São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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Analistas prevêem aumento de popularidade e reeleição de Arafat

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

O líder palestino Iasser Arafat, 72, deve ser reeleito no início do ano que vem, e o discurso de anteontem do presidente George W. Bush deve lhe garantir alguns votos a mais, na opinião de analistas consultados pela Folha.
"Bush não estabeleceu os procedimentos para renovar a liderança política palestina, e a opção natural é sem dúvida a da via democrática. Com o pronunciamento de Bush, Arafat ganhou votos para as eleições, pois os palestinos vêem a sugestão como uma ingerência inaceitável. Os que se opusessem abertamente ao "rais" [presidente] seriam considerados traidores", afirma o analista político Abdul Fatah.
"Mesmo o Hamas [grupo extremista islâmico], cuja popularidade vem crescendo, descartou o apelo de Bush e disse que ele foi escrito em hebraico e traduzido para o inglês. Apesar da reprovação contundente a Arafat, ninguém deve assumir publicamente que quer ocupar seu lugar."
Embora não tenha pronunciado jamais o nome de Arafat, o presidente norte-americano disse que a paz no Oriente Médio só virá quando houver "uma nova e diferente liderança palestina", em reivindicações semelhantes às do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, que comparou o líder palestino ao terrorista saudita Osama bin Laden, além de descrevê-lo como "irrelevante" desde o ano passado.
Presidente vitalício da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Arafat demonstrou diversas vezes uma capacidade surpreendente para sair de situações críticas tanto nos territórios palestinos quanto no exílio.
Para Abdul Fatah, "não é à toa que ele descreveu o discurso como "um sério esforço para promover a paz". Com sua leitura própria, que finge não entender o recado de Washington, Arafat vai obter uma nova legitimidade com as eleições".
Em janeiro de 1996, foram realizadas eleições, sob supervisão internacional, nas regiões autônomas e ocupadas. Arafat obteve mais de 90% dos votos.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina vai condicionar a realização de eleições à retirada israelense dos territórios recentemente reocupados, segundo Abdul Fatah. "Israel ocupou quase todas as grandes cidades da Cisjordânia. O discurso de Bush inclui um pedido de retirada, mas não estabelece nenhum cronograma, como se fosse possível algum tipo de processo democrático em regiões sob ocupação."
Na opinião do cientista político, já há um movimento na cúpula palestina pedindo que Arafat assuma um papel de menor relevância e permita que outra autoridade lidere as negociações de paz. Na prática, Bush descartou Arafat como negociador embora não tenha informado o que fará até o advento da nova liderança.
"Arafat é o símbolo principal da causa palestina, mas a tendência é que ele assuma um papel menos ativo na diplomacia, o que não deve impedir que sua popularidade cresça internamente", diz.
Analistas dizem que Bush não autorizou a expulsão de Arafat dos territórios, como defendem alguns membros da coalização israelense liderada por Sharon.
"Bush não quer que Sharon resolva a questão Arafat. Ele quer que os próprios palestinos façam isso, mas a tendência é que, após o discurso, Arafat seja confirmado como líder dos palestinos", diz o analista político Ali Jarbawi.
Para reverter esse quadro, Bush precisaria de um investimento diplomático no mundo árabe, incluindo os territórios palestinos, que mostrasse "vantagens concretas" para a saída de Arafat.
O que vai acontecer se Arafat for reeleito? "Talvez os EUA tenham de relativizar seu ultimato, como já sinaliza Powell". Colin Powell, secretário de Estado norte-americano, disse ontem que os EUA vão respeitar a escolha nas urnas e "lidar com a situação".



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