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Embaixador nega racismo da nova política migratória da UE
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir desta terça-feira, o
embaixador da França no Brasil, Antoine Pouillieute, acumulará o cargo de representante da União Européia (UE).
Tecnocrata de alto vôo, foi vice-chefe de gabinete do premiê
Edouard Balladur (1993-1995)
e dirigiu a Agência Francesa de
Desenvolvimento, entre outros
cargos de confiança no Estado
francês. Em entrevista à Folha,
ele disse que a UE não depende
do Tratado de Lisboa para funcionar e cobrou do Brasil mais
reconhecimento ao papel político do bloco.
(SA)
FOLHA - A UE pode funcionar sem o
Tratado de Lisboa?
ANTOINE POUILLIEUTE - Se esse
tratado não for adotado, a Europa continuará funcionando.
Ela já tem as instituições do
Tratado de Nice (2001), embora não funcionem tão bem por
terem sido criadas antes da ampliação para 27 membros. No
fundo, são as instituições que
são contestadas pelas populações, não as políticas européias.
O mercado interno criou-se
sem tratado, o euro também.
FOLHA - O que o senhor achou da
condenação da nova lei migratória
da UE por parte do presidente Lula,
que a chamou de "xenófoba"?
POUILLIEUTE - É preciso ter mais
cautela com o uso das palavras.
Se a França fosse xenófoba, não
seria a França e nem teria derrotado o Brasil na final da Copa
do Mundo [com uma seleção na
qual vários jogadores tinham
origem estrangeira]. Se o Brasil
acha que a Europa é um continente racista que se fecha em si,
então a situação é grave. O projeto europeu acarreta veículos
diametralmente opostos a isso.
O que queremos é estimular a
imigração seletiva, combater a
imposta e desmantelar as redes
que se aproveitam da miséria
das pessoas para inseri-las nos
tráficos clandestinos. Não precisamos da aprovação de ninguém, só queremos ser compreendidos.
FOLHA - O que responder aos que
acusam Sarkozy de ter feito muito
barulho por nada há alguns meses,
quando anunciou-se em vão a libertação da franco-colombiana Ingrid
Betancourt pelas Farc?
POUILLIEUTE - Antes do desfecho, só há especulação. Vou me
ater ao que disse o presidente
Lula: trabalhemos em silêncio.
FOLHA - Como a França, defensora
da candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de
Segurança da ONU, avalia a atuação
do Itamaraty, que palpita em assuntos tão diversos como América Latina, Oriente Médio e Zimbábue?
POUILLIEUTE - Não compartilho
o sentimento de que se trata de
um fogo de artifício desordenado. O Brasil está se assumindo
pelo que é: um protagonista da
globalização que merece um
papel político maior. É o mesmo que ocorre com a UE no
Brasil. Somos um campeão da
parceria econômica, mas merecemos um pouco mais de consideração política...
FOLHA - Como assim?
POUILLIEUTE - Um quarto do intercâmbio comercial do Brasil é
com a UE. Somos responsáveis
por um terço do superávit comercial brasileiro e metade do
estoque de investimento estrangeiro no país. Somos, de
longe, o maior parceiro comercial do Brasil. Os embaixadores
e cônsules da UE costumam ser
bem recebidos por autoridades
brasileiras, mas talvez fosse interessante ouvirem o que temos a dizer num nível mais elevado. Na França, o chanceler
Bernard Kouchner reuniu recentemente todos os embaixadores da América Latina. O diálogo entre nações deve acontecer às vezes no plano interno
também. É importante sermos
recebidos por ministros ou
mesmo acima. A UE tem recados a passar por meio de seus
embaixadores.
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