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CHILE
Juiz acha ex-ditador "cansado" e pode ordenar novos exames médicos; acusação pede amanhã a detenção do general
Pinochet depõe à Justiça e se diz inocente
DA REDAÇÃO
O ex-ditador chileno Augusto
Pinochet declarou-se inocente
das acusações de responsabilidade pelos crimes cometidos pela
Operação Condor no Chile, em
depoimento prestado ontem ao
juiz Juan Guzmán Tapia.
Segundo fontes judiciais citadas
pelo diário chileno "El Mercurio",
Pinochet disse ao juiz que "não
podia se preocupar com coisas
menores porque era presidente
da República".
O depoimento, de cerca de 45
minutos, foi tomado na casa do
ex- ditador, no bairro de classe alta de La Dehesa, em Santiago.
Em entrevista a jornalistas após
o depoimento, o juiz Tapia afirmou que o general de 88 anos parecia cansado e que, por isso, não
pôde formular todas as perguntas
que queria.
"Tinha mais perguntas para fazer, mas notei que [Pinochet] tinha muito cansaço. Então resumi
as perguntas", disse Tapia. O general teria sido atendido por um
médico depois de interrogado.
Segundo fontes próximas ao
processo, o juiz deve ordenar que
Pinochet se submeta a novos exames médicos e psiquiátricos para
determinar se ele tem condições
de enfrentar o processo.
A agência de notícias Reuters
afirmou que uma junta médica
apontada pela Justiça chilena já tinha exame agendado com o ditador para esta semana.
Se confirmada, essa decisão vai
atender pedidos dos advogados
do ex-ditador, que argumentam
que ele está incapacitado mental e
fisicamente para se defender judicialmente.
O juiz tem um prazo de cinco
dias para decidir que rumo dará
ao processo.
"Pediremos na segunda-feira
que Pinochet seja detido e submetido a julgamento", disse um dos
advogados de acusação do ex-ditador, Eduardo Contreras.
"O que cabe, de acordo com a lei
chilena, é que depois do interrogatório o acusado seja processado
e detido. Os exames médicos podem ser feitos depois de sua detenção", afirmou.
Já o advogado Pablo Rodríguez,
do time de defesa de Pinochet,
qualificou o depoimento de "imprudente", "porque o general não
está em condições de suportar
uma atuação dessa natureza".
Os advogados do ex-ditador
conseguiram o adiamento do depoimento em várias ocasiões -
inclusive pedindo que o juiz fosse
afastado do caso.
O governo chileno se disse satisfeito de que o depoimento tenha
ocorrido dentro da normalidade.
Processos
É a segunda vez que o general
responde formalmente à Justiça
por assassinatos e abusos de direitos humanos cometidos durante
seu governo (1973-90).
Tapia investiga sua responsabilidade nos assassinatos e desaparecimentos da Operação Condor,
ação conjunta das ditaduras militares do Cone Sul na década de
1970. Vinte chilenos teriam desaparecido nessa operação.
O processo foi aberto depois
que, no mês passado, a Corte Suprema revogou a imunidade de
que Pinochet dispunha desde
2001, quando o tribunal o considerou mentalmente incapaz.
Na ocasião, ele respondia a processo ante o mesmo juiz Tapia,
por suposta responsabilidade pela "Caravana da Morte", em que
75 opositores ao seu regime foram seqüestrados e assassinatos.
Pinochet alegou que os crimes
foram cometidos por seus subalternos, sem seu conhecimento. O
processo foi fechado, sem sanções, em junho de 2002.
Especialistas afirmam que a alegação de que a saúde mental do
ex-ditador está debilitada é cada
vez mais difícil de sustentar, já
que Pinochet fez aparições consideradas "lúcidas" na mídia no
ano passado.
Além disso, no mês passado, o
ex-ditador testemunhou perante
outro juiz em processo no qual é
investigado pela existência de
contas bancárias secretas e milionárias em seu nome em paraísos
fiscais. A denúncia provocou o
afastamento de antigos aliados,
aumentando o isolamento político do ex-ditador.
Com agências internacionais
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