|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO NOS EUA
Apesar de todos os problemas de Bush, virtual candidato democrata não consegue abrir vantagem na disputa
Kerry tenta usar convenção para "decolar"
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON
A corrida eleitoral norte-americana ganhará novo ritmo a partir
de amanhã, quando o virtual adversário de George W. Bush, o senador democrata John Kerry, der
a sua principal cartada até aqui na
atual campanha pelo cargo mais
poderoso do planeta.
O Partido Democrata promove,
de amanhã a quinta-feira, a sua
Convenção Nacional em Boston.
A nomeação formal de Kerry será
uma oportunidade especial para o
senador por Massachusetts, de 60
anos, tentar ""decolar" de uma vez
por todas.
Na mesma semana, o comitê de
campanha de Bush promoverá a
mais ambiciosa agenda de viagens e eventos realizada até agora
na esperança de neutralizar a visibilidade que Kerry deverá conquistar.
Bush e seu vice, Dick Cheney,
percorrerão dezenas de Estados e
deverão dobrar o ritmo de anúncios de TV em várias localidades
no período.
Apesar de ter se tornado virtual
candidato do partido há mais de
quatro meses, Kerry segue tecnicamente empatado com Bush, segundo as principais pesquisas.
Os últimos meses coincidiram
com uma série de más notícias
para o presidente republicano,
nos EUA e no Iraque. Mesmo assim, Kerry ficou empacado.
O democrata oscilou entre 46%
e 49% das intenções de voto entre
abril e julho, segundo pesquisa
CBS News/"The New York Times". Bush iniciou e terminou o
mesmo período com 44%, tecnicamente empatado com Kerry.
O comitê de campanha democrata preparou o cenário da convenção esperando a ""virada". Biografias de Kerry e de seu recém-escolhido vice, John Edwards, 51,
senador pela Carolina do Norte,
serão esmiuçadas e vários medalhões do partido defenderão um
discurso de mudança.
É muito pouco provável, no entanto, que Kerry repita a façanha
de seu colega de partido, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001).
Em 1992, Clinton entrou quase
desacreditado na convenção em
Nova York que o apontaria como
candidato para enfrentar os planos de reeleição do então presidente dos EUA, George Bush
(1989-93).
Quatro dias depois, Clinton sairia do Madison Square Garden
com nada menos que 24 pontos
percentuais de vantagem sobre
Bush pai -que, mais tarde, seria
derrotado nas urnas.
Na época, Clinton foi ajudado
pela desistência, no meio do evento, do candidato independente
Ross Perot e por uma cobertura
monumental das redes de TV,
que prometem ser bem mais contidas neste ano.
Kerry também não terá o seu
Ross Perot em 2004. Mas tem como pedra adicional em seu sapato
Ralph Nader, candidato independente, acusado de ter tirado votos
do democrata Al Gore na disputa
contra Bush em 2000.
Como Clinton em 1992, Kerry
contratou um diretor de Hollywood, James Smoll (recomendado por Steven Spielberg), para
realizar o filme que vai apresentá-lo ao público. O democrata trouxe
também a Boston a mulher, a família, vários amigos e dezenas de
veteranos que lutaram a seu lado
no Vietnã.
O principal problema de Kerry,
no entanto, é que ele já vem sendo
mostrado aos eleitores antecipadamente como nenhum outro ex-candidato a presidente da história
dos EUA -com a exceção óbvia
dos ex-presidentes que concorreram à reeleição.
Nos últimos 18 meses, Kerry
participou de quase 50 debates
públicos e na TV até obter a nomeação informal do partido, em
março passado.
A partir daí, gastou mais de US$
80 milhões em anúncios de campanha e vem ilustrando com freqüência capas de revistas e de jornais americanos.
Embora pesquisas apontem para evidências de que o eleitor
americano deseja mudar os rumos políticos do país, Kerry não
foi capaz, até agora, de se transformar em um reservatório para
esse sentimento.
Isso ainda não ocorreu de maneira definitiva a despeito até do
surpreendente desempenho de
arrecadação de fundos do candidato democrata.
Nos primeiros seis meses de
2004, Kerry arrecadou US$ 160
milhões, posicionando-se como o
mais bem-sucedido democrata da
história nesse quesito.
O valor superou os US$ 95 milhões obtidos por Bush no período, revelando uma considerável
redução no ritmo da máquina republicana depois de ter atingido a
cifra de US$ 200 milhões em fundos arrecadados em abril.
Apesar de tudo, é incontestável
que o democrata ainda não conseguiu se distanciar do presidente.
No comitê de campanha de
Bush, a grande expectativa é que a
pior fase do presidente já tenha
começado a ficar para trás.
Com a transmissão do comando político no Iraque (ainda que
discutível na prática) dos americanos aos iraquianos e com a economia em recuperação, Bush espera agora enfatizar todas as
"conquistas" de seu mandato.
A tecla de que os EUA se tornaram um lugar mais seguro com as
ações pós-11 de Setembro será cada vez mais acionada, enquanto,
na prática, a vida cotidiana dos
americanos vai se tornando paulatinamente mais confortável
com uma lenta, embora consistente, recuperação econômica.
A maior arma política do arsenal republicano, a acusação de
que Kerry não passa de um ""esquerdista gastador", como dizem
os anúncios de Bush, também será reforçada e repetida, principalmente nas próximas semanas.
Dentro de um mês, será a vez de
Bush voltar com força à cena, durante os quatro dias da Convenção Nacional do Partido Republicano, em Nova York.
A semana que começa hoje será
fundamental para Kerry tentar
ganhar um pouco mais de um terreno que poderá voltar a perder
mais à frente.
Texto Anterior: Autora de Harry Potter anuncia sua 3ª gravidez Próximo Texto: Senador busca apagar imagem de falta de firmeza Índice
|