São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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ITÁLIA

TV diz que a audiência era baixa, mas a oposição acusa o premiê de pressão para demitir jornalistas

RAI cancela programas críticos a Berlusconi

JESSIE GRIMOND
DO "THE INDEPENDENT", EM ROMA

Dois dos mais famosos âncoras da televisão italiana, ambos conhecidos pelas críticas que fazem ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi tiveram seus programas retirados da programação de outono da emissora estatal RAI.
Michele Santoro e Enzo Biagi foram acusados por Berlusconi, em abril, de "fazer uso criminoso da televisão pública". O premiê disse então que a RAI "não deve permitir que isso volte a ocorrer".
Quando as novas programações das TVs foram divulgadas, no fim de semana, políticos da oposição denunciaram a decisão de tirar do ar os programas dos dois âncoras.
Em maio, suspeitou-se de influência do premiê quando o governo pediu que os programas dos jornalistas fossem suspensos no período que antecedeu as eleições locais. Agora, parece que foram cancelados definitivamente.
A direção da RAI afirma que a decisão se deveu aos baixos índices de audiência dos programas, mas a oposição acusou Berlusconi de concretizar seu plano de livrar-se de apresentadores esquerdistas. "Se eles pensam que vão expulsar quem pensa de maneira diferente, é uma pena", disse Francesco Rutelli, líder da coalizão centro-esquerda Oliveira. "Mas o plano vai dar para trás porque o povo italiano tem maturidade."
Berlusconi negou ter redigido uma lista de proscritos e disse: "É muito compreensível que a nova direção se faça acompanhar por uma nova linha editorial".
A extensão da influência que o premiê exerce sobre a mídia suscita temores crescentes na Itália. Seu governo indicou a direção da RAI, como é de praxe. Mas a Mediaset, empresa do próprio Berlusconi, é dona de três emissoras de TV nacionais, fato que lhe dá o controle de 90% da TV nacional.
Para abrandar as críticas, o governo propôs a criação de órgãos antitruste para monitorar os conflitos de interesse, mas a oposição afirma que eles seriam ineficazes.
O programa de Michele Santoro, "Sciuscià" (engraxate), é o mais polêmico da Itália. Misto de documentário, debate e sátira, já investigou conexões com a Máfia de um dos assessores mais próximos do premiê. Enzo Biagi, jornalista veterano, apresenta o programa político "Il Fatto" (o fato).
A deputada oposicionista Gloria Buffi, que integra o órgão que monitora a RAI, disse: "De empresa que presta um serviço público, a RAI está sendo transformada numa empresa de serviços privados e que trabalha em prol dos interesses políticos de Berlusconi e dos interesses econômicos de Berlusconi e da Mediaset".
Segundo o diretor do sindicato dos jornalistas italiano, Paolo Longhi, "há a suspeita legítima de que, por razões pessoais ou interesses privados e políticos, Berlusconi tenha orientado os diretores da RAI a demitir Biagi e Santoro".


Tradução de Clara Allain


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