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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Para analistas, enquanto amplia a ocupação, levante expõe a urgência de uma saída justa para a questão palestina

Intifada, 3, piora a vida palestina, mas embaraça Israel

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

Três anos após seu início, a Intifada parece ser um rotundo fracasso. Mas, para analistas ouvidos pela Folha, o levante contra a ocupação israelense tem um aspecto bem-sucedido: mostrou que não haverá paz sem uma solução justa para o problema palestino.
"A Intifada não trouxe um Estado independente aos palestinos. Ao contrário, aprofundou a ocupação. Poderia, então, ser vista como um fracasso", disse o israelense Menachem Klein, professor do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Bar-Ilan, em Israel. "Mas o preço que Israel paga para manter a ocupação é mais alto do que nunca. Nesse sentido, a Intifada é um sucesso."
Cerca de 3.500 pessoas morreram -em torno de 2.600 palestinos e 900 israelenses- desde 28 de setembro de 2000.
Nesse período, Israel reocupou praticamente toda a Cisjordânia. A economia e a infra-estrutura palestinas estão em frangalhos, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, está há 21 meses isolado em seu QG em Ramallah. Em Israel, a população vive sob a ameaça de atentados terroristas, e a economia está em recessão.
O processo de paz, que há três anos apontava para a criação de um Estado palestino, passa por um momento extremamente difícil. Hoje, um recuo do Exército israelense às suas posições em 2000 já seria uma boa notícia.
Ninguém discorda dos efeitos devastadores da Intifada. Mas dizer que ela é um fracasso pressupõe aceitar que o levante tenha sido deflagrado propositadamente. Aí começam as divergências.

Proposital ou espontâneo?
"A liderança palestina estava errada ao concluir que poderia obter mais por meio da violência do que por meio da negociação", escreveu Alon Ben-Meir, diretor do programa de Oriente Médio do World Policy Institute (NY), em artigo. "Não há nada, nem uma única vitória a mostrar."
De fato, já no ano passado surgiram vozes entre os palestinos contra a Intifada. "Alguns dos nossos cometeram erros terríveis, e estamos pagando um preço alto", afirmou Jibril Rajoub, ex-chefe de segurança da Cisjordânia.
Menachem Klein discorda que a Intifada tenha sido planejada: "Havia muito descontentamento nos territórios, mas a Intifada começou como uma reação à morte de palestinos em consequência da repressão israelense durante os protestos pela visita de Sharon à mesquita de Al Aqsa", disse.
Em 28 de setembro de 2000, o então líder da oposição Ariel Sharon, contrário ao processo de paz, visitou à Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos. Os judeus chamam o local de Monte do Templo porque lá ficava o templo judeu destruído no ano 70 pelos romanos, do qual restou apenas o Muro das Lamentações.
No dia seguinte, em pleno dia do Ano Novo judaico, palestinos apedrejaram judeus que rezavam diante do Muro. As forças israelenses reagiram, sete palestinos morreram. "Em vez de acalmar os protestos, Israel reagiu com muita força. Um conflito que poderia ficar circunscrito a Jerusalém virou um nova Intifada", diz Klein.
Para Klein, havia setores palestinos favoráveis a um levante diante dos resultados do processo de paz. "Os mais radicais queriam uma Intifada violenta, outros defendiam um levante pacífico. Arafat foi pressionado a permitir protestos. Mas não permitiu."
"Não foi uma estratégia oficial. O que aconteceu é que, à medida que a Intifada se aprofundou e Israel se comportou de forma cada vez mais agressiva, o aparato de segurança da ANP foi se envolvendo no conflito", afirma.
"Após três anos, todas as partes envolvidas lançam mão do terrorismo. Inclusive Israel, com seus assassinatos seletivos e ataques a civis", diz Klein. Israel diz que a perseguição aos terroristas é fundamental para sua defesa.
O palestino Issam Nassar, diretor do Instituto de Estudos de Jerusalém e professor da Universidade Al Quds, acha que a responsabilidade de Arafat em relação à Intifada não está em alguma decisão que ele tenha tomado, mas na "falta de decisão".
"Arafat era contra os ataques suicidas do Hamas e do Jihad Islâmico, contra as ações armadas do Fatah. Mas não tomou decisões rápidas para marginalizar esses grupos", diz. "A militarização conduziu a uma confrontação total. Não estamos preparados para enfrentar Israel militarmente. As coisas fugiram ao controle, saíram pela culatra", afirma Nassar.
Ele acha, no entanto, um equívoco concluir que a Intifada é um fracasso: "As circunstâncias que levaram a seu surgimento continuam presentes e, se não forem enfrentadas, haverá outras Intifadas, talvez até piores, no futuro".

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