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ELEIÇÃO NA COLÔMBIA
Crime é fonte financeira e política de grupos armados; Farc detêm um governador e uma presidenciável
País tem média de 7 sequestros diários
DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA
"A Colômbia é um país sequestrado." A frase, recorrente na boca de políticos, analistas e meios
de comunicação é o resultado de
números impressionantes que
aumentam na proporção da ampliação do conflito armado.
Somente nos primeiros quatro
meses deste ano, 851 pessoas foram sequestradas na Colômbia
(média superior a sete por dia).
No ano passado, foram 3.041 sequestros. São cifras que colocam o
país como o local onde mais ocorrem sequestros no mundo.
"Vivemos com medo de sequestro e gastamos milhões em blindagem de carro, em medidas de
segurança", lamenta o empresário Juan Rodrigo Hurtado, 35, dono de uma empresa de telecomunicações em Medellín (centro-oeste do país). "É tempo e dinheiro que poderiam estar sendo investidos em outras coisas", diz.
O sequestro é, ao lado do narcotráfico, fonte importante de recursos para os grupos armados
ilegais. Segundo dados oficiais, as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN
(Exército de Libertação Nacional), os dois principais grupos
guerrilheiros de esquerda, foram
responsáveis, juntos, por 58% dos
sequestros no ano passado.
Os sequestros cometidos por
grupos paramilitares -criados
para combater a guerrilha- representaram 9%, enquanto aqueles atribuídos à delinquência comum foram 10%. Dos casos de
2001, 19% têm a autoria indefinida.
Esse tipo de crime afeta tal porcentagem da população que dois
dos programas de rádio de maior
audiência no país são destinados
a que familiares de sequestrados
enviem mensagens aos parentes.
"O programa serve como terapia para as famílias que passam
por uma situação difícil de ter um
parente sequestrado e se juntam
para compartilhar a dor entre
eles", afirma Julieta Pescatore,
coordenadora do programa "Em
Busca da Liberdade Perdida", realizado pela Fundação País Libre e
transmitido três vezes por semana. Segundo ela, muitos dos sequestrados libertados contam ter
ouvido as mensagens dos parentes enquanto estavam em cativeiro.
O governo afirma que o combate a esse tipo de crime é uma de
suas prioridades, mas, até agora,
não houve resultados efetivos. "O
sequestro só chegou a essas proporções na Colômbia porque os
grupos ilegais o assumiram como
forma de financiamento", afirma
Juan Francisco Mesa Torres, diretor do Fondelibertad, órgão do
governo que coordena as ações
anti-sequestro. "São grupos muito mais estruturados que a delinquência comum, o que torna o
combate muito mais difícil", diz.
Segundo ele, a orientação do governo está na identificação e prisão dos criminosos. "Cada prisão
pode prevenir até 50 sequestros."
Além da motivação econômica,
os sequestros servem como instrumento de pressão contra o governo. As Farc têm em seu poder
um governador, cinco congressistas, dois ex-ministros, 12 deputados departamentais e uma candidata à Presidência. A guerrilha
exige, para libertá-los, a soltura de
rebeldes presos pelo governo.
"Estamos em total abandono
por parte do governo", lamenta a
advogada Patricia Perdomo, 32,
cuja mãe, a deputada Consuelo
González de Perdomo, 51, foi sequestrada numa estrada do Departamento de Huila (sul) em 15
de fevereiro. "Acho que uma troca de presos é difícil, mas poderiam fazer um acordo humanitário para libertar os sequestrados."
Segundo Juan Francisco Mesa,
uma troca é impossível. "Atender
a exigência da guerrilha seria estimular a atividade dos sequestros", argumenta. "Nossa estratégia é não ceder", diz.
Segundo ele, essa lógica não deve mudar nem mesmo no caso de
algum dos sequestrados ser morto pelos rebeldes. "Assumir uma
política de Estado implica questões difíceis. Se matarem algum
dos sequestrados, será duro, mas
não podemos depender disso para tomar uma posição diferente."
Para ele, a libertação dos cativos
deve ser obtida por meio da pressão contra os grupos armados.
"Devemos mostrar-lhes que o governo e o mundo vai passar-lhes a
conta, cedo ou tarde", diz, acrescentando que não se prevê ações
de resgate. "Não assumiremos tarefas de resgate que ponham em
perigo a vida dos sequestrados."
(ROGERIO WASSERMANN)
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