São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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Refugiados de Chatila reverenciam Arafat

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BEIRUTE

O campo de refugiados de Chatila, ao sul de Beirute (Líbano), simboliza o sentimento de ambigüidade dos palestinos com relação a seus líderes.
É comum ouvir ataques ao "desastroso" governo palestino e chamados a uma volta à resistência armada e à radicalização. Por outro lado, o respeito à pessoa de Iasser Arafat permanece.
Chatila tem 12 mil refugiados. Há ruas sem calçamento, esgoto a céu aberto e prédios decrépitos. Sua história é sangrenta. Em 1982, milícias cristãs, aliadas do Exército israelense, massacraram, ali e no vizinho campo de Sabra, centenas de palestinos durante a guerra civil libanesa. O atual premiê de Israel, Ariel Sharon, na época ministro da Defesa, foi responsabilizado e teve de renunciar ao cargo.
Murais lembrando o episódio e pedindo a destruição de Israel estão por toda parte, ao lado de fotos de Arafat, de pôsteres do Hizbollah (grupo extremista libanês) e imagens de líderes do grupo terrorista Hamas recentemente mortos por Israel.
Rami Ali, 25, um dentista que trabalha com o Crescente Vermelho (versão muçulmana da Cruz Vermelha), reclama que os líderes palestinos "não dão a mínima" para os refugiados.
"Somos usados apenas para propósitos políticos, para manter acesa a causa palestina. Mas nunca recebemos nada, nem visitas nem recurso material", diz. Em seguida, no entanto, cobre Arafat de elogios: "Eu o adoro. Ele é o único que tem autoridade para promover a paz".
Existem quase 4 milhões de refugiados palestinos no Oriente Médio. Politicamente, sua situação é importante componente da causa palestina. Vivem em um limbo: no Líbano, os 400 mil refugiados registrados pela ONU são cidadãos de segunda classe.
Mesmo os que ali nasceram, filhos de refugiados que tiveram de deixar suas casas na época da formação de Israel, em 1948, não têm cidadania libanesa. Para eles, cerca de 70 profissões são vedadas. "Se eu pudesse trabalhar como dentista fora do campo de refugiados, ganharia muito mais. Mas estou confinado aqui", diz Ali.
Ahmed Kazak, 20, que gerencia um centro de telefonia em Chatila, critica a "passividade" da liderança palestina. "Se os palestinos se unissem aos demais países árabes contra Israel, minha família teria sua casa de volta", diz.
Simpatizante do Hamas, ele defende os ataques a Israel, a civis inclusive. "O islã é contra matar civis. Mas existe uma regra: se eles [israelenses] matam os nossos, podemos matar os deles." (FZ)


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