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ANÁLISE
Bush insultou palestino e enfureceu árabes
ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT"
Podem vestir seus coletes à prova de balas. O presidente George
W. Bush se pronunciou. Ele quer
uma "mudança de regime" na Palestina, assim como quer uma
"mudança de regime" no Iraque.
Ele lê os relatórios preparados pelo governo israelense para a imprensa e os reproduz fielmente
nas declarações que faz ao povo
americano. O premiê israelense,
Ariel Sharon, quer a destruição e a
demissão de Iasser Arafat. Bush
quer o mesmo. "A paz requer
uma liderança palestina nova e diferente para que um Estado palestino possa nascer", disse Bush ao
povo americano, cada vez mais
assustado enquanto espera pelo
próximo apocalipse.
Bush não impôs condição nenhuma a Israel. Não exigiu o fim
da construção contínua de assentamentos judaicos em terras árabes. Depois de aceitar que a Cisjordânia ocupada é apenas "disputada", ele não pediu o fim das
"incursões" militares israelenses.
Não prometeu impor penalidades
se os israelenses deixarem de
cumprir alguma condição.
Em seu chamado por "transparência" palestina, Ariel Sharon
exigiu que a reforma seja mais do
que cosmética ou uma tentativa
de preservar Arafat. E o que Bush
diz? Ora, que a reforma palestina
"deve ser mais do que mudanças
cosméticas ou uma tentativa velada de manter o status quo". A única coisa que ele oferece aos palestinos é uma reprodução do que os
israelenses mandam os palestinos
fazer. A impressão que passa para
estes é de um escárnio cruel.
Nunca houve um Estado "interino", muito menos um Estado
"provisório". Essas são fantasias
dos israelenses -e de Bush. "Representantes" da Casa Branca
-poderíamos nos aventurar a
adivinhar quem são- acham que
um "Estado" palestino poderá ser
"alcançado" no prazo de 18 meses. Deixemos de lado o fato de
que o direito internacional não
prevê nenhuma entidade assim.
Repassemos mais uma vez a
parte mais crucial -e mais desonesta- das declarações de Bush
feitas anteontem.
"Quando o povo palestino tiver
novos líderes, novas instituições e
novos arranjos de segurança com
seus vizinhos", ele nos disse, "os
EUA vão apoiar a criação de um
Estado palestino cujas fronteiras e
determinados aspectos de sua soberania serão provisórios até serem decididos como parte de um
acordo final no Oriente Médio."
Vejamos o que isso quer dizer:
quando os palestinos tiverem eleito um líder que Israel quer -condição essa que pode levar até o final dos tempos para ser satisfeita-, os EUA vão apoiar um Estado palestino cuja própria existência não vai significar nada, a não
ser que Israel aprove o que esse
Estado quer fazer. Em outras palavras, os EUA serão o porta-voz
de Israel em qualquer negociação.
Um número crescente de americanos sabe que está sendo feito de
otário por seu próprio governo e
sua própria imprensa, que a política externa de seu país está sendo
manipulada de modo a dar apoio
máximo a um país, e um apenas,
no Oriente Médio.
Nunca antes uma população
ocupada foi liderada por uma
pessoa tão patética quanto Iasser
Arafat. Está ficando cada vez mais
evidente que ele não fracassou em
seu dever como líder palestino.
Ele fracassou em seu dever como
agente colonial atuando com procuração de Israel -logo, dos
EUA- na Cisjordânia e na faixa
de Gaza. Ele teve tempo de sobra
para provar sua lealdade ao Ocidente, aos EUA, a Israel. Tinha sido incumbido de garantir a segurança à toda prova dos assentamentos de Israel. Não consegue
mais controlar o povo que deveria controlar e terá que abandonar a
cena, para ser substituído pelo líder de nossa escolha.
Bush insultou os palestinos e enfureceu os líderes do mundo
árabe. Quem se importa com estes últimos? A maioria foi indicada por nós mesmos. Mas tenho a impressão de que os palestinos não vão aceitar essa bobagem. E é
por isso que, mais do que nunca, serão condenados e tachados de
"terroristas".
Tradução de Clara Allain
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