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ELEIÇÕES NOS EUA
Virtual candidato democrata promete estreitar relações com América Latina e critica negociações da Alca
Kerry diz que será "bom amigo" para o Brasil
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O senador John Kerry, virtual
candidato democrata à eleição
dos EUA, afirmou ontem que o
Brasil terá "um bom amigo" na
Casa Branca caso ele seja eleito
presidente em novembro.
Kerry detalhou ontem pela primeira vez sua plataforma de campanha para a América Latina e
afirmou que, se eleito, este será o
"século das Américas".
"Serei um presidente dos EUA
que sabe onde fica a América Latina", disse Kerry, ironizando a falta de atenção que seu adversário,
o presidente George W. Bush, dispensou à região durante todo o
seu mandato.
O senador anunciou planos para criar a "Comunidade das Américas" e mais verbas para ações
voltadas à região, mas condenou
o atual formato das negociações
para a formação da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
Após discurso em Washington
para cerca de 400 lideranças políticas e empresariais latino-americanas, Kerry foi questionado pela
Folha sobre como será a relação
Brasil-EUA caso consiga derrotar
o republicado Bush.
"Ainda não posso dizer isso,
porque não fui eleito presidente.
Mas assim que eu estiver na Presidência, fique certo de que vocês
terão um bom amigo", respondeu.
Em seu discurso, o democrata
criticou a forma como Bush está
negociando a Alca e afirmou que
os EUA não podem ter "um sistema de acordos comerciais baseado em um mesmo modelo que
sirva para todos".
"Esse tipo de atitude eliminou o
respeito e a parceria que marcaram os anos Clinton", afirmou
Kerry, referindo-se ao ex-presidente democrata Bill Clinton
(1993-2001). Kerry disse que os
anos 90 foram "particularmente
bons" para as relações entre EUA
e América Latina.
Nas negociações da Alca, o governo Bush vem pressionando todos os 33 outros países envolvidos
a acatar um único tratado com regras iguais para todos. Kerry repetiu duas vezes ser contra o "modelo único" e afirmou que os
acordos comerciais deverão estabelecer "regras claras" para as
áreas trabalhista e ambiental.
A exigência de regras nas duas
áreas pode trazer dificuldades para países como o Brasil, que registram elevada informalidade no
trabalho e dificuldades na aplicação de leis e políticas ambientais.
Kerry acusou Bush de "ignorar"
a América Latina e afirmou que
adotará um política de "proteção
aos governos democráticos da região". "Enquanto a democracia
avançou em países como Brasil,
México e Chile, não podemos ficar sentados assistindo quando
uma turba violenta depõe um
presidente, como aconteceu na
Bolívia [com Gonzalo Sanchez de
Lozada] e na Argentina [com Fernando de La Rua]."
"Também não vamos dar as
boas-vindas a um governo indicado por uma junta militar, como
aconteceu na Venezuela [em abril
de 2002, quando o presidente Hugo Chávez foi deposto por quase
48 horas]", afirmou.
Kerry prometeu criar o "Conselho para a Democracia" e triplicar
a verba do NED (National Endowment for Democracy), fundo
que obtém verbas do Congresso
dos EUA para ações e projetos em
vários países. Recentemente, documentos revelaram que o NED
ajudou a financiar grupos que fazem oposição ao presidente Chávez, que foi eleito democraticamente duas vezes, em 1998 e 2000.
O candidato democrata prometeu também triplicar os vistos de
estudante hoje concedidos a estudantes latino-americanos como
forma de estimular "corações e
mentes" na região. Disse que criará também "um caminho para a
cidadania na América" para que
trabalhadores ilegais possam pleitear sua legalização.
Tanto Kerry quanto Bush, hoje
virtualmente empatados segundo
várias pesquisas eleitorais, vêm
cortejando os votos do público latino nos EUA.
Atualmente, há cerca de 22 milhões de latinos aptos a votar em
novembro. O peso deles será fundamental em Estados importantes como Califórnia e Flórida.
No início do ano, a primeira plataforma de campanha de Bush foi
um plano para legalizar trabalhadores ilegais nos EUA.
Como seu adversário fez em outras ocasiões, Kerry também "arriscou um espanhol" no final de
seu discurso: "Que América sea
América. Para todos".
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