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AMÉRICA LATINA
País vai às urnas depois de quatro anos de crimes políticos, corrupção, tentativas de golpe e caos econômico
Conturbado, Paraguai elege presidente hoje
ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
Cerca de 2,4 milhões de paraguaios vão hoje às urnas para escolher um novo presidente, após
um período de quatro anos nos
quais houve o assassinato de um
vice-presidente, a renúncia de um
presidente, tentativas de golpe,
protestos populares e, principalmente, muitas denúncias de corrupção. As perspectivas de mudança nesse quadro, porém, não
são promissoras.
O Paraguai vive hoje uma de
suas mais graves crises econômicas, a sensação de impunidade sobre a corrupção é crescente, e o
presidente, Luis González Macchi, é reprovado, segundo as pesquisas, por 9 em 10 paraguaios.
Se um quadro como esse fosse
mostrado a um analista político
como exemplo geral, certamente
ele diria que a oposição estaria
com meio caminho andado para
vencer a eleição. No Paraguai, porém, a situação é diferente.
Segundo uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal "ABC Color", o favorito para vencer a eleição de hoje é o ex-jornalista e ex-ministro Nicanor Duarte Frutos,
membro do Partido Colorado, assim como o atual presidente. O
partido está no poder ininterruptamente desde 1947, na mais longa hegemonia partidária vigente
hoje no mundo.
Duarte teria, segundo a pesquisa, 40,1% das intenções de votos,
seguido pelo ex-empresário Pedro Fadul, com 29,2%, e o ex-vice-presidente Julio César Franco, do
Partido Liberal Radical Autêntico, com 16,2%.
A hegemonia colorada é apontada, em parte, como responsável
pela disseminação da corrupção,
hoje considerada parte indissociável da cultura política do país.
Segundo um ranking publicado
no ano passado pela organização
não-governamental Transparência Internacional, o Paraguai é hoje o país mais corrupto em toda a
América Latina.
Mas não é só a corrupção que
faz do trabalho do próximo presidente uma tarefa hercúlea. A atual
crise econômica do país é considerada a mais grave dos últimos
50 anos. A renda per capita está
em seu menor nível em duas décadas. O guarani, a moeda local,
caiu mais de 40% em relação ao
dólar no último ano, e cerca de
18% dos paraguaios estão desempregados. Com seguidos déficits
fiscais, o país ganhou a desconfiança do mercado internacional
sobre sua capacidade de pagar sua
dívida pública, de US$ 7,2 bilhões.
A todos esses problemas se soma a grande instabilidade política. Passados 14 anos do fim da ditadura do general Alfredo
Stroessner (1954-1989), também
um membro do Partido Colorado, a democracia paraguaia parece ainda engatinhar.
O atual presidente, González
Macchi, assumiu o poder em abril
de 1999, após a renúncia do presidente, Raúl Cubas Grau, provocada pelos protestos populares pelo
assassinato do vice-presidente,
Luís María Argaña. Apesar de a
Constituição prever novas eleições em casos como esse, uma decisão controvertida da Justiça permitiu a González Macchi terminar o mandato de cinco anos de
Cubas, que terminaria no próximo dia 15 de agosto. Com a legitimidade contestada, González
Macchi foi alvo de protestos, tentativas de golpe e um processo de
impeachment por corrupção,
derrubado por pequena margem
pelo Senado em fevereiro.
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