São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Apesar de todos os problemas de Bush, virtual candidato democrata não consegue abrir vantagem na disputa

Kerry tenta usar convenção para "decolar"

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

A corrida eleitoral norte-americana ganhará novo ritmo a partir de amanhã, quando o virtual adversário de George W. Bush, o senador democrata John Kerry, der a sua principal cartada até aqui na atual campanha pelo cargo mais poderoso do planeta.
O Partido Democrata promove, de amanhã a quinta-feira, a sua Convenção Nacional em Boston. A nomeação formal de Kerry será uma oportunidade especial para o senador por Massachusetts, de 60 anos, tentar ""decolar" de uma vez por todas.
Na mesma semana, o comitê de campanha de Bush promoverá a mais ambiciosa agenda de viagens e eventos realizada até agora na esperança de neutralizar a visibilidade que Kerry deverá conquistar.
Bush e seu vice, Dick Cheney, percorrerão dezenas de Estados e deverão dobrar o ritmo de anúncios de TV em várias localidades no período.
Apesar de ter se tornado virtual candidato do partido há mais de quatro meses, Kerry segue tecnicamente empatado com Bush, segundo as principais pesquisas.
Os últimos meses coincidiram com uma série de más notícias para o presidente republicano, nos EUA e no Iraque. Mesmo assim, Kerry ficou empacado.
O democrata oscilou entre 46% e 49% das intenções de voto entre abril e julho, segundo pesquisa CBS News/"The New York Times". Bush iniciou e terminou o mesmo período com 44%, tecnicamente empatado com Kerry.
O comitê de campanha democrata preparou o cenário da convenção esperando a ""virada". Biografias de Kerry e de seu recém-escolhido vice, John Edwards, 51, senador pela Carolina do Norte, serão esmiuçadas e vários medalhões do partido defenderão um discurso de mudança.
É muito pouco provável, no entanto, que Kerry repita a façanha de seu colega de partido, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001).
Em 1992, Clinton entrou quase desacreditado na convenção em Nova York que o apontaria como candidato para enfrentar os planos de reeleição do então presidente dos EUA, George Bush (1989-93).
Quatro dias depois, Clinton sairia do Madison Square Garden com nada menos que 24 pontos percentuais de vantagem sobre Bush pai -que, mais tarde, seria derrotado nas urnas.
Na época, Clinton foi ajudado pela desistência, no meio do evento, do candidato independente Ross Perot e por uma cobertura monumental das redes de TV, que prometem ser bem mais contidas neste ano.
Kerry também não terá o seu Ross Perot em 2004. Mas tem como pedra adicional em seu sapato Ralph Nader, candidato independente, acusado de ter tirado votos do democrata Al Gore na disputa contra Bush em 2000.
Como Clinton em 1992, Kerry contratou um diretor de Hollywood, James Smoll (recomendado por Steven Spielberg), para realizar o filme que vai apresentá-lo ao público. O democrata trouxe também a Boston a mulher, a família, vários amigos e dezenas de veteranos que lutaram a seu lado no Vietnã.
O principal problema de Kerry, no entanto, é que ele já vem sendo mostrado aos eleitores antecipadamente como nenhum outro ex-candidato a presidente da história dos EUA -com a exceção óbvia dos ex-presidentes que concorreram à reeleição.
Nos últimos 18 meses, Kerry participou de quase 50 debates públicos e na TV até obter a nomeação informal do partido, em março passado.
A partir daí, gastou mais de US$ 80 milhões em anúncios de campanha e vem ilustrando com freqüência capas de revistas e de jornais americanos.
Embora pesquisas apontem para evidências de que o eleitor americano deseja mudar os rumos políticos do país, Kerry não foi capaz, até agora, de se transformar em um reservatório para esse sentimento.
Isso ainda não ocorreu de maneira definitiva a despeito até do surpreendente desempenho de arrecadação de fundos do candidato democrata.
Nos primeiros seis meses de 2004, Kerry arrecadou US$ 160 milhões, posicionando-se como o mais bem-sucedido democrata da história nesse quesito.
O valor superou os US$ 95 milhões obtidos por Bush no período, revelando uma considerável redução no ritmo da máquina republicana depois de ter atingido a cifra de US$ 200 milhões em fundos arrecadados em abril.
Apesar de tudo, é incontestável que o democrata ainda não conseguiu se distanciar do presidente.
No comitê de campanha de Bush, a grande expectativa é que a pior fase do presidente já tenha começado a ficar para trás.
Com a transmissão do comando político no Iraque (ainda que discutível na prática) dos americanos aos iraquianos e com a economia em recuperação, Bush espera agora enfatizar todas as "conquistas" de seu mandato.
A tecla de que os EUA se tornaram um lugar mais seguro com as ações pós-11 de Setembro será cada vez mais acionada, enquanto, na prática, a vida cotidiana dos americanos vai se tornando paulatinamente mais confortável com uma lenta, embora consistente, recuperação econômica.
A maior arma política do arsenal republicano, a acusação de que Kerry não passa de um ""esquerdista gastador", como dizem os anúncios de Bush, também será reforçada e repetida, principalmente nas próximas semanas.
Dentro de um mês, será a vez de Bush voltar com força à cena, durante os quatro dias da Convenção Nacional do Partido Republicano, em Nova York.
A semana que começa hoje será fundamental para Kerry tentar ganhar um pouco mais de um terreno que poderá voltar a perder mais à frente.


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