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Refugiados de Chatila reverenciam Arafat
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BEIRUTE
O campo de refugiados de Chatila, ao sul de Beirute (Líbano),
simboliza o sentimento de ambigüidade dos palestinos com relação a seus líderes.
É comum ouvir ataques ao "desastroso" governo palestino e
chamados a uma volta à resistência armada e à radicalização. Por
outro lado, o respeito à pessoa de
Iasser Arafat permanece.
Chatila tem 12 mil refugiados.
Há ruas sem calçamento, esgoto a
céu aberto e prédios decrépitos.
Sua história é sangrenta. Em 1982,
milícias cristãs, aliadas do Exército israelense, massacraram, ali e
no vizinho campo de Sabra, centenas de palestinos durante a
guerra civil libanesa. O atual premiê de Israel, Ariel Sharon, na
época ministro da Defesa, foi responsabilizado e teve de renunciar
ao cargo.
Murais lembrando o episódio e
pedindo a destruição de Israel estão por toda parte, ao lado de fotos de Arafat, de pôsteres do Hizbollah (grupo extremista libanês)
e imagens de líderes do grupo terrorista Hamas recentemente
mortos por Israel.
Rami Ali, 25, um dentista que
trabalha com o Crescente Vermelho (versão muçulmana da Cruz
Vermelha), reclama que os líderes
palestinos "não dão a mínima"
para os refugiados.
"Somos usados apenas para
propósitos políticos, para manter
acesa a causa palestina. Mas nunca recebemos nada, nem visitas
nem recurso material", diz. Em
seguida, no entanto, cobre Arafat
de elogios: "Eu o adoro. Ele é o
único que tem autoridade para
promover a paz".
Existem quase 4 milhões de refugiados palestinos no Oriente
Médio. Politicamente, sua situação é importante componente da
causa palestina. Vivem em um
limbo: no Líbano, os 400 mil refugiados registrados pela ONU são
cidadãos de segunda classe.
Mesmo os que ali nasceram, filhos de refugiados que tiveram de
deixar suas casas na época da formação de Israel, em 1948, não têm
cidadania libanesa. Para eles, cerca de 70 profissões são vedadas.
"Se eu pudesse trabalhar como
dentista fora do campo de refugiados, ganharia muito mais. Mas
estou confinado aqui", diz Ali.
Ahmed Kazak, 20, que gerencia
um centro de telefonia em Chatila, critica a "passividade" da liderança palestina. "Se os palestinos
se unissem aos demais países árabes contra Israel, minha família
teria sua casa de volta", diz.
Simpatizante do Hamas, ele defende os ataques a Israel, a civis
inclusive. "O islã é contra matar
civis. Mas existe uma regra: se eles
[israelenses] matam os nossos,
podemos matar os deles."
(FZ)
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