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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA DO MEDO
Fala de assessor sobre 11 de Setembro põe McCain na berlinda
Charles Black disse que novo ataque favoreceria candidatura de republicano; veterano do Vietnã diz que idéia "não é verdade"
Campanha de Obama diz que tal declaração "é uma vergonha"; ex-lobista de ditadores, Black já provocou polêmica na corrida eleitoral
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A teoria de que um novo
atentado terrorista nos EUA favoreceria o republicano John
McCain na disputa pela Presidência do país, com a qual concorda grande parte dos analistas, se voltou nesta semana
contra o candidato, ao ser mencionada pelo estrategista-chefe
de sua campanha.
Charlie Black declarou à revista "Fortune" que um ataque
renderia "uma grande vantagem" nas urnas para McCain,
ex-piloto da Marinha vindo de
família de militares e ex-prisioneiro de guerra no Vietnã.
O comentário causou polêmica e foi condenado ontem
pela campanha do democrata
Barack Obama. Cerca de 3.000
pessoas morreram nos ataques
do 11 de Setembro, em 2001.
"O fato de o principal conselheiro de McCain dizer que um
ataque terrorista em solo americano seria uma "grande vantagem" para sua campanha política é uma vergonha e exatamente o tipo de política que precisa
mudar", declarou o porta-voz
Bill Bourton. "Barack Obama
vai virar a página dessas políticas falidas (...) para que possamos unir esta nação e terminar
a luta contra a Al Qaeda."
Em evento sobre energia na
Califórnia, McCain comentou a
fala do assessor. "Não posso
imaginar por que ele diria isso.
Isso não é verdade."
Black se desculpou. "Eu me
arrependo profundamente dos
comentários, eles foram inapropriados", disse o personagem polêmico da campanha republicana. Lobista durante décadas, Black representou em
Washington interesses de ex-ditadores como Ferdinand
Marcos (Filipinas), Joseph Mobutu (Zaire, atual República
Democrática do Congo) e Mohamed Siad Barre (Somália). A
ONG MoveOn, que apóia os democratas, chegou a liderar uma
campanha por sua demissão.
Para o cientista político Lawrence Mead, da Universidade
de Nova York, é difícil crer que
McCain discorde do comentário. "McCain seria claramente
favorecido por um ataque terrorista e sabe disso. Há muitos
eleitores que votariam em Obama apesar de achá-lo inexperiente. O medo do terrorismo
poderia mudar esses votos."
Para Mead, em um possível
cenário em que o país sofresse
ou passasse a temer um ataque,
o nome do presidente John F.
Kennedy (1961-1963) seria provavelmente evocado pelos dois
lados da disputa. "McCain poderia argumentar que Kennedy, muito inexperiente, comandou o fiasco da invasão à
baía dos Porcos, em Cuba
[1961]. Mas Obama pode lembrar de como Kennedy foi brilhante na Crise dos Mísseis de
Cuba [em 1962, quando os EUA
descobriram que a URSS instalara mísseis nucleares na ilha]."
Combustíveis
Com o preço da gasolina nas
alturas, McCain e Obama duelaram ontem em discursos sobre política energética. O democrata criticou a proposta do
rival de investir na busca por
petróleo em alto-mar e o projeto de fomentar a construção de
novos reatores nucleares.
Já Brian Rogers, porta-voz
do rival, disse que Obama é o
"Dr. No" da segurança energética, em alusão ao cientista louco do filme de 007, mas também por dizer "no" ("não") a
propostas de McCain no tema.
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