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SUCESSÃO NOS EUA / A HORA DO ALÍVIO
"Vamos eleger Barack Obama", diz Hillary
No discurso mais esperado da convenção democrata, ex-candidata apóia rival e chama partido à unidade para derrotar Bush
Antes do discurso, porém, Bill Clinton ainda insiste em que ex-primeira-dama seria candidata mais viável
para o Partido Democrata
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER
No discurso mais esperado
da convenção do Partido Democrata até agora, Hillary Clinton declarou seu apoio inequívoco ao ex-oponente, Barack
Obama, com quem disputou ardentemente e para quem perdeu a indicação do partido à sucessão presidencial. "Barack
Obama é meu candidato. E ele
tem de ser nosso presidente",
afirmou, sob aplausos de delegados segurando cartazes com
a palavra "unidade".
"Essa é nossa missão, democratas. Vamos eleger Barack
Obama presidente dos Estados
Unidos", concluiu, numa frase
que não constava do discurso
distribuído aos jornalistas.
Na fala de 23 minutos, citou
positivamente o nome de Obama 13 vezes -14 se contado o
elogio a Michelle. Houve cutucão, é claro. A certa altura, numa das passagens mais aplaudidas, defendeu a gestão do marido, Bill Clinton, que foi por vezes criticada por Obama durante as primárias.
"Quando Barack Obama estiver na Casa Branca, vai revitalizar nossa economia, defender o
trabalhador dos EUA e atender
às exigências globais de nosso
tempo. Democratas sabem como fazer isso. Se bem me lembro, o presidente Clinton e os
democratas fizeram isso antes.
E o presidente Obama e os democratas farão isso de novo."
Hillary foi antecedida por um
vídeo em sua homenagem narrado pela filha, Chelsea, que depois subiu ao palco para apresentar a mãe. Bill Clinton estava na platéia, e ali ficou.
Dia de drama
Antes disso, enquanto os oradores esquentavam a platéia,
um delegado solitário de Iowa
erguia um cartaz com os dizeres: "Sem drama: vote em Obama". Mas o segundo dia da convenção foi pródigo em drama. A
começar por Bill Clinton.
Enquanto o comando do partido contava com um discurso
de união e enviava aos oradores
do dia sugestões de elogios à ex-primeira-dama para serem inseridas em seus próprios discursos, o ex-presidente fugia do
script e voltava a criticar indiretamente Barack Obama.
Em evento durante o dia na
cidade, Clinton uma questão
hipotética que sugeria que o
Partido Democrata havia errado ao escolher o senador, e não
sua mulher, como o candidato.
"Suponha que você é um eleitor
e tem o candidato X e o candidato Y. O candidato X concorda
com você em tudo, mas você
não acredita que ele será bem-sucedido. Já o candidato Y concorda com você em metade das
questões, mas pode ser bem-sucedido. Em qual deles você
votará?", indagou.
E respondeu: "É tão difícil saber como transformar boas intenções em mudanças reais na
vida das pessoas que você representa". Após uma pausa, o
político esclareceu: "Isso [que
ele falava] não tem nada a ver
com o que está acontecendo
agora" -a convenção.
X, obviamente, é Obama; Y é
a mulher de Bill, Hillary Clinton. De caso pensado ou sem
calcular o peso de suas palavras, o ex-presidente deu mais
um exemplo da dificuldade que
o partido enfrenta para chegar
ao consenso em torno da candidatura de Obama, que venceu a
ex-primeira-dama nas primárias por pequena margem.
Segundo pesquisa da CNN
divulgada na segunda, 27% dos
eleitores de Hillary dizem que
votarão em John McCain; no final de junho, apenas 16% dos
clintonistas ouvidos diziam
que votariam no oponente. O
partido esperava o oposto: que,
com o tempo e a consolidação
do nome de Obama como candidato, os descontentes minguassem.
Outros sinais indicavam o
descontentamento do ex-presidente. Assessores diziam que
ele não estava feliz com o tema
que lhe foi destinado no discurso de hoje, segurança nacional;
preferia falar de economia.
Ao longo da noite, depois da
avaliação do comando da campanha de que o primeiro dia havia sido brando demais em relação a McCain e ao governo de
George W. Bush, outros oradores elevaram o tom das críticas.
Do governador de Nova York,
David Paterson, ao de Ohio,
Ted Strickland, todos seguiram
a orientação.
O espírito da noite pegou até
mesmo o ex-governador da Virgínia, o democrata conservador
Mark Warner, o principal orador. "Muitas pessoas me perguntam qual é minha maior crítica a George W. Bush", disse.
"É o fato de que o presidente
nunca usou nosso maior recurso: o caráter e a resolução do
povo americano. Ele nunca nos
pediu para nos erguermos."
Na platéia, delegados seguravam cartazes recém-confeccionados com os dizeres:
"McCain, mais do mesmo".
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