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EUA
Instituição começa a funcionar no fim de setembro, na Quinta Avenida, retratando a evolução de hábitos e costumes sexuais
NY ganha o seu primeiro museu do sexo
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Procurando bem, Nova York
tem museus para todos os gostos.
Desde o improvável Newseum
(de notícias, uma contradição em
termos) ao latino Museu del Barrio, no Harlem hispânico, passando pela filial do britânico de cera
Madame Tussaud e por dois da
criança. Faltava um do sexo.
Amsterdã tem, Paris tem, até
mesmo Praga e Xangai têm. Nova
York já quis ter, mas o reinado do
pudico Rudolph Giuliani, que comandou a cidade de 1992 a dezembro passado, não inspirava os
investidores a abrir os bolsos.
Afinal, apesar de ter governado
quase todo o tempo ao lado de sua
amante enquanto permanecia casado, foi o republicano que proibiu, tentou proibir ou puniu museus que exibiram mostras polêmicas, como a que trazia uma Virgem Maria feita de fezes.
Foi preciso que o liberal Michael
Bloomberg assumisse a prefeitura
em janeiro deste ano para que o
empresariado voltasse a sorrir para a idéia. Do outro lado do balcão
estava Daniel Gluck, que vinha
tentando criar a instituição havia
pelo menos quatro anos.
"É claro que estávamos preocupados com Giuliani, mas creio
que qualquer prefeito iria acabar
percebendo que somos um ganho
para a cidade mais do que qualquer coisa", disse o fundador e
primeiro diretor do Museu do Sexo, em entrevista à Folha.
Aos 34 anos, o ex-proprietário
de uma empresa de softwares
anuncia a exposição inaugural
para o final de setembro, ainda na
sede provisória, um prédio no número 233 da Quinta Avenida, esquina com a rua 27 (veja o site
www.mosex.com).
O título é "NYC Sex - How New
York City Transformed Sex in
America" (Sexo de NYC - Como a
Cidade de Nova York Transformou o Sexo na América"). E ele já
pede que o lugar seja chamado
pelo apelido, MoSex, como seu vizinho famoso, o MoMA (Museum of Modern Art).
Gluck prevê que 100 mil pessoas
venham a visitar a mostra em seus
dez meses em cartaz e que isso
derrubará os argumentos dos investidores mais receosos, principalmente os que se preocupam
que, após 11 de setembro, a cidade
não se sinta especialmente sexy.
"Nova York é irrefreável, as pessoas não pararam de se interessar
por sexo por causa do terrorismo", disse. "Não é à toa que somos conhecidos desde o século 19
como "a Sodoma do Hudson"."
Ele afirma ter se inspirado no
mesmo conceito do considerado
criador do primeiro Museu do Sexo contemporâneo, o sexólogo
alemão Magnus Hirschfeld, no
começo do século passado.
"A idéia dele era exibir a obra e
os trabalhos dos nomes mais à
vanguarda daquela época, gente
como Freud e os surrealistas, que
fazem parte do establishment hoje, mas que, na época, não eram
unanimidade", afirmou.
A exposição de abertura começa com informações sobre o assassinato de Helen Jewett, uma
prostituta morta a machadadas
em 1830, supostamente a primeira vítima de um escândalo sexual
em Nova York. Com textos, fotos
e curtas do início do século 20, retratará ainda a evolução dos hábitos e dos costumes sexuais.
Outra tratará da mudança nas
leis sobre prostituição e obscenidade. "Pretendemos pensar o sexo, mais do que mostrá-lo", disse.
"Minha idéia é fazer um "Smithsonian do sexo'", completou, referindo-se à veneranda instituição.
Smithsonian ou não, Gluck encontrou resistências em todas as
esferas. O Conselho de Dirigentes
do Estado, que supervisiona instituições culturais sem fins lucrativos, por exemplo, disse que não
aceitaria a inscrição do MoSex se
a palavra "museu" fosse usada.
Para contornar, a entidade foi
registrada como uma empresa
normal. Não por acaso, os ingressos iniciais sairão a US$ 17.
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