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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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COMENTÁRIO

Faltam líderes que façam a paz

Ahikam Seri - 26.set.2003/ Folha Imagem
Palestinos esperam um táxis para levá-los a Jerusalém, diante da bandeira de segurança israelense em vilarejo da Cisjordânia


SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

Três anos depois do inicio da Intifada, o futuro da questão israelo-palestina é uma completa incógnita. Uma coisa apenas é certa: a situação só piorou para os dois lados. Mas, principalmente, para o lado mais fraco, o palestino.
O fracasso da Intifada em seu justo objetivo de encerrar a longa ocupação israelense de Gaza e Cisjordânia, iniciada após a guerra árabe-israelense de 1967, é evidente em todos os níveis.
Politicamente, a causa palestina segue tendo a simpatia geral. Mas os métodos da Intifada trouxeram repulsa e condenação mundiais. Antes, apenas os palestinos eram vistos como fracos (uma visão distorcida, é preciso dizer, já que Israel, apesar de sua formidável força militar, não tem meios para enfrentar o brutal rejeicionismo do mundo árabe, recheado de crescente anti-semitismo).
Agora as imagens dos desumanos atentados suicidas, destrocando corpos de crianças, mulheres e idosos, trouxeram simpatia também aos israelenses.
E vários lideres mundiais, principalmente europeus, antes mais ativos na defesa dos palestinos, tomaram uma atitude mais equilibrada diante dos horrores do terrorismo dos extremistas.
Economicamente, os palestinos nunca estiveram tão mal. As medidas draconianas impostas por Israel para tentar conter o terror parou a já débil economia palestina.
Os palestinos foram impedidos de trabalhar em Israel (uma das maiores fontes de renda dos territórios) e tiveram sua circulação limitada, fatalmente atingindo todos os setores econômicos. O desemprego passa de 50%.
Socialmente, vê-se hoje nas ruas de Gaza e Cisjordânia a glorificação do terror e da violência e o incitamento ao ódio contra Israel que envenenam as mentes, de crianças a idosos, levando analistas a prever que será necessário uma nova geração para mudar a mentalidade atual.
E líderes moderados, que tentam levantar a bandeira da resistência pacifica à ocupação, são ostracizados e muitas vezes agredidos fisicamente.

Fragmentação política
O fortalecimento de grupos extremistas como Hamas e Jihad Islâmico só trazem malefícios aos palestinos.
Eles não aceitam a existência de Israel nem a democracia, desejando impor um Estado islâmico em toda a Palestina, incluindo Israel. E, fortalecidos, rejeitam a pressão de líderes mais moderados da Autoridade Nacional Palestina para entregar suas armas. A possibilidade de guerra civil palestina nunca foi tão grande.
O argumento dos moderados é cristalino: os palestinos devem ter uma só voz (e uma só força militar) para negociar efetivamente com Israel e erguer sua nação.
A fragmentação politica facilita a vida dos falcões israelenses, que argumentam que não se pode negociar com a ANP porque os extremistas têm outra agenda política e não respondem ao governo palestino.
A linha dura israelense crê que, após o 11 de Setembro e a Guerra do Iraque, a equação geopolítica seja amplamente favorável a Israel. Saddam Hussein, um dos maiores inimigos do pais, foi deposto, e o futuro governo iraquiano, tutelado por Washington, será forçado a ter relações com Israel.
A queda de Saddam levou Israel a achar que poderia também mudar o regime palestino, deportando Iasser Arafat. Mas, nesse caso, houve veto americano.
Já Síria e Irã, os outros dois maiores inimigos de Israel, também estão na mira de Washington, fortalecendo a posição israelense.
Essa situação levou os falcões israelenses a imaginar que o uso da força seria capaz de conter a Intifada. Estão enganados.
Não haverá paz em Israel sem uma justa solução para os palestinos. Demograficamente, eles serão maioria na região em poucas décadas.
A não ser que queira instalar um regime de apartheid, a democracia israelense deve reconhecer que precisa ceder. Os palestinos, por sua vez, precisam reconhecer os temores de segurança israelenses como legítimos.
Como isso será feito, ninguém sabe. O pessimismo impera. A única esperança é a velha sabedoria popular: as pesquisas apontam que a maioria dos dois lados deseja a paz, o fim da violência e a retomada das negociações.
Está faltando uma liderança politica que dignifique essa aspiração.

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