
sua liderança estar sob intensa
perseguição desde os atentados
de 11 de setembro de 2001, a rede
Al Qaeda intensificou sua colaboração com grupos terroristas associados e busca ampliar seu leque de alvos potenciais.
"É como uma colônia de abelhas: quando você ataca a colméia,
as abelhas se dispersam e se reorganizam em outros locais", diz
Rohan Gunaratna, autor do livro
"Inside Al Qaeda - Global Network of Terror" (dentro da Al
Qaeda - rede global do terror), da
Columbia University Press.
Os atentados suicidas em Casablanca (Marrocos), no último dia
16, podem ser um exemplo dessa
colaboração com grupos locais.
Segundo a Associated Press,
com base em fontes do governo
marroquino, os ataques -que
mataram 29 pessoas, além de 12
terroristas- teriam sido idealizados e financiados pela Al Qaeda,
que transferiu US$ 50 mil para
contatos em Marrocos meses
atrás. O restante da operação teria
sido puramente marroquina.
Também há suspeitas de que os
ataques em Riad (Arábia Saudita), que mataram 34 pessoas (inclusive nove suicidas) no dia 12,
sejam de responsabilidade da rede terrorista de Osama bin Laden.
Segundo Gunaratna, os membros da Al Qaeda ainda ativos trabalharão cada vez mais com grupos em áreas menos visadas do
mundo. "A América Latina, em
especial a Tríplice Fronteira, não
está imune ao terrorismo internacional", diz. Os EUA já alertaram
para a existência de atividades ligadas ao terror na fronteira entre
Brasil, Argentina e Paraguai, mas
o Brasil diz não ter indícios.
Originário do Sri Lanka, Rohan
Gunaratna é pesquisador do Centro para o Estudo de Terrorismo e
Violência Política da Universidade de St. Andrews (Escócia). Leia
entrevista concedida por telefone
de Cingapura (Sudeste Asiático).
Folha - Qual é sua avaliação sobre
os resultados da guerra contra o
terrorismo, liderada pelos EUA?
Gunaratna - É um sucesso parcial. Os EUA, trabalhando com
quase cem países, têm tido êxito
em desmantelar a infra-estrutura
da Al Qaeda. Em 98 países, quase
3.000 suspeitos de pertencer à rede foram presos, inclusive figuras-chave como Khalid Sheik Mohammed [suspeito de ser um dos
principais organizadores dos ataques contra o World Trade Center e o Pentágono]. Osama bin Laden [líder máximo da rede] e Ayman al Zawahiri [número dois da
organização] continuam vivos,
mas, sob intensa perseguição,
perderam o controle tático sobre
os membros da organização.
Folha - Foi um prejuízo definitivo
ou a rede se recuperará?
Gunaratna - Será muito difícil
substituir quadros tão experientes. Mas, a médio e a longo prazo,
os membros da Al Qaeda passarão a trabalhar com grupos terroristas associados, ativos no Oriente Médio, na Ásia, na África e na
Europa. Isso elevará a capacidade
técnica desses grupos. Enquanto
o coração da Al Qaeda está sob
ataque no Paquistão e no Afeganistão, a periferia fica mais forte.
Folha - A Al Qaeda ganhou muito
de sua fama porque atacou símbolos americanos, como o World Trade Center (duas vezes) e o Pentágono. A rede se contentará em atacar
alvos menos impactantes?
Gunaratna -Seu objetivo é atacar
alvos simbólicos e estratégicos de
grande prestígio. Pois quer sinalizar o caminho. Mas está muito difícil atacar nos EUA. Provavelmente veremos a rede operando
contra um vasto leque de alvos.
Membros experientes da Al Qaeda agem no Oriente Médio, no
Cáucaso, nos Bálcãs, no Sudeste
Asiático e na África. Mais grupos
estão recebendo novas idéias e capacidades. Nem a América Latina
está imune, pois a Al Qaeda tem
presença na Tríplice Fronteira.
Folha - Que elementos o sr. tem
para dizer isso?
Gunaratna - Há informações de
que células da Al Qaeda na Europa têm feito contatos com apoiadores na América Latina. A Tríplice Fronteira tem sido principalmente uma zona não operativa, que visa gerar financiamento e
apoio. Serve de passagem de recursos originários dos EUA e destinados ao Oriente Médio. E existe
um pequeno grau de apoio de
simpatizantes. A escala desse
apoio pode crescer, e as células
podem passar por uma mutação.
Folha - Então a ameaça terrorista
não está diminuindo?
Gunaratna - Diminuiu a curto
prazo, mas crescerá a médio e
longo prazo. Inclusive porque os
EUA focalizaram sua campanha
principalmente no campo militar.
Têm tido problemas em combater o financiamento do terrorismo, cujo fluxo de recursos é difícil
de trilhar, e estão fracassando na
guerra ideológica. Para impedir o
crescimento do extremismo, é
preciso trabalhar com os países islâmicos, seus líderes comunitários, educadores, organizações de
mídia e ONGs. É preciso ganhar o
apoio das pessoas. A guerra contra o Iraque não levou essa dimensão em consideração. Os
EUA estão criando mais inimigos.
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