São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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SOCIEDADE

Livros contam como vivem filhos da elite de NY, parte mais rica de país mais rico; pais temem relação deles com dinheiro

"Super-riquinhos" viram obsessão nos EUA

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Muita gente desconfiava da existência deles, ao ver passar os Bentleys (carros de US$ 400 mil) entrando e saindo dos edifícios mais caros da Park Avenue (apartamentos de US$ 10 milhões) ou reparar no batalhão de babás e seguranças escoltando um exemplar até o lado "bem" do Central Park (ao longo da Quinta Avenida, entre as ruas 64 e 86).
Mas ninguém tinha lido preto no branco como eles nascem, crescem e vivem, até que duas amigas, ex-estudantes da Universidade de Nova York, resolvessem contar tudo e com isso abrir uma comporta de livros, fofocas e comentários a respeito. São os super-riquinhos, os filhos pequenos da elite nova-iorquina, a parte mais rica do país mais rico.
Eles dão suas festinhas de aniversário na loja de brinquedos F.A.O. Schwarz (US$ 2.000 para dez crianças) e no verão podem ir esquiar em Aspen (Colorado), fazer safári no Quênia ou "jornadas culturais" na China (de US$ 3.000 a US$ 5.000 por pessoa).
Quando papai quer passear com o filhinho, marca uma visita monitorada ao pregão da Bolsa de Valores, em Wall Street. "Geralmente os pais não se envolvem na criação dos filhos, a não ser pelo lado financeiro", disse Phyllis Heath, professora da Central Michigan University especializada na relação pais-filhos.
O principal livro a tratar do assunto é "The Nanny Diaries" (os diários da babá), um dos maiores sucessos literários do ano nos Estados Unidos, escrito por duas amigas que trabalharam por pelo menos dois anos para mais de 40 famílias endinheiradas de Park Avenue, em Nova York.
Nele, crianças de 4 anos comem coquille st. jacques na lancheira da escola e têm aulas de violino e patinação no gelo nas "tardes livres". Antes de dormir, as mães lêem versos de sonetos de Shakespeare para embalar o sono dos "futuros senhores do universo", na definição do escritor Tom Wolfe, que havia criado o termo em "Fogueira das Vaidades".
Mas há outros lançamentos, refletindo a quase-obsessão pela vida dos minimilionários. O mais recente é "Snobbery: The American Version" (esnobismo - a versão americana), de Joseph Epstein, que dedica vários capítulos às crianças dos prósperos (leia texto nesta página).
"Foi tudo inspirado em nossas experiências, sem exagero", afirmou Emma McLaughlin, uma das autoras de "Nanny". Essa inédita olhada no espelho aos olhos da multidão causou muita polêmica e algumas ameaças de processo, mas também reflexão em parte da elite da cidade.
A pedido de seus clientes, a empresa de gerenciamento financeiro HNW fez uma pesquisa sobre o assunto. Foram ouvidos apenas nova-iorquinos que se encaixassem na categoria dos pentamilionários (termo do mercado financeiro que define pessoas com mais de US$ 5 milhões) e tivessem filhos menores de cinco anos.
Segundo o resultado, 61% dos pais dizem que sua principal preocupação em relação ao futuro de seus filhos é a probabilidade de eles virem a dar muito valor aos bens materiais, enquanto 57% acham que seus descendentes serão ingênuos quanto ao valor do dinheiro e à dificuldade em ganhá-lo. A maioria absoluta não sabe o que fazer para evitar isso.


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