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Analistas prevêem aumento de popularidade e reeleição de Arafat
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
O líder palestino Iasser Arafat, 72, deve ser reeleito no início do
ano que vem, e o discurso de anteontem do presidente George W.
Bush deve lhe garantir alguns votos a mais, na opinião de analistas
consultados pela Folha.
"Bush não estabeleceu os procedimentos para renovar a liderança política palestina, e a opção natural é sem dúvida a da via democrática. Com o pronunciamento
de Bush, Arafat ganhou votos para as eleições, pois os palestinos
vêem a sugestão como uma ingerência inaceitável. Os que se opusessem abertamente ao "rais" [presidente] seriam considerados
traidores", afirma o analista político Abdul Fatah.
"Mesmo o Hamas [grupo extremista islâmico], cuja popularidade vem crescendo, descartou o apelo de Bush e disse que ele foi escrito em hebraico e traduzido
para o inglês. Apesar da reprovação contundente a Arafat, ninguém deve assumir publicamente que quer ocupar seu lugar."
Embora não tenha pronunciado jamais o nome de Arafat, o
presidente norte-americano disse
que a paz no Oriente Médio só virá quando houver "uma nova e
diferente liderança palestina", em
reivindicações semelhantes às do
primeiro-ministro de Israel, Ariel
Sharon, que comparou o líder palestino ao terrorista saudita Osama bin Laden, além de descrevê-lo como "irrelevante" desde o ano
passado.
Presidente vitalício da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Arafat demonstrou
diversas vezes uma capacidade
surpreendente para sair de situações críticas tanto nos territórios
palestinos quanto no exílio.
Para Abdul Fatah, "não é à toa
que ele descreveu o discurso como "um sério esforço para promover a paz". Com sua leitura própria, que finge não entender o recado de Washington, Arafat vai
obter uma nova legitimidade com as eleições".
Em janeiro de 1996, foram realizadas eleições, sob supervisão internacional, nas regiões autônomas e ocupadas. Arafat obteve mais de 90% dos votos.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina vai condicionar a
realização de eleições à retirada israelense dos territórios recentemente reocupados, segundo Abdul Fatah. "Israel ocupou quase
todas as grandes cidades da Cisjordânia. O discurso de Bush inclui um pedido de retirada, mas não estabelece nenhum cronograma, como se fosse possível algum tipo de processo democrático em regiões sob ocupação."
Na opinião do cientista político, já há um movimento na cúpula
palestina pedindo que Arafat assuma um papel de menor relevância e permita que outra autoridade lidere as negociações de paz.
Na prática, Bush descartou Arafat como negociador embora não tenha informado o que fará até o advento da nova liderança.
"Arafat é o símbolo principal da causa palestina, mas a tendência é
que ele assuma um papel menos
ativo na diplomacia, o que não
deve impedir que sua popularidade cresça internamente", diz.
Analistas dizem que Bush não
autorizou a expulsão de Arafat
dos territórios, como defendem
alguns membros da coalização israelense liderada por Sharon.
"Bush não quer que Sharon resolva a questão Arafat. Ele quer
que os próprios palestinos façam
isso, mas a tendência é que, após o
discurso, Arafat seja confirmado
como líder dos palestinos", diz o
analista político Ali Jarbawi.
Para reverter esse quadro, Bush
precisaria de um investimento diplomático no mundo árabe, incluindo os territórios palestinos,
que mostrasse "vantagens concretas" para a saída de Arafat.
O que vai acontecer se Arafat for
reeleito? "Talvez os EUA tenham
de relativizar seu ultimato, como
já sinaliza Powell". Colin Powell,
secretário de Estado norte-americano, disse ontem que os EUA vão
respeitar a escolha nas urnas e "lidar com a situação".
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