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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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Método para alfabetização é alvo de críticas

DA REDAÇÃO

Especialistas em alfabetização de adultos consultados pela Folha dizem ter dúvidas sobre a eficácia do método cubano de ensino adotado pelo governo venezuelano. O método, batizado de "Sim, eu posso", consiste de 65 lições gravadas em vídeo, apresentadas aos alunos por "facilitadores", treinados por 74 técnicos cubanos que estão na Venezuela para supervisionar a implementação do programa, entre eles sua criadora, Leonela Relys.
"É impossível alfabetizar adequadamente em três meses", afirma Stela Bertolo Piconez, professora livre-docente da Faculdade de Educação da USP e coordenadora do Núcleo de Estudos de Educação de Jovens e Adultos. Segundo ela, em três meses "é possível colocar alguém em nível alfabético", o que significa que a pessoa pode conhecer as letras e saber como juntá-las para formar uma palavra, mas não tem compreensão adequada do que está lendo. "Não adianta nada a pessoa ler um enunciado que diz para efetuar uma operação matemática, se para ela operação significa só cirurgia", afirma.
Para Maria Stela Graciani, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) que coordenou o programa Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), promovido pela Prefeitura de São Paulo no governo de Luiza Erundina (1989-1993), não é possível alfabetizar com aulas por vídeo.
"Faltam ao vídeo algumas características importantes, como a interatividade com o educador e o relacionamento entre as pessoas", diz. "Alfabetizar demanda incentivo, o desenvolvimento de autovalorização e de autoconfiança."
A campanha venezuelana prevê duas horas de aula ao dia, de segunda a sexta, durante três meses. Partindo do princípio de que os analfabetos conhecem os numerais e podem realizar operações matemáticas simples, o método relaciona números às letras do alfabeto para ensiná-los a ler.
Para Stela Piconez, essa idéia é duvidosa. "Os analfabetos fazem registros próprios para números, mas não há relação entre o registro e a idéia de texto", afirma. (RW)


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