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EUROPA
Reforma na lei de partidos abre caminho para tornar o Herri Batasuna ilegal; partidos bascos protestam
Espanha deve cassar braço político do ETA
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
O governo espanhol está com as
mãos livres para cassar o Herri
Batasuna, braço político do ETA
(grupo terrorista basco), depois
de o Senado aprovar a reforma da
Lei de Partidos Políticos. Hoje
mesmo o premiê da Espanha, José María Aznar, deve levar a legislação para a assinatura do rei Juan
Carlos e depois cassar o partido.
A reforma proposta pelo PP
(centro-direita), partido de Aznar, contou com o apoio do principal partido de oposição, o socialista PSOE (centro-esquerda), o
que justifica a larga margem de
aprovação -214 a 15. Apenas o
moderado nacionalista basco
PNV e uma coalizão de partidos
de esquerda foram contra.
"Querem fechar todas as vias legais de mudança em Euskadi [nome do País Basco em sua língua
original"", afirmou o porta-voz
do Batasuna, Pernando Barrena.
"Para mim, o Batasuna é a mesma coisa que o ETA", disse recentemente o premiê Aznar.
O governo afirma que o Herri
Batasuna (Unidade Popular, em
basco) desvia fundos partidários
para a luta armada do ETA (sigla
de Terra Basca e Liberdade). Ángel Acebes, ministro da Justiça da
Espanha, afirmou que a lei pretende inibir que um partido político legal use sua sede "como depósito de armas e esconderijo de
elementos criminosos".
"É uma declaração de guerra ao
nacionalismo basco", disse José
Navarrete, militante do partido.
"A reforma é um subterfúgio para
o avanço do nacionalismo espanhol. Que se cuidem Eusko Alkartasuna, Aralar, Zutik e PNV [outras agremiações bascas"."
Os representantes de outros
partidos bascos vinham dando
declarações mais serenas durante
a semana passada, mas também
não deixaram de criticar a reforma. "Não é uma boa lei. É incorreta porque afeta valores fundamentais da sociedade como o pluralismo e a liberdade ideológica,
Begoña Lasagabaster, deputada
do moderado Eusko Alkartasuna.
"É um absurdo que não encontra respaldo na Convenção de Direito Humanos da União Européia. O que dirão os eurodeputados?", pergunta José Navarrete.
Os porta-vozes do PP e do PSOE
afirmaram ontem que o novo texto não se prestaria a cassar partidos "por causa de suas idéias ou
por causa dos fins que preconizam", mas sim os que "são instrumento da violência e do terror".
Para o presidente do PNV, Xabier Arzalluz, a cassação do partido deve "servir apenas para acirrar os ânimos no País Basco".
O Batasuna teve 143 mil votos
nas eleições regionais do País Basco ano passado. "Foram cerca de
10% de todo o eleitorado, o que
reflete uma importância regional
nada desprezível", afirmou a socióloga Josune Arpa.
O Parlamento regional conta
com sete deputados da coalizão
independentista radical. Para Arpa, "o PNV só é agora um partido
mais expressivo por conseguir
atrair muitos dos eleitores do Batasuna -que viu sua bancada
cair pela metade no último pleito.
Mesmo assim, acho que esses eleitores, votando ou não em outras
agremiações, se sentirão traídos
pelo processo político".
"Nossa esperança era que o Batasuna seguisse o caminho do
Sinn Fein [braço político do grupo terrorista irlandês IRA", que,
participando do jogo político,
amainasse os ânimos e virasse um
fator de estabilização do conflito",
afirma Josune Arpa.
O debate sobre a reforma legal
se viu alimentado nos últimos
dias por causa de uma carta aberta dos bispos católicos bascos, em
que expressavam o temor de que
a cassação do Batasuna tivesse
"consequências sombrias" e
"agravasse a tensão". Após a divulgação da carta, 358 sacerdotes
bascos deram apoio aos bispos.
Aznar disse que a carta era uma
"perversão moral e intelectual".
"Índios da Europa"
Os bascos chegaram à região
que hoje é o norte da Espanha e o
sudoeste da França há cerca de
6.000 anos -apesar de alguns estudos sustentarem a tese de que
essa migração pode estar situada
10 mil anos antes. Por causa disso,
muitos historiadores se referem a
eles fazendo uma comparação
com os grupos indígenas da América pré-colombiana.
Porém apenas no ano 905 um
Estado basco organizado aparece,
o principado de Pamplona (católico, de oposição à ocupação muçulmana da península Ibérica).
Até antes da metade do século
19, as instituições políticas bascas
vinham conseguindo sobreviver.
Depois disso -e mais particularmente na ditadura franquista
(1939-75)- o independentismo e
a autonomia foram sufocados.
Apesar de regiões bascas do
norte espanhol terem ganhado
autonomia após a redemocratização, o ETA, formado na ditadura
de Franco, vem implementando
uma campanha terrorista há 34
anos. Mais de 800 pessoas já morreram vítimas do terror "etarra".
Com agências internacionais
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