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Mais de 200 candidatos estão na disputa para chegar à Casa Branca
DA REDAÇÃO
Além de George W. Bush, John
Kerry e Ralph Nader, a eleição
presidencial dos EUA deste ano
vai ter pelo menos outros 201 candidatos. O número exato de postulantes à Presidência nem a Comissão Eleitoral Federal sabe qual
é: as leis eleitorais permitem que
os candidatos inscrevam-se em
nível estadual e só exigem o registro federal se ele receber ou gastar
mais de US$ 5.000 na campanha.
As exigências para alguém se
candidatar não são muitas: ter
nascido nos EUA, ter vivido mais
de 14 anos no país e ter mais de 35
anos. Mesmo assim, há partidos
que ignoram esses requisitos. O
Partido dos Trabalhadores Socialistas escolheu como candidato o
jornalista Róger Calero, que nasceu na Nicarágua e já enfrentou
um processo de deportação.
"Acho que sou mais representativo da composição da classe trabalhadora nos EUA hoje do que
qualquer um dos dois milionários
que estão correndo pelo país, fingindo falar em nome dos trabalhadores. Defendemos o direito
de qualquer um que trabalha e vive neste país de participar da política", afirma Calero.
Apesar de ser candidato, Calero
não tem ilusões de vitória. A campanha é um instrumento para divulgar a causa socialista. "Nada
do que foi conquistado neste país,
da Seguridade Social até a saída
dos EUA do Vietnã, a luta contra
o racismo e o direito das mulheres
ao aborto, veio através de eleições.
Foram precisos movimentos sociais para fazer essas mudanças."
Gene Amondson, do Partido da
Lei Seca, também não se permite
sonhar morando na Casa Branca.
Ele pretende apenas chamar atenção sobre o que diz ser o "problema número 1" dos EUA: o álcool.
"Os jornais e o rádio precisam
do dinheiro da propaganda do álcool e por isso jamais contam a
verdade sobre a Lei Seca. Quando
olhamos para esse período [1919-33] vemos que nossas prisões se
esvaziaram, as instituições mentais se esvaziaram e os níveis de
cirrose caíram pela metade, de
15% para 7%", afirma.
Apesar de ter sido fundado em
1868, o Partido da Lei Seca tem somente "entre 30 e 40" membros,
segundo Amondson. Por menor
que seja o número de integrantes,
isso não impediu que o partido
rachasse e lançasse dois candidatos. "Temos duas facções. Temos
a turma velha, com 70 anos, e a
turma jovem, como eu, que tem
60. É chato que estejamos divididos agora, mas ainda temos que
trabalhar juntos porque temos
um inimigo maior, que é a indústria da bebida", diz Amondson.
Ao lado de partidos "históricos"
também competem partidos virtuais, como o Partido X. "Ele não
está registrado, não tem membros, não tem líderes oficiais, não
tem posição sobre temas e não
aceita ou gasta dinheiro", diz o
candidato Darren Karr. Sua plataforma defende o fim da cobrança
do imposto de renda e do politicamente correto. "Precisamos de
tolerância e não de politicamente
correto", afirma.
David Cobb, do Partido Verde,
diz que não teme ser chamado de
doido por ousar competir contra
Bush e Kerry: "Através da história, pessoas foram chamadas de
loucas por lutar por justiça social.
Pessoas que queriam acabar com
a escravidão e dar o direito de votar às mulheres foram chamadas
de loucas. Sinto-me confortável
na companhia desses patriotas".
Cobb não vê chances de um
partido menor vencer as eleições
enquanto as regras não forem
mudadas. Ele defende a adoção
de um sistema chamado "instant
runoff voting" (segundo turno
instantâneo). "É o método usado
para eleger o presidente da Irlanda, o prefeito de Londres e várias
autoridades na Austrália", diz.
Nesse sistema, o eleitor classifica os candidatos por ordem de
preferência. O vencedor é escolhido num processo que vai eliminando sucessivamente o último
colocado e transferindo os votos
que este recebeu para o que aparece como opção seguinte do eleitor até que um obtenha a maioria.
O fato de mais de 200 pessoas se
anunciarem como candidatas a
presidente, contudo, não quer dizer que a cédula (ou a tela do computador, nos locais onde houver
urna eletrônica) irá apresentar o
nome de todas elas.
A verdadeira barreira (esquecendo-se a financeira) que separa
os candidatos dos partidos Republicano e Democrata dos demais
são as condições que os candidatos nanicos devem satisfazer para
ganhar o direito de aparecer na
cédula. De maneira geral, os Estados exigem que os candidatos
apresentem listas com o endosso
de milhares de eleitores.
"Os EUA provavelmente têm as
restrições mais reacionárias à participação de partidos independentes nas eleições. Fomos forçados a coletar mais de 60 mil assinaturas para que as cédulas tenham nossos nomes em 14 Estados", diz Calero.
Candidatos "write-in"
Os que não se qualificam tornam-se candidatos "write-in"
-o eleitor tem que escrever (ou
digitar) o nome do escolhido.
"Na última eleição houve 17 diferentes partidos representados
por candidatos que receberam
votos -embora alguns tenham
recebido apenas algumas centenas. Houve também cerca de 20
mil votos para candidatos write-in", afirma Kelly Huff, da assessoria de imprensa da Comissão Eleitoral Federal.
(VP)
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