São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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Coalizão de governo racha no Paquistão

Ex-premiê Nawaz Sharif deixa a aliança governista, descontente com candidatura à Presidência do viúvo de Benazir

Sharif acusa Asif Zardari de violar acordo que previa a reintegração imediata dos juízes afastados pelo ex-ditador Musharraf

DA REDAÇÃO

A coalizão governista do Paquistão se dissolveu ontem, cingida por disputas sobre a sucessão presidencial e o retorno dos juízes afastados pelo ex-ditador Pervez Musharraf. O ex-premiê Nawaz Sharif, líder do segundo maior partido do governo, lançou candidato próprio à Presidência, desafiando o PPP (Partido do Povo Paquistanês), que acusa de descumprir compromissos políticos.
"Acordos não são sagrados como o Corão", justificou Asif Ali Zardari, viúvo da ex-premiê Benazir Bhutto e atual líder do PPP, horas depois da divulgação de documento assinado por ele e Sharif no dia 7, no qual concordavam em que os magistrados deveriam retornar aos tribunais logo depois da saída de Musharraf da Presidência, o que ocorreu no último dia 18.
A ruptura não força novas eleições, mas desestabiliza o governo, que fica refém de pequenas legendas para obter maioria no Parlamento.
Ameaçado de impeachment pela maioria parlamentar formada após as eleições de fevereiro deste ano, Musharraf renunciou à Presidência que controlava desde 1999. Mas a nova coalizão governista não resistiu à ausência do inimigo político comum. Detentor da bomba nuclear, o Paquistão é uma das principais frentes da "guerra ao terror" americana.
Zardari assumiu o comando do PPP após o assassinato da carismática mulher e foi nomeado candidato à Presidência à revelia de Sharif. Os assentos do PPP e das legendas minoritárias que o apóiam são suficientes para garantir sua vitória no Colégio Eleitoral que elege o presidente.

Candidato
"O que Sharif pretende ao lançar candidato próprio, mesmo sem chances de elegê-lo, é passar um sinal inequívoco de que rompeu com o governo", disse Farzana Shaikh, analista da Chatham House, em entrevista por telefone à Folha. E para isso, diz, não poderia ter escolhido melhor candidato. O respeitável Saeeduzzaman Siddiqui, ex-presidente da Suprema Corte, é o antípoda de Zardari, que já cumpriu pena por desvio de verbas e foi anistiado em 12 processos neste ano.
O nacionalista moderado PLM-N tem agenda mais próxima à dos islamistas que o PPP. Mas isso, na "realpolitik" paquistanesa, tem peso relativo. "Embora seja conhecido pela agenda progressista e pró-Ocidente, o PPP é um partido pragmático. Trabalhava com os islamistas desde a década de 90, no governo de Benazir."
Shaikh ressalva, porém, que a lealdade política das legendas islamistas é frágil. "O PPP emergiu das eleições gerais como o maior partido do país, com base para formar o governo -embora precise do apoio de outras legendas. Muitos dos [partidos] islamistas consideram que a aliança com o PPP fortalece seus interesses e têm expectativas de receber ministérios influentes".
(CLARA FAGUNDES)


Com agências internacionais


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