São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Farc libertam primeiro refém prometido

Soldado Josué Daniel Calvo, capturado no ano passado, é entregue em missão conduzida por helicópteros brasileiros

Segundo a senadora Piedad Córdoba, voos ameaçaram a operação; amanhã, o preso mantido há mais tempo por guerrilha deve ser entregue

DA REDAÇÃO

Em uma operação humanitária conduzida por dois helicópteros militares brasileiros, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) libertaram ontem o primeiro dos dois reféns cujas solturas haviam sido anunciadas um ano atrás.
O soldado Josué Daniel Calvo, 23, capturado pela narcoguerrilha em confronto com o Exército no ano passado, desembarcou na cidade de Villavicencio (130 km ao sul de Bogotá) no início da tarde, onde era aguardado por familiares.
Aparentando fragilidade, porém em melhores condições do que davam conta os relatos prévios à operação, Calvo dispensou uma cadeira de rodas e dirigiu-se ao hangar do aeroporto apoiando-se numa bengala improvisada. O soldado não deu declarações, mas acenou aos jornalistas indicando gratidão.
"A felicidade retornou à nossa casa", disse o pai de Calvo.
Para amanhã está prevista a entrega do também militar Pablo Emilio Moncayo, 32, o mais antigo prisioneiro das Farc junto com José Martinez. Eles foram capturados pela guerrilha em 21 de dezembro de 1997.
Acompanharam a operação nos helicópteros militares brasileiros, realizada em local não revelado do departamento de Meta (região central), a senadora oposicionista Piedad Córdoba, que liderou a negociação com as Farc, e os delegados do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e da igreja.

Sobrevoos
Após chegada de Calvo, Córdoba, que já liderara missões do tipo e mantém uma conturbada relação com o governo Álvaro Uribe, denunciou supostos sobrevoos não identificados nas cercanias do local da entrega do refém, de acordo com relatos dos guerrilheiros à senadora.
"A comunidade [local] disse ter se sentido muito ameaçada, o Exército estava a dois quilômetros do ponto da entrega", disse. "Isso será discutido com o Alto Comissariado de Paz [da Colômbia] para evitar que amanhã [hoje] haja alguma notícia que paralise a operação."
Segundo Córdoba, as Farc informaram ainda que a entrega dos restos mortais do policial Julián Guevara, morto em cativeiro em 2006, prometida pelo grupo, não poderá ser realizada por dificuldades de locomoção devido a operações do Exército.
A última leva de entregas unilaterais de presos, em fevereiro do ano passado -também realizada com o apoio logístico brasileiro-, esteve ameaçada por voos militares. Mas a operação foi mantida, e seis reféns foram soltos, incluindo o ex-governador de Meta, Alan Jara.
O alto comissário para a Paz colombiano, Frank Pearl, no entanto, disse que os voos relatados eram comerciais e reforçou o compromisso assumido pelo Exército durante a semana de interromper todas as atividades militares na região para viabilizar a missão. "O governo pode garantir que houve todo o compromisso, e foi uma operação impecável", afirmou.
A libertação de Calvo, com meses de atraso em relação ao inicialmente anunciado, dá sequência aos acenos das Farc no sentido de tentar uma troca negociada com o governo dos cerca de 500 guerrilheiros presos atualmente pelos agora 22 militares e policiais em cativeiro.
Mas Uribe reluta em aceitar um acordo. Após a soltura de Calvo, o presidente -que deve boa parte de sua alta popularidade à política de acosso que debilitou o grupo- condicionou a troca a que os guerrilheiros "não voltem a delinquir".


Com agências internacionais


Texto Anterior: Preocupação de Ratzinger era maior por doutrina
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.