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ITÁLIA
TV diz que a audiência era baixa, mas a oposição acusa o premiê de pressão para demitir jornalistas
RAI cancela programas críticos a Berlusconi
JESSIE GRIMOND
DO "THE INDEPENDENT", EM ROMA
Dois dos mais famosos âncoras da televisão italiana, ambos conhecidos pelas críticas que fazem ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi tiveram seus programas
retirados da programação de outono da emissora estatal RAI.
Michele Santoro e Enzo Biagi foram acusados por Berlusconi,
em abril, de "fazer uso criminoso
da televisão pública". O premiê
disse então que a RAI "não deve
permitir que isso volte a ocorrer".
Quando as novas programações
das TVs foram divulgadas, no fim
de semana, políticos da oposição
denunciaram a decisão de tirar do
ar os programas dos dois âncoras.
Em maio, suspeitou-se de influência do premiê quando o governo pediu que os programas dos jornalistas fossem suspensos
no período que antecedeu as eleições locais. Agora, parece que foram cancelados definitivamente.
A direção da RAI afirma que a
decisão se deveu aos baixos índices de audiência dos programas,
mas a oposição acusou Berlusconi
de concretizar seu plano de livrar-se de apresentadores esquerdistas. "Se eles pensam que vão expulsar quem pensa de maneira diferente, é uma pena", disse Francesco Rutelli, líder da coalizão
centro-esquerda Oliveira. "Mas o
plano vai dar para trás porque o
povo italiano tem maturidade."
Berlusconi negou ter redigido
uma lista de proscritos e disse: "É
muito compreensível que a nova
direção se faça acompanhar por
uma nova linha editorial".
A extensão da influência que o
premiê exerce sobre a mídia suscita temores crescentes na Itália.
Seu governo indicou a direção da RAI, como é de praxe. Mas a Mediaset, empresa do próprio Berlusconi, é dona de três emissoras de TV nacionais, fato que lhe dá o controle de 90% da TV nacional.
Para abrandar as críticas, o governo propôs a criação de órgãos
antitruste para monitorar os conflitos de interesse, mas a oposição
afirma que eles seriam ineficazes.
O programa de Michele Santoro, "Sciuscià" (engraxate), é o
mais polêmico da Itália. Misto de documentário, debate e sátira, já
investigou conexões com a Máfia de um dos assessores mais próximos do premiê. Enzo Biagi, jornalista veterano, apresenta o programa político "Il Fatto" (o fato).
A deputada oposicionista Gloria Buffi, que integra o órgão que
monitora a RAI, disse: "De empresa que presta um serviço público, a RAI está sendo transformada numa empresa de serviços privados e que trabalha em prol dos interesses políticos de Berlusconi e dos interesses econômicos
de Berlusconi e da Mediaset".
Segundo o diretor do sindicato dos jornalistas italiano, Paolo
Longhi, "há a suspeita legítima de que, por razões pessoais ou interesses privados e políticos, Berlusconi tenha orientado os diretores da RAI a demitir Biagi e Santoro".
Tradução de Clara Allain
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