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ORIENTE MÉDIO
"O processo de paz é impopular, não há como negar", diz Saeb Erekat, negociador da ANP com israelenses
Frustrados, palestinos questionam líderes
FÁBIO ZANINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA,
NA CISJORDÂNIA
Frustrados com o fracasso do
processo de paz, decepcionados
com seus líderes políticos e assustados com o colapso da ordem na
Cisjordânia e em Gaza, palestinos
sob ocupação israelense estão cada vez mais defendendo o abandono de soluções políticas em favor do retorno a um movimento
nacional de resistência.
A sensação de pessimismo foi
capturada recentemente pelo Escritório Palestino de Estatísticas,
que realiza pesquisas de opinião
nos territórios ocupados. Em
maio, um levantamento mostrou
que 41,7% da população esperava
que a situação piorasse nos seis
meses seguintes. Apenas 20,4%
vislumbraram alguma melhora.
Outra pesquisa, de dezembro
passado, apontou que 57,6% dos
jovens palestinos acreditavam
que nunca haveria paz com Israel;
e somente 12,6% esperavam paz
no curto prazo. Além disso, 44,5%
queriam que a Intifada (levante
contra a ocupação de Israel) continuasse; e só 15,6%, que desse lugar a um movimento pacífico.
Segundo acadêmicos, ativistas,
estudantes e políticos ouvidos pela Folha na Cisjordânia, o ambiente sombrio tem um novo elemento, além da revolta contra a
ocupação.
Há um sentimento de decepção
com a Autoridade Nacional Palestina (ANP), o governo com poderes limitados criado pelos acordos
de Oslo, em 1993.
Uma das raízes desse mal-estar
seria a disputa de poder na ANP,
que opõe a "velha guarda" ligada
ao líder Iasser Arafat -vista como corrupta e autoritária- aos
novos líderes que pressionam por
mudanças, lançando mão da violência. Começaram a ocorrer ataques a postos policiais e a autoridades da ANP, bem como seqüestros-relâmpago de estrangeiros.
"Eu sou impopular, o processo
de paz é impopular. Não há como
negar", disse Saeb Erekat, principal negociador palestino com os
israelenses, em palestra em Jericó,
que a Folha acompanhou. "Não
somos perfeitos, há corrupção, temos de admitir."
Nos territórios palestinos, o coro dos que consideram traição negociar com Israel é forte. Erekat
teve de ouvir ataques furiosos de
estudantes. "Você diz que os israelenses nos destroem, mas está
sempre pronto a apertar suas
mãos", disse um deles.
Algumas vozes, apesar de pouparem Arafat por sua biografia,
defendem o desmantelamento de
seu governo. "A ANP serve apenas para legitimar a ocupação e
desviar o foco para temas como
corrupção e disputas políticas internas. Estão fazendo o jogo dos
israelenses", afirmou Amira Silmi, da Pengon, uma rede de
ONGs palestinas.
"A ANP tem de acabar, e temos
de voltar a um movimento de resistência nacional, sermos fortes
de novo para falar de igual para
igual com Israel", disse.
Ramda Nasser, professora de
sociologia da Universidade de Bir
Zeit, a principal dos territórios palestinos, diz que a sensação, principalmente entre os jovens, é que
se abriu um "golfo" entre os líderes políticos e a população.
"Os jovens que pegam em armas hoje sentem-se órfãos por
causa de uma liderança corrupta e
autoritária. Não se identificam
com seus líderes políticos nem
com a elite empresarial ou acadêmica. Estão cansados de muita
conversa e pouco resultado", afirmou.
Um exemplo disso é o que dá
Abdul al Fatah, 20, estudante de
informática da Universidade de
Jenin. Apesar de dizer que não está envolvido com nenhum grupo
armado, ele reprova todos os movimentos na direção de uma solução política. "Não acredito em políticos. Eu me recuso a votar se
houver eleição."
O estudante não esconde a insatisfação com as promessas de paz
após os acordos de Oslo: "Venderam-nos um produto estragado.
Estavam todos bêbados quando
assinaram aqueles acordos".
Para Erekat, as vozes descontentes são compreensíveis, mas
devem ser relativizadas. "A maioria da população quer a paz.
Quem nos empurra para o caos é
Israel, que inviabiliza a Autoridade Nacional Palestina." Para ele, a
violência entre palestinos nos territórios ocupados não é exemplo
de disputa de poder, mas apenas
criminalidade comum.
"Os israelenses não nos deixam
ter uma polícia equipada. Toda
noite temos blecautes. Fica fácil
prever o resultado dessa combinação", argumenta Erekat.
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