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EUA
Percepção popular de que política externa é privilegiada em detrimento de questões internas e economia põem reeleição em xeque
Problemas de Bush pai assombram seu filho
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A pouco mais de um ano da eleição presidencial americana, inúmeros democratas e alguns republicanos começam a ver uma ligação entre a situação atual do presidente George W. Bush e a de seu
pai, George Bush (1989-1993)
-que não obteve a reeleição-,
no outono setentrional de 1991.
De acordo com especialistas
consultados pela Folha, há várias
similaridades entre os dois casos,
contudo ainda é muito cedo para
antever uma vitória democrata na
eleição de novembro de 2004.
"Além dos laços familiares, há
pontos que unem os dois presidentes apesar dos 12 anos de diferença. Por exemplo, ambos venceram uma guerra e gozaram de
uma imensa popularidade graças
a isso", apontou Diana Owen, autora de "Media Messages in American Presidential Elections"
(mensagens da mídia em eleições
presidenciais americanas).
"Em razão disso e da desaceleração econômica, a situação de
Bush pai e a de seu filho são muito
parecidas no que se refere à percepção popular. Os argumentos
de boa parte do eleitorado são os
mesmos nos dois casos: o presidente dá atenção demais à política
externa, preocupa-se pouco com
os cada vez maiores problemas
internos e não faz o suficiente para fazer decolar a economia",
acrescentou a pesquisadora.
"Todavia a verdade é que Bush
filho parece enfrentar um problema bem mais grave. Vencer a
Guerra do Golfo foi tarefa fácil
perto dos desafios apresentados
pela guerra ao terrorismo global,
lançada após o 11 de Setembro, e
pela reconstrução do Iraque e do
Afeganistão", completou Owen.
De fato, após o final da Guerra
do Golfo (1991), Bush pai apresentava o espetacular índice de
aprovação de 89%, e seu filho
contava, no final de abril -logo
após a queda do regime do ex-ditador Saddam Hussein-, com o
apoio 73% da população.
Aliás, de setembro de 2001 até
julho deste ano, Bush filho teve níveis de aprovação superiores a
60% na maioria das pesquisas,
comprovando que, em situações
críticas, os americanos costumam
apoiar seus líderes políticos.
No entanto ambos tiveram uma
queda acentuada de popularidade
alguns meses após o final oficial
dos conflitos armados. Assim, em
setembro de 1991, Bush pai só tinha 52% de aprovação, segundo
uma pesquisa divulgada pelo jornal "USA Today" à época.
Já o índice de aprovação do trabalho de Bush filho é de 54%
atualmente, tendo chegado a 51%
há três semanas, de acordo com
uma pesquisa da rede de TV CBS
News. Seu nível mais baixo foi de
49%, em setembro. As três porcentagens acima estão, porém,
dentro da margem de erro.
Economia e política externa
Como salientaram Owen e Michael Bailey, especialista em eleições e professor de administração
pública da Universidade de Georgetown (EUA), o que, aos olhos
dos eleitores, mais une o governo
atual e o de Bush pai é a ênfase dada à política externa e a falta de
atenção aos problemas domésticos, sobretudo econômicos.
"Bush pai perdeu votos em 1992
porque o eleitorado se convenceu
de que ele dava atenção demais à
política internacional e negligenciava as questões domésticas. E os
democratas aproveitaram a situação para dizer que o crucial era a
economia", explicou Bailey.
Com efeito, uma das frases mais
utilizadas durante a campanha de
Bill Clinton, presidente dos EUA
entre 1993 e 2001, foi: "É a economia, estúpido!" (aludindo à constatação de que Bush pai era visto
como alguém que não dava atenção aos problemas internos).
Ora, a percepção popular do
atual governo indica uma preocupação com o fato de que a política
externa tomou o lugar das questões domésticas na agenda oficial.
"As dificuldades econômicas,
que afetam boa parte da população das classes menos abastadas e
da classe média, também são um
problema para Bush filho. Creio,
contudo, que haja uma relação estreita entre a economia e a crise
iraquiana", analisou Bailey.
"Afinal, as pessoas não sabem
exatamente por que a economia
não vai bem, no entanto vêem
uma quantidade enorme de dinheiro ser gasta na reconstrução
do Iraque e associam um fato ao
outro. Nas ruas, a percepção geral
é que a fortuna despendida no
Iraque deveria ser gasta nos EUA.
Os americanos ligam o preço da
reconstrução à morosidade econômica, ao aumento dos impostos estaduais e à falta de uma resposta adequada aos problemas
energéticos que o país enfrenta."
Para Bailey, o maior desafio da
atual administração é conseguir
persuadir o eleitorado americano
do sucesso da operação militar no
Iraque. "No passado, mesmo com
a grande oposição internacional
ao conflito, Bush [filho] ainda era
visto como um vencedor. Agora
ele é considerado um perdedor
por conta do caos que reina no
Iraque. Imagens do fracasso estão
sendo associadas ao presidente."
Segundo Owen, há uma só possibilidade de mudar esse quadro
rapidamente: a prisão de Osama
bin Laden, responsável pelo 11 de
Setembro, ou de Saddam. "Se um
deles for capturado antes da eleição, as chances de vitória de Bush
em 2004 serão grandes", disse.
Todavia, para a pesquisadora,
num ponto Bush filho tem uma
enorme vantagem sobre seu pai:
ainda não há um candidato democrata que "chegue nem perto
da força eleitoral de Clinton".
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