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À frente da UE, Sarkozy busca sintonia com cidadãos
França assume presidência rotativa do bloco priorizando imigração e ambiente
Mas agenda de Paris ignora a maior preocupação dos europeus hoje, a inflação; impasse com Tratado de Lisboa pode fortalecer país
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
O francês Nicolas Sarkozy assume nesta terça-feira a presidência rotativa da União Européia (UE) prometendo cumprir
até janeiro uma agenda pragmática sintonizada com as
"verdadeiras" preocupações
dos cidadãos do bloco.
Mesmo tomando as rédeas
da UE em meio à ressaca causada pela recente rejeição dos irlandeses ao Tratado de Lisboa,
que freia o fortalecimento institucional do bloco, o presidente francês aposta em avanços.
Imigração, proteção ambiental, energia e defesa comum são
as prioridades ostensivamente
enumeradas por Sarkozy.
A agenda da presidência
francesa está em boa parte alinhada com o que querem os europeus, de acordo com a última
pesquisa do Eurobarômetro
-realizada a cada semestre pela Comissão Européia.
Segundo o levantamento, divulgado na semana passada,
62% dos cidadãos do bloco consideram as mudanças climáticas o maior problema do planeta. A França pretende responder com um acordo que prevê a
redução de 20% das emissões
poluentes na UE até 2020.
O estudo também revela que
dois terços dos europeus
acham que defesa e segurança
do continente deveriam ser
prerrogativas da UE, não dos
governos nacionais. Antecipando-se ao resultado do documento, Paris já vinha manobrando para reforçar o núcleo
militar do bloco, hoje modesto.
Outro projeto da presidência
francesa é um "pacto de imigração", destinado a harmonizar
-e endurecer- as leis dos 27
países-membros sobre asilo e
expulsão de ilegais. Os contornos da nova lei migratória do
bloco, contestada com vigor pela América Latina, já foram
aprovados pelo Parlamento da
UE. Um em cada dez europeus
vê na imigração o maior problema enfrentado no continente.
"Há uma crescente demanda
popular pela "europeização" das
instituições, inclusive em áreas
estratégicas como defesa e imigração", diz o cientista político
Dominique Reynié, autor do
relatório "Opinião Européia",
publicado anualmente desde
1999. Ele atribui razões pragmáticas, não ideológicas, a esse
apego a uma UE mais forte: "Os
europeus perceberam que, em
um mundo vasto e globalizado,
seus pequenos países não terão
chance se ficarem isolados".
Entretanto, a agenda de Sarkozy pouco fala daquele que os
europeus realmente consideram como o principal problema
do bloco: a economia. O poder
de compra está no topo (37%)
da lista dos 11 maiores desafios
do bloco, à frente do desemprego (24%) e da segurança (17%).
"As principais demandas envolvem questões econômicas e
sociais, em grande parte ligadas
à inflação, e isso alimenta crescentes protestos", diz Pascal
Delwit, reitor da faculdade de
Ciências Políticas da Universidade Livre de Bruxelas.
A França fala até em reformar a Política Agrícola Comum
(PAC), pilar do Orçamento da
UE, e em diversificar a matriz
energética para reduzir a dependência do petróleo, cuja alta alavanca a inflação. Mas é
consenso que as duas metas
não podem ser alcançadas num
prazo de seis meses.
Regras comuns
Após uma série de presidências européias norteadas por
preocupações burocráticas ligadas à ampliação do bloco, a
França aposta na chance de imprimir sua marca com uma gestão mais ousada. Mas antes disso, Paris deverá se preocupar
com o futuro do Tratado de Lisboa -conjunto de regras que só
pode vigorar se ratificado por
todos os países-membros.
Juridicamente, as prioridades francesas não sofrerão tanto os efeitos da rejeição do tratado, e o bloco só deve decidir
em outubro que medidas tomar
para reverter o rechaço ao texto
na Irlanda. Mas caberá à França coordenar a ratificação nos
oito países que ainda não votaram e dissipar o desânimo que
se abateu sobre o futuro da UE
como entidade coesa. Um desafio externo que Sarkozy espera
usar para reverter sua alta rejeição dentro da França.
"Sarkozy tem vários projetos
políticos ambiciosos, mas, se
ele conseguir levar adiante a ratificação do tratado, sua presidência já será coroada de sucesso", aposta Reynié.
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