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Coalizão de governo racha no Paquistão
Ex-premiê Nawaz Sharif deixa a aliança governista, descontente com candidatura à Presidência do viúvo de Benazir
Sharif acusa Asif Zardari de violar acordo que previa a reintegração imediata dos juízes afastados pelo
ex-ditador Musharraf
DA REDAÇÃO
A coalizão governista do Paquistão se dissolveu ontem,
cingida por disputas sobre a sucessão presidencial e o retorno
dos juízes afastados pelo ex-ditador Pervez Musharraf. O ex-premiê Nawaz Sharif, líder do
segundo maior partido do governo, lançou candidato próprio à Presidência, desafiando o
PPP (Partido do Povo Paquistanês), que acusa de descumprir
compromissos políticos.
"Acordos não são sagrados
como o Corão", justificou Asif
Ali Zardari, viúvo da ex-premiê
Benazir Bhutto e atual líder do
PPP, horas depois da divulgação de documento assinado por
ele e Sharif no dia 7, no qual
concordavam em que os magistrados deveriam retornar aos
tribunais logo depois da saída
de Musharraf da Presidência, o
que ocorreu no último dia 18.
A ruptura não força novas
eleições, mas desestabiliza o
governo, que fica refém de pequenas legendas para obter
maioria no Parlamento.
Ameaçado de impeachment
pela maioria parlamentar formada após as eleições de fevereiro deste ano, Musharraf renunciou à Presidência que controlava desde 1999. Mas a nova
coalizão governista não resistiu
à ausência do inimigo político
comum. Detentor da bomba
nuclear, o Paquistão é uma das
principais frentes da "guerra ao
terror" americana.
Zardari assumiu o comando
do PPP após o assassinato da
carismática mulher e foi nomeado candidato à Presidência
à revelia de Sharif. Os assentos
do PPP e das legendas minoritárias que o apóiam são suficientes para garantir sua vitória no Colégio Eleitoral que elege o presidente.
Candidato
"O que Sharif pretende ao
lançar candidato próprio, mesmo sem chances de elegê-lo, é
passar um sinal inequívoco de
que rompeu com o governo",
disse Farzana Shaikh, analista
da Chatham House, em entrevista por telefone à Folha. E
para isso, diz, não poderia ter
escolhido melhor candidato. O
respeitável Saeeduzzaman Siddiqui, ex-presidente da Suprema Corte, é o antípoda de Zardari, que já cumpriu pena por
desvio de verbas e foi anistiado
em 12 processos neste ano.
O nacionalista moderado
PLM-N tem agenda mais próxima à dos islamistas que o
PPP. Mas isso, na "realpolitik"
paquistanesa, tem peso relativo. "Embora seja conhecido
pela agenda progressista e pró-Ocidente, o PPP é um partido
pragmático. Trabalhava com os
islamistas desde a década de
90, no governo de Benazir."
Shaikh ressalva, porém, que
a lealdade política das legendas
islamistas é frágil. "O PPP
emergiu das eleições gerais como o maior partido do país,
com base para formar o governo -embora precise do apoio
de outras legendas. Muitos dos
[partidos] islamistas consideram que a aliança com o PPP
fortalece seus interesses e têm
expectativas de receber ministérios influentes".
(CLARA FAGUNDES)
Com agências internacionais
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