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ELEIÇÃO NOS EUA
Apesar de ter entre 1% e 3% nas pesquisas, candidato independente tem posição de destaque na campanha
Nader, de novo, pode influir no resultado
VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO
Durante quase quatro décadas
Ralph Nader foi considerado um
herói pelos progressistas americanos devido à sua atuação na defesa dos direitos dos consumidores.
Mas agora, aos 70 anos, até seu caráter está sendo colocado em dúvida por muitos dos antigos admiradores. Tudo porque, em sua
quarta tentativa de alcançar a Presidência dos EUA, ele pode contribuir mais uma vez para a derrota de um candidato democrata
contra George W. Bush.
A cruzada de Nader, um advogado formado na Universidade
Harvard, é contra o domínio que
as grandes empresas exercem em
todas as esferas da sociedade.
"Empresas globais autocráticas
vão fundo no planejamento estratégico. Elas abertamente, esbanjando confiança, tentam controlar nossos empregos; nosso meio
ambiente; nossas instituições políticas e educacionais; nossa comida, remédios e outros produtos;
nossas economias; nossas infâncias; nossa cultura; até mesmo
nosso futuro genético. Rumo a esses fins, elas incessantemente se
movem para controlar nossas
eleições e nossas instituições governamentais", escreveu em um
de seus livros.
"Inimigo do sistema"
Nader ficou conhecido pela sua
luta nos anos 60 contra a General
Motors. Graças ao movimento
que capitaneou, a indústria automobilística foi obrigada melhorar
a segurança dos carros e milhares
de vidas foram salvas. Certamente
com o nome de Nader na cabeça,
o ex-presidente Richard Nixon
(1969-74) chegou a afirmar: "São
pessoas que não estão nem um
pouco interessadas em segurança
ou ar puro. O que elas querem é
destruir o sistema. Elas são inimigos do sistema".
Na atual corrida para chegar ao
Salão Oval, Nader não aparece tão
bem nas pesquisas como na disputa passada -as intenções de
voto em seu nome variam entre
1% e 3%. Mas, se a eleição for tão
disputada quanto a de 2000, esses
votos poderão fazer uma grande
diferença no resultado final.
"Ele certamente ganhou o desrespeito e o ódio de muitos democratas por ter causado a derrota
[de Al Gore] na última eleição.
Porque para ele era mais importante ser candidato, do que não
ser, Gore perdeu a eleição para
Bush", afirma David Epstein, professor de ciências políticas da
Universidade Columbia.
Nader refuta qualquer culpa pela vitória de Bush. Ele argumenta
que os votos que teve foram de
eleitores que, desanimados com a
política do país, simplesmente
não sairiam de casa para votar.
Jeff Grynaviski, professor de
ciências políticas da Universidade
de Chicago, concorda com Nader.
"Eu também suspeito que muitos
dos apoiadores de Gore foram votar em 2000 porque estavam preocupados com a influência de Nader sobre outros progressistas",
acrescenta.
Embora os argumentos apresentados por Nader e Grynaviski
pareçam razoáveis, os números
da eleição de 2000 dão bastante
munição para aqueles que condenam o candidato.
Bush venceu Gore na Flórida
por apenas 537 votos e em New
Hampshire por 7.211. Nader teve
nesses dois Estados, respectivamente, 97.488 e 22.198 votos. Os
democratas vão morrer com a
certeza de que, se não ele tivesse se
candidatado, a imensa maioria de
seus votos teria migrado para Gore -a afinidade entre Nader e os
democratas é tanta que em 1992
ele tentou ser o candidato do partido- e o então vice-presidente
teria uma margem suficiente para
vencer no Colégio Eleitoral.
Defecção de aliados
Nader desta vez foi abandonado
por muito de seus antigos aliados.
O cineasta Michael Moore o
apoiou em 2000 e recentemente
implorou de joelhos em um programa de TV, ao vivo e a cores para todo o país, para que Nader
saísse da disputa.
Dezenas de intelectuais que endossaram seu nome quatro anos
atrás agora fizeram um manifesto
contra a nova candidatura. Organizações civis ligadas a Nader perderam milhares de dólares em
contribuições canceladas por pessoas contrariadas com o que dizem ser teimosia ou o capricho de
um ego imenso.
O próprio candidato reconhece
que muitos saíram do seu barco:
"Três pessoas com as quais trabalhei por 25 anos não vieram. São
pessoas com as quais fundei grupos", disse em junho ao "Washington Post" sobre um evento de
campanha na Califórnia.
Os arranjos que fez para viabilizar a sua presença no atual pleito
também mancharam sua credibilidade. Nader, que em 2000 concorreu pelo Partido Verde, desta
vez aceitou o apoio de segmentos
da direita. Ele é candidato pelo
Partido da Reforma -criado pelo
milionário texano Ross Perot para tentar chegar à Casa Branca e
que em 2000 teve ninguém menos
que o conservador Pat Buchanan
como candidato presidencial.
Buchanan, aliás, mostrou um
"espírito de equipe" bem maior
que o de Nader. Ele, que no passado já havia tentado ser o candidato do Partido Republicano, em
2000 participou da eleição apenas
em regiões em que a disputa não
era acirrada e não havia chances
de roubar eleitores de Bush e assim levar os votos do Estado no
Colégio Eleitoral para Gore.
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