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Governo do Zimbábue coage eleitores, dizem testemunhas
Milícias vigiam urnas e obrigam zimbabuanos a entregar número de cédulas
Ex-candidato opositor recua e diz que poderá negociar com Mugabe mesmo após pleito; próximos dias serão teste para poder de ditador
Emmanuel Chitate/Reuters
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Em Bulawayo, mulher mostra a tinta no dedo que confirma votação; eleitores de todo o país foram coagidos a participar ontem
DA REDAÇÃO
Com baixo comparecimento
e relatos de coerção, zimbabuanos votaram ontem no segundo
turno de uma eleição presidencial na qual espera-se que o único candidato, o ditador Robert
Mugabe, declare vitória nos
próximos dias.
A votação, organizada apesar
de críticas quase universais, foi
considerada uma farsa pelos
EUA e pela União Européia,
que já declararam que não aceitarão o resultado.
O ex-candidato opositor
Morgan Tsvangirai, do Movimento pela Mudança Democrática (MDC), saiu brevemente de seu refúgio na Embaixada
da Holanda em Harare (capital) ontem para denunciar o
"exercício de intimidação em
massa, com pessoas em todo o
país sendo obrigadas a votar".
Tsvangirai venceu Mugabe
no primeiro turno, em 29 de
março, por 47,9% a 43,2%. Apesar de ter o nome na cédula, ele
retirou sua candidatura no último domingo devido à violenta
repressão contra seu partido,
que matou quase 90 pessoas e
expulsou 200 mil de suas casas.
Refugiado há uma semana,
ele baixou o tom e disse ontem
que poderá negociar com o governo após o pleito, contrariando declarações anteriores.
Mugabe, indiferente à condenação externa, votou com
sua mulher nos arredores de
Harare, e disse que estava
"muito otimista e muito animado" com a eleição. Analistas
estimam que o ditador de 84
anos -28 deles no poder- busque uma ampla vitória para
melhorar sua posição em negociações futuras com o MDC.
Intimidação
O clima entre a população
era diferente. "A maioria de nós
só está votando para que nos
deixem em paz", disse o zimbabuano Joseph Kundiona ao site
de notícias locais "ZimOnline".
Na cidade de Chitungwiza, ao
sul da capital, testemunhas
afirmam que eleitores foram
obrigados a entregar o número
de série de suas cédulas, assim
como documentos de identidade, a membros do partido governista, Zanu-PF, para que
seu voto pudesse ser conferido.
Em alguns subúrbios de Harare, residentes disseram ao
"New York Times" que foram
reunidos na véspera da eleição,
forçados a cantar hinos pró-Mugabe e depois levados às seções eleitorais. Ali foram obrigados a copiar os números de
série das cédulas. "Votei em
Mugabe por que não queria arriscar a vida", disse um eleitor
que pediu anonimato.
Em áreas rurais, moradores
foram forçados a se declarar
analfabetos para permitir a entrada na cabine de votação de
"assistentes" leais a Mugabe.
Relatos dão conta de que o
comparecimento no campo foi
maior do que em zonas urbanas, mas mesmo assim muito
inferior ao do primeiro turno.
Diferentemente da votação
de março, quando o resultado
demorou mais de um mês para
ser divulgado, espera-se que o
resultado do segundo turno
saia rapidamente, para permitir que Mugabe vá já reeleito à
cúpula da União Africana (UA)
na próxima semana no Egito.
Os próximos dias serão um
teste para ver se o ditador consolidará o poder -sobretudo
entre líderes africanos, considerados os únicos capazes de
influenciar o país. Sinais iniciais de antagonismo foram rechaçados pelo ditador: "Quero
ver que líder africano levantará
o dedo contra o Zimbábue (...),
pois as eleições foram livres".
É também aguardada com
ansiedade a reação da Comunidade para o Desenvolvimento
da África Austral, que criticou a
realização do segundo turno.
O Conselho de Segurança da
ONU expressou ontem consternação com a realização do
segundo turno, que segundo o
órgão ocorreu sem condições
para um voto livre e justo. Uma
declaração mais forte foi barrada pela África do Sul.
Com agências internacionais
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