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URBANISMO
Cidade troca elevado por túnel com jardim em cima, ao custo de US$ 14,7 bi, mais cara obra pública dos EUA
Boston tenta revolucionar o trânsito urbano
ROBERTO DIAS
EM BOSTON
Imagine como seria derrubar o
Minhocão que corta o centro da
cidade de São Paulo e construir
em seu lugar um longo túnel, com
um grande jardim em cima.
Pois é essa a idéia da revolução
que Boston começou a concretizar neste mês, quando iniciou a
destruição de uma rampa da via
elevada que atravessa sua região
central. O plano é concluir até
2005 a reconstrução de seu sistema viário, maior obra pública da
história dos EUA -mais custosa
que o canal do Panamá.
Quando terminado, o projeto
terá espalhado pela cidade um
conjunto de "artérias", como são
conhecidos os túneis. Boston então implodirá o restante da via
elevada, que é pouco carinhosamente chamada de "Green Monster" (monstro verde).
São dois os os objetivos principais. Um é desafogar o trânsito, já
que os túneis terão mais pistas
que a via elevada, que passa mais
de dez horas por dia congestionada e que, claro, não tem muito potencial de expansão. Outro é revalorizar regiões como a que cerca o
porto, uma área que se deteriorou
com a construção do elevado, nos
anos 50 -quase duas décadas antes de seu similar paulistano.
Chamada, não sem motivo, de
"The Big Dig" (a grande escavação), a construção foi iniciada em
1991 e espalhou canteiros de obras
pela cidade. A última estimativa é
de que chegará ao final com um
custo de US$ 14,7 bilhões.
Em 1995, Boston terminou a
primeira grande parte do projeto,
um túnel sob o porto. Mas é a
obra em andamento que tem o
conceito mais polêmico.
"Tenho certeza de que outras cidades vão olhar isso", diz Thomas
Nally, diretor de planejamento do
Artery Business Comittee, uma
associação de empresas locais formada nos anos 80 para fazer
lobby pelo projeto. "Mas vão ver
também que Boston fez um grande investimento e grandes sacrifícios durante este caminho. Então,
elas terão que achar os recursos."
Outros especialistas, porém,
apontam que o projeto poderia
ser um pouco diferente. Romin
Koebel, professor de planejamento urbano da Boston University,
acha que uma saída seria destruir
apenas parte da via elevada.
"Uma das desvantagens do túnel é que você tem a sensação de
estar perdido. Se você tiver uma
parte da pista num viaduto e outra parte num túnel, então você
pode dirigir pela cidade e ver o
que ela tem. Você expõe a cidade,
e o setor imobiliário pode se valorizar", avalia Koebel.
Boston é o centro da sétima
maior região metropolitana dos
EUA, onde vivem cerca de 6 milhões de pessoas. Berço da independência americana, a cidade,
que fica no meio de uma das mais
ricas regiões do país, é hoje um
importante centro de negócios e
tem intensa vida universitária.
Mas há muito sofre com seu
trânsito, sobretudo por causa do
esgotamento da capacidade de
sua via elevada, que hoje transporta mais que o dobro de veículos que circulavam inicialmente.
Assim, a cidade passou a discutir a idéia de substituí-la por um
túnel no início do anos 80. Mas
demorou quase uma década para
arrumar dinheiro, e está levando
mais de uma década para fazê-lo.
Espera-se, porém, que o retorno
seja proporcional ao esforço.
Além da melhora no trânsito, o
governo acredita que o projeto
valorizará os terrenos da cidade e
a tornará mais atrativa para investimentos, aumentando o número
de empregos. Um estudo feito antes do início da obra previa a criação de 20 mil postos de trabalho.
Além disso, a nova via deverá,
de acordo com as estimativas, reduzir em 12% o nível de monóxido de carbono na cidade -apenas pelo fato de diminuir os índices de congestionamento.
Há ainda o aspecto estético. Na
superfície, no lugar onde hoje está
o elevado, a cidade vai construir
um parque de 120 mil metros
quadrados (equivale a 18 campos
de futebol) em formato de tira.
"Rebaixar a artéria central para
o subsolo é importante porque vai
ajudar a reagrupar Boston. A via
elevada é uma grande barreira entre as comunidades. Agora, a cidade poderá voltar a se ver como
uma só", afirma Barry Bluestone,
que é diretor do Centro para Política Urbana da Northeastern University, em Boston.
Outra questão com que a cidade
se deparou durante a construção
foi o destino a dar a toda a terra
removida para construir os túneis, 12,2 milhões de metros cúbicos, suficientes para encher 15 vezes o estádio local. O buraco de
Boston acabou servindo para
aterrar um parque local e diversas
outras obras pela região.
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