São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / A HORA DO ALÍVIO

"Vamos eleger Barack Obama", diz Hillary

No discurso mais esperado da convenção democrata, ex-candidata apóia rival e chama partido à unidade para derrotar Bush

Antes do discurso, porém, Bill Clinton ainda insiste em que ex-primeira-dama seria candidata mais viável para o Partido Democrata

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER

No discurso mais esperado da convenção do Partido Democrata até agora, Hillary Clinton declarou seu apoio inequívoco ao ex-oponente, Barack Obama, com quem disputou ardentemente e para quem perdeu a indicação do partido à sucessão presidencial. "Barack Obama é meu candidato. E ele tem de ser nosso presidente", afirmou, sob aplausos de delegados segurando cartazes com a palavra "unidade".
"Essa é nossa missão, democratas. Vamos eleger Barack Obama presidente dos Estados Unidos", concluiu, numa frase que não constava do discurso distribuído aos jornalistas.
Na fala de 23 minutos, citou positivamente o nome de Obama 13 vezes -14 se contado o elogio a Michelle. Houve cutucão, é claro. A certa altura, numa das passagens mais aplaudidas, defendeu a gestão do marido, Bill Clinton, que foi por vezes criticada por Obama durante as primárias.
"Quando Barack Obama estiver na Casa Branca, vai revitalizar nossa economia, defender o trabalhador dos EUA e atender às exigências globais de nosso tempo. Democratas sabem como fazer isso. Se bem me lembro, o presidente Clinton e os democratas fizeram isso antes. E o presidente Obama e os democratas farão isso de novo."
Hillary foi antecedida por um vídeo em sua homenagem narrado pela filha, Chelsea, que depois subiu ao palco para apresentar a mãe. Bill Clinton estava na platéia, e ali ficou.

Dia de drama
Antes disso, enquanto os oradores esquentavam a platéia, um delegado solitário de Iowa erguia um cartaz com os dizeres: "Sem drama: vote em Obama". Mas o segundo dia da convenção foi pródigo em drama. A começar por Bill Clinton.
Enquanto o comando do partido contava com um discurso de união e enviava aos oradores do dia sugestões de elogios à ex-primeira-dama para serem inseridas em seus próprios discursos, o ex-presidente fugia do script e voltava a criticar indiretamente Barack Obama.
Em evento durante o dia na cidade, Clinton uma questão hipotética que sugeria que o Partido Democrata havia errado ao escolher o senador, e não sua mulher, como o candidato. "Suponha que você é um eleitor e tem o candidato X e o candidato Y. O candidato X concorda com você em tudo, mas você não acredita que ele será bem-sucedido. Já o candidato Y concorda com você em metade das questões, mas pode ser bem-sucedido. Em qual deles você votará?", indagou.
E respondeu: "É tão difícil saber como transformar boas intenções em mudanças reais na vida das pessoas que você representa". Após uma pausa, o político esclareceu: "Isso [que ele falava] não tem nada a ver com o que está acontecendo agora" -a convenção.
X, obviamente, é Obama; Y é a mulher de Bill, Hillary Clinton. De caso pensado ou sem calcular o peso de suas palavras, o ex-presidente deu mais um exemplo da dificuldade que o partido enfrenta para chegar ao consenso em torno da candidatura de Obama, que venceu a ex-primeira-dama nas primárias por pequena margem.
Segundo pesquisa da CNN divulgada na segunda, 27% dos eleitores de Hillary dizem que votarão em John McCain; no final de junho, apenas 16% dos clintonistas ouvidos diziam que votariam no oponente. O partido esperava o oposto: que, com o tempo e a consolidação do nome de Obama como candidato, os descontentes minguassem.
Outros sinais indicavam o descontentamento do ex-presidente. Assessores diziam que ele não estava feliz com o tema que lhe foi destinado no discurso de hoje, segurança nacional; preferia falar de economia.
Ao longo da noite, depois da avaliação do comando da campanha de que o primeiro dia havia sido brando demais em relação a McCain e ao governo de George W. Bush, outros oradores elevaram o tom das críticas. Do governador de Nova York, David Paterson, ao de Ohio, Ted Strickland, todos seguiram a orientação.
O espírito da noite pegou até mesmo o ex-governador da Virgínia, o democrata conservador Mark Warner, o principal orador. "Muitas pessoas me perguntam qual é minha maior crítica a George W. Bush", disse. "É o fato de que o presidente nunca usou nosso maior recurso: o caráter e a resolução do povo americano. Ele nunca nos pediu para nos erguermos."
Na platéia, delegados seguravam cartazes recém-confeccionados com os dizeres: "McCain, mais do mesmo".


Texto Anterior: ONU confirma que Otan matou 90 civis afegãos
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.