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VOZ DA "ESQUERDA"
Oposição a Bush procura táticas
DA REPORTAGEM LOCAL
Robert Kuttner foi um dos três
fundadores, em 1990, da American Prospect, um site e uma revista política que procuram ampliar
a influência de uma certa esquerda moderada no Partido Democrata. A revista é apoiada por um
consórcio de 125 ONGs liberais.
Kuttner e seu grupo trabalharão,
nas primárias democratas, pela
candidatura do ex-governador de
Vermont Howard Dean.
Leia a seguir sua entrevista à Folha:
(JBN)
Folha - Há talvez nos EUA um amplo consenso conservador. Não será articulada nenhuma reação?
Robert Kuttner - Não creio que
exista um consenso conservador.
São majoritárias, na opinião pública, opiniões liberais sobre
grande parte dos assuntos. Al Gore [candidato presidencial do Partido Democrata] obteve a maioria
dos votos em 2000. Bush procura
mimetizar a plataforma democrata em questões saúde, educação
ou políticas públicas para as
crianças. O problema não está,
portanto, na opinião pública. Está
no fato de os norte-americanos
não saberem ainda aquilo que os
democratas pretendem.
Folha - Qual seria a reação?
Kuttner - A reação deverá ocorrer em três planos simultâneos.
Um candidato como Howard
Dean elabora um programa liberal. Também vamos afrontar a infra-estrutura ideológica dos conservadores, com institutos como
o da American Majority, de John
Podesta, com a Revista American
Prospect, com o Instituto de Política Econômica. Precisamos também trabalhar com os novos movimentos de massa.
Folha - Como trabalhar com as
sensações de insegurança e medo,
geradas pelo 11 de Setembro?
Kuttner - Deveremos criticar o
presidente Bush por não ter sido
eficiente como guardião da segurança norte-americana. Ele foi
ineficiente na defesa civil. Ele não
está contendo a proliferação nuclear, ao sinalizar que outros países precisam de artefatos nucleares para se defenderem e ao se
afastar de aliados históricos. Ele
aumentou os perigos do mundo.
Folha - O sr. acredita que os chamados "neo-cons" estejam trazendo algo de novo para a agenda política e social dos Estados Unidos?
Kuttner - Os neoconservadores
estão circulando há duas décadas.
A única diferença está no fato de
estarem hoje no poder. E perigosamente no poder. Essa gente é
uma mistura do idealismo de
Woodrow Wilson [presidente
dos Estados Unidos entre 1913 e
1921] com uma pitada do anacrônico imperialismo unilateral. É
um pensamento que despreza as
instituições internacionais e faz o
país assumir um enorme risco.
Folha - Qual seria a real importância de Leo Strauss como referência teórica do grupo?
Kuttner - Strauss foi sempre
considerado um herói pelos conservadores que estudaram teoria
política na Universidade de Chicago. Creio que sua influência seja
hoje exagerada, mais pelos críticos dos neoconservadores do que
pelos próprios integrantes do
grupo. Há um fosso entre os neoconservadores e os fundamentalistas evangélicos. Mas os dois
grupos são hoje aliados.
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