São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Palestinos usam garagem como escola

DA REDAÇÃO

Os palestinos enfrentam uma das piores crises sanitárias e econômicas de sua história. O toque de recolher prolongado e mais de 140 postos de controle israelenses na Cisjordânia dificultam não apenas o deslocamento de pessoas, mas também de alimentos e ambulâncias.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de metade das crianças palestinas com menos de cinco anos e das mulheres em idade reprodutiva está anêmica. E 66,5% da população palestina vive atualmente com menos de US$ 2 por dia.
Como o toque de recolher imposto por Israel na Cisjordânia não tem prazo para terminar, os professores palestinos decidiram improvisar uma solução temporária.
Muitos jovens que vivem na Cisjordânia estão estudando em escolas improvisadas em garagens, depósitos, corredores de prédios e quartos.
"Não podemos ficar parados e deixar que as crianças sejam castigadas ainda mais. Temos de nos adaptar à situação, pois não há perspectiva de fim do confinamento", disse à Folha, por telefone, o professor de matemática Abdu Arrahman, de Beituniya.
"É perigoso caminhar até a escola, e os alunos da circunvizinhança se reúnem aqui. Em cada seção dos bairros, procuramos fazer a mesma coisa", diz. Iniciativas semelhantes acontecem em Jenin, Nablus, Ramallah e outras localidades palestinas.
A cada dia mais palestinos disponibilizam suas casas para as escolas, segundo o professor. As doações incluem cartolinas e cadeiras de plástico, mas algumas crianças ainda têm aulas no chão.
"Não posso correr o risco de deixar meu filho ir para a escola e colocar a vida em perigo", afirma a arquiteta palestina Umm Fatima, de Ramallah.
"Não quero que ele tenha o mesmo destino de Ahmad [seu filho, morto, segundo ela, quando lançava pedras contra soldados] ou Samrin". No último dia 19, Abdel Salam Samrin, 10, levou vários tiros no peito ao desrespeitar o toque de recolher em Ramallah. De acordo com sua família, ele caminhava perto de casa e ia comprar cigarro para o pai.
Na opinião de Umm Fatima, "a escola acaba servindo de motivação para as crianças e evita que elas fiquem muito irritadas". Para Abdu Arrahman, "o aproveitamento não é tão comprometido, pois os estudantes descarregam um pouco da tensão nas aulas".
Segundo o Ministério da Educação dos palestinos, há cerca de 1 milhão de estudantes na Cisjordânia e na faixa de Gaza. "Infelizmente, não há outra solução. O importante é que as crianças continuem a estudar mesmo em uma época como essa, seja onde for", diz o ministro Naim Abu al Humos. "Quem sabe quando exigirem de Israel o cumprimento das resoluções da ONU, como fazem com o Iraque, as coisas mudarão." (PDF)


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