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ORIENTE MÉDIO
Para analistas, enquanto amplia a ocupação, levante expõe a urgência de uma saída justa para a questão palestina
Intifada, 3, piora a vida palestina, mas embaraça Israel
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Três anos após seu início, a Intifada parece ser um rotundo fracasso. Mas, para analistas ouvidos
pela Folha, o levante contra a ocupação israelense tem um aspecto
bem-sucedido: mostrou que não
haverá paz sem uma solução justa
para o problema palestino.
"A Intifada não trouxe um Estado independente aos palestinos.
Ao contrário, aprofundou a ocupação. Poderia, então, ser vista
como um fracasso", disse o israelense Menachem Klein, professor
do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Bar-Ilan,
em Israel. "Mas o preço que Israel
paga para manter a ocupação é
mais alto do que nunca. Nesse
sentido, a Intifada é um sucesso."
Cerca de 3.500 pessoas morreram -em torno de 2.600 palestinos e 900 israelenses- desde 28
de setembro de 2000.
Nesse período, Israel reocupou
praticamente toda a Cisjordânia.
A economia e a infra-estrutura
palestinas estão em frangalhos, e
o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser
Arafat, está há 21 meses isolado
em seu QG em Ramallah. Em Israel, a população vive sob a ameaça de atentados terroristas, e a
economia está em recessão.
O processo de paz, que há três
anos apontava para a criação de
um Estado palestino, passa por
um momento extremamente difícil. Hoje, um recuo do Exército israelense às suas posições em 2000
já seria uma boa notícia.
Ninguém discorda dos efeitos
devastadores da Intifada. Mas dizer que ela é um fracasso pressupõe aceitar que o levante tenha sido deflagrado propositadamente.
Aí começam as divergências.
Proposital ou espontâneo?
"A liderança palestina estava errada ao concluir que poderia obter mais por meio da violência do
que por meio da negociação", escreveu Alon Ben-Meir, diretor do
programa de Oriente Médio do
World Policy Institute (NY), em
artigo. "Não há nada, nem uma
única vitória a mostrar."
De fato, já no ano passado surgiram vozes entre os palestinos
contra a Intifada. "Alguns dos
nossos cometeram erros terríveis,
e estamos pagando um preço alto", afirmou Jibril Rajoub, ex-chefe de segurança da Cisjordânia.
Menachem Klein discorda que a
Intifada tenha sido planejada:
"Havia muito descontentamento
nos territórios, mas a Intifada começou como uma reação à morte
de palestinos em consequência da
repressão israelense durante os
protestos pela visita de Sharon à
mesquita de Al Aqsa", disse.
Em 28 de setembro de 2000, o
então líder da oposição Ariel Sharon, contrário ao processo de paz,
visitou à Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar mais sagrado
para os muçulmanos. Os judeus
chamam o local de Monte do
Templo porque lá ficava o templo
judeu destruído no ano 70 pelos
romanos, do qual restou apenas o
Muro das Lamentações.
No dia seguinte, em pleno dia
do Ano Novo judaico, palestinos
apedrejaram judeus que rezavam
diante do Muro. As forças israelenses reagiram, sete palestinos
morreram. "Em vez de acalmar os
protestos, Israel reagiu com muita
força. Um conflito que poderia ficar circunscrito a Jerusalém virou
um nova Intifada", diz Klein.
Para Klein, havia setores palestinos favoráveis a um levante diante dos resultados do processo de
paz. "Os mais radicais queriam
uma Intifada violenta, outros defendiam um levante pacífico. Arafat foi pressionado a permitir protestos. Mas não permitiu."
"Não foi uma estratégia oficial.
O que aconteceu é que, à medida
que a Intifada se aprofundou e Israel se comportou de forma cada
vez mais agressiva, o aparato de
segurança da ANP foi se envolvendo no conflito", afirma.
"Após três anos, todas as partes
envolvidas lançam mão do terrorismo. Inclusive Israel, com seus
assassinatos seletivos e ataques a
civis", diz Klein. Israel diz que a
perseguição aos terroristas é fundamental para sua defesa.
O palestino Issam Nassar, diretor do Instituto de Estudos de Jerusalém e professor da Universidade Al Quds, acha que a responsabilidade de Arafat em relação à
Intifada não está em alguma decisão que ele tenha tomado, mas na
"falta de decisão".
"Arafat era contra os ataques
suicidas do Hamas e do Jihad Islâmico, contra as ações armadas do
Fatah. Mas não tomou decisões
rápidas para marginalizar esses
grupos", diz. "A militarização
conduziu a uma confrontação total. Não estamos preparados para
enfrentar Israel militarmente. As
coisas fugiram ao controle, saíram pela culatra", afirma Nassar.
Ele acha, no entanto, um equívoco concluir que a Intifada é um
fracasso: "As circunstâncias que
levaram a seu surgimento continuam presentes e, se não forem
enfrentadas, haverá outras Intifadas, talvez até piores, no futuro".
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