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Negócios norteavam diplomacia americana
DA REDAÇÃO
As comunicações entre o Departamento de Estado e a Embaixada dos EUA em Buenos Aires
durante o período da "guerra suja" na Argentina revelam que
ideologia e negócios caminhavam
lado a lado entre as prioridades da
diplomacia americana.
Enquanto parte dos documentos deixa claro os esforços de
Washington para obter o apoio
argentino contra a União Soviética, dentro do espectro da Guerra
Fria, dezenas de telegramas demonstram o empenho dos diplomatas para preservar os interesses
corporativos americanos no país.
Em alguns casos, as fronteiras
entre o poder público do governo
dos EUA e o poder privado de
suas corporações pareciam inexistir.
Em fevereiro de 1981, por exemplo, o secretário de Estado Alexander Haig se encontrou com
Henry Ford 2º, neto e herdeiro do
fundador da indústria automotiva Ford. Não se tratava apenas de
um evento social: o empresário se
preparava para uma viagem de
negócios a Brasil, Argentina e
Uruguai. Havia agendado encontros com os presidentes desses
três países.
Haig recebera do embaixador
americano em Buenos Aires um
relatório sobre o estado das relações EUA-Argentina naquele momento e uma lista de assuntos do
interesse estratégico que deveria
relatar a Ford, para que este pudesse, por sua vez, discutir com o
presidente argentino.
Assim, o empresário embarcou
para Buenos Aires encarregado
de passar os seguintes recados:
"Nós [os EUA" esperamos melhorar as relações em todos os campos; buscamos maior cooperação
do governo argentino em assuntos Leste-Oeste [Guerra Fria", como o embargo parcial de grãos;
avanços nos direitos humanos
continuam a ser importantes,
mas serão perseguidos de forma
menos abrasiva".
Enquanto o empresário fazia
avançar a agenda diplomática, os
diplomatas defendiam os seus interesses empresariais. Numa
"análise da situação política com
relação à crise militar", redigida
em setembro de 1975 pela embaixada na Argentina, o autor explica "por que os EUA devem se importar" com a crise que levaria o
país à ditadura militar.
"Os EUA têm importantes interesses na Argentina. Os mais tangíveis estão na forma de US$ 1,5
bilhão que temos aqui em investimentos privados", relata o texto.
A defesa desses dólares se refletia também na preocupação dos
funcionários do Departamento
de Estado com a segurança dos
executivos de grandes empresas
americanas como a Ford e a
Chrysler, alvos de ataques e ameaças dos grupos armados de esquerda.
Um memorando interno da
embaixada americana relata, por
exemplo, os detalhes do assassinato, em 1975, de Jorge Kenny,
um argentino que era diretor de
marketing da Chrysler. "Kenny,
que tomava café da manhã, foi
metralhado através de uma grande janela. (...) Não foi deixado nenhum indício sobre qual organização foi responsável."
(MS)
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