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Argentina investigará exportação de grãos
Governo afirma querer saber como, apesar de locaute, vendas ao exterior cresceram em volume e lucratividade neste ano
Produtores rurais dizem que negócios foram feitos antes de protesto e em período de trégua e que renda maior veio por aumento de preços
Leo La Valle/Efe
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Mulheres tiram foto ao lado do touro inflável "Alfredito', que virou símbolo da manifestação de ruralistas em frente ao Congresso
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O governo argentino anunciou ontem que vai abrir uma
investigação para descobrir por
que a exportação de grãos aumentou nos primeiros cinco
meses deste ano apesar do locaute agropecuário, que decretou a suspensão dessas vendas.
A Presidência divulgou ontem, nos principais jornais do
país, anúncio oficial afirmando
que o locaute, apesar de ter como motivação principal justamente o protesto contra o aumento dos impostos sobre exportações de grão, foi na realidade voltado contra as vendas
internas, já que, nos cinco primeiros meses do ano, foram exportadas 28,8 milhões de toneladas de grãos e derivados, 893
mil a mais do que no mesmo
período de 2007.
Segundo o comunicado, intitulado "Todo argentino tem o
direito de estar informado", os
exportadores receberam 63% a
mais por essas vendas em comparação ao mesmo período do
ano passado, já descontados os
impostos sobre as exportações.
"O forte crescimento dos embarques ao exterior dá conta do
excelente momento que vive o
setor", diz o informe. "O protesto e a conseqüente escassez
de alimentos quem padeceu fomos todos os argentinos."
Reação ruralista
A crise entre o campo e o governo começou em março,
quando foi decretado o aumento dos impostos, considerado
"confiscatório" pelos produtores rurais.
Em protesto, os ruralistas
decretaram um locaute que
consistia principalmente na
suspensão da venda de grãos ao
exterior, mas também no bloqueio de caminhões com alimentos nas estradas e conseqüente desabastecimento.
Por meio de comunicado, o
Escritório Nacional de Controle Comercial Agropecuário
anunciou que encontrou "manobras irregulares na emissão e
utilização de cartas de porte
[que autorizam a exportação],
que revelam a existência de um
tráfico paralelo no comércio de
grãos" e pediu uma profunda
investigação do caso.
O presidente da Federação
Agrária, Eduardo Buzzi, um dos
líderes do locaute, afirmou que
a denúncia faz parte de uma
"operação suja de perseguição
política por parte do governo",
mas que os ruralistas não temem a investigação.
Segundo as entidades agropecuárias envolvidas no conflito, o aumento das exportações
corresponde à trégua decretada durante a crise e ao período
que antecedeu o início do locaute, em 11 de março: nos cinco primeiros meses do ano, só
43 dias foram de locaute.
Nesse período, segundo especialistas, os ruralistas teriam
otimizado a logística de venda
para aproveitar a trégua. O aumento nos lucros corresponderia não ao aumento do volume
de exportações, mas à valorização do preço dos grãos no mercado internacional.
Cota descumprida
Ainda ontem, foi divulgado
que a Argentina não cumprirá
pela primeira vez em 30 anos a
chamada cota Hilton, pela qual
exporta seus melhores cortes
de carne bovina para a União
Européia.
Devido ao conflito com o
campo, quando o país interrompeu as vendas de carne e
caminhões com o alimento ficaram bloqueados em estradas,
o país deixaria de vender 2.000
toneladas e registraria uma
perda de cerca de US$ 40 milhões. Nas cidades, o abastecimento de carne começa a se
restabelecer, mas ainda faltam
alguns cortes e o preço do alimento está cerca de 20% mais
caro do que antes da crise.
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