Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VOZ DA FILHA
Mito sobre Strauss "é delírio"
DA REPORTAGEM LOCAL
Jenny Strauss Clay é pesquisadora de literatura grega na Universidade da Virgínia. Mas é também filha de Leo Strauss, morto
há 30 anos e visto por muitos
-incluindo aí liberais- como o
ideólogo póstumo do neoconservadorismo nos EUA.
Ela qualifica como "puro delírio" as referências a uma espécie
de conspiração velada, na qual
discípulos de seu pai teriam se
apoderado de postos importantes
na administração Bush para pôr
em prática uma política externa
agressiva.
Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha.
(JBN)
Folha - Por que alguns neoconservadores reivindicam como raiz
teórica o pensamento de Strauss?
Jenny Strauss Clay - Isso é para
mim um mistério. Creio que tudo
começou com a acusação de Hillary Clinton de que haveria hoje
uma "vasta conspiração de direita". O que pressupõe a existência
de algum guru que possa organizá-la. Não sei, no entanto, por que
a escolha recaiu sobre Strauss. O
fato é que a mídia tem publicado
coisas malucas, sem sentido. Fala-se da "Conexão Wohlstetter".
Que eu saiba, é puro delírio.
Folha - Mas não há sequer um
único indício do que possa ter gerado essa idéia de conspiração?
Strauss Clay - Meu pai foi sobretudo um professor importante,
que deve ter influenciado muita
gente, de direita e de esquerda. Insisto: há muitos straussianos de
esquerda. Mas Strauss foi um
conservador, no sentido de não
acreditar que mudanças seriam
necessariamente no sentido de
melhoria social. Muitos de seus
estudantes passaram a lecionar.
Outros foram trabalhar para o governo. O que não me parece caracterizar uma "conspiração".
Folha - O prof. Strauss rejeitava a
relatividade dos valores morais.
Ele não estaria sendo hoje vítima
dessa mesma relatividade?
Strauss Clay - Strauss se opunha
ao relativismo porque era nesse
sentido que caminhava o dogmatismo moderno. E todo dogmatismo deve ser questionado.
Folha - A sra. lembra se personagens como Paul Wolfowitz, Robert
A. Goldwin, Carnes Lord ou Irving
Kristol frequentavam a casa de sua
família, em Chicago?
Strauss Clay - Encontrei-me com
Paul Wolfowitz duas vezes, há
muitos anos, e bem depois da
morte de meu pai. Conheci Carnes Lord porque ele foi meu colega como professor da Universidade da Virgínia. Nunca encontrei
Irving Kristol. Quanto a Robert
Goldwin, ele foi aluno de meu pai
e um amigo da família. Quando
me tornei cidadã americana, ele
foi minha testemunha no processo de naturalização.
Folha - Gente do Partido Republicano não estaria usando o nome de
Leo Strauss para provar que o neoconservadorismo tem bases teóricas bem sólidas?
Strauss Clay - Tenho dúvidas, e
pode ser até algum absurdo. Se alguém acredita que esses cidadãos
são espertos, é em razão da astúcia ou dos sucessos que demonstram, e não porque leram Platão.
Por aqui as pessoas dizem qualquer coisa, até que o livro predileto de Bill Clinton era uma biografia de Marco Aurélio.
Texto Anterior: MoveOn faz eleições primárias Próximo Texto: Voz da "esquerda": Oposição a Bush procura táticas Índice
|