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Palestinos usam garagem como escola
DA REDAÇÃO
Os palestinos enfrentam uma
das piores crises sanitárias e econômicas de sua história. O toque
de recolher prolongado e mais de
140 postos de controle israelenses
na Cisjordânia dificultam não
apenas o deslocamento de pessoas, mas também de alimentos e
ambulâncias.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de
metade das crianças palestinas
com menos de cinco anos e das
mulheres em idade reprodutiva
está anêmica. E 66,5% da população palestina vive atualmente
com menos de US$ 2 por dia.
Como o toque de recolher imposto por Israel na Cisjordânia
não tem prazo para terminar, os
professores palestinos decidiram
improvisar uma solução temporária.
Muitos jovens que vivem na
Cisjordânia estão estudando em
escolas improvisadas em garagens, depósitos, corredores de
prédios e quartos.
"Não podemos ficar parados e
deixar que as crianças sejam castigadas ainda mais. Temos de nos
adaptar à situação, pois não há
perspectiva de fim do confinamento", disse à Folha, por telefone, o professor de matemática
Abdu Arrahman, de Beituniya.
"É perigoso caminhar até a escola, e os alunos da circunvizinhança se reúnem aqui. Em cada
seção dos bairros, procuramos fazer a mesma coisa", diz. Iniciativas semelhantes acontecem em
Jenin, Nablus, Ramallah e outras
localidades palestinas.
A cada dia mais palestinos disponibilizam suas casas para as escolas, segundo o professor. As
doações incluem cartolinas e cadeiras de plástico, mas algumas
crianças ainda têm aulas no chão.
"Não posso correr o risco de
deixar meu filho ir para a escola e
colocar a vida em perigo", afirma
a arquiteta palestina Umm Fatima, de Ramallah.
"Não quero que ele tenha o
mesmo destino de Ahmad [seu filho, morto, segundo ela, quando
lançava pedras contra soldados]
ou Samrin". No último dia 19, Abdel Salam Samrin, 10, levou vários
tiros no peito ao desrespeitar o toque de recolher em Ramallah. De
acordo com sua família, ele caminhava perto de casa e ia comprar
cigarro para o pai.
Na opinião de Umm Fatima, "a
escola acaba servindo de motivação para as crianças e evita que
elas fiquem muito irritadas". Para
Abdu Arrahman, "o aproveitamento não é tão comprometido,
pois os estudantes descarregam
um pouco da tensão nas aulas".
Segundo o Ministério da Educação dos palestinos, há cerca de 1
milhão de estudantes na Cisjordânia e na faixa de Gaza. "Infelizmente, não há outra solução. O
importante é que as crianças continuem a estudar mesmo em uma
época como essa, seja onde for",
diz o ministro Naim Abu al Humos. "Quem sabe quando exigirem de Israel o cumprimento das
resoluções da ONU, como fazem
com o Iraque, as coisas mudarão."
(PDF)
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