|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aos dois anos, Intifada caminha para resistência civil
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Dois anos após o início do levante contra a ocupação israelense, a Intifada de Al Aqsa começa a
adquirir contornos de um movimento de desobediência civil em
um momento em que Israel reocupa as principais cidades da Cisjordânia e mantém boa parte dos
palestinos sob toque de recolher
praticamente 24 horas por dia, há
mais de três meses, sob a alegação
de que a medida vai deter o terror.
"As manifestações pacíficas de
desobediência civil contra a ocupação vão aumentar", disse à Folha, por telefone, o médico palestino Mustafa Barghuti, 48.
Um dos idealizadores da Iniciativa Nacional Palestina, em prol
de reformas democráticas e de
uma reestruturação das forças de
segurança, Barghuti vem ganhando a adesão de importantes lideranças políticas e sociais para um
movimento de resistência civil,
sem atentados palestinos como os
que mataram centenas de israelenses nos dois últimos anos.
"Retomaremos a resistência pacífica contra esta ocupação violenta, como ocorria na primeira
Intifada [1987-1993]. Hoje, os palestinos vivem sob prisão domiciliar -sem a possibilidade de
acesso a trabalho, assistência médica e educação", afirma.
O governo israelense afirma que
o toque de recolher é necessário
para impedir a realização de novos atentados palestinos.
Nos próximos dias, o secretário-geral (número 2) da Autoridade Nacional Palestina (ANP),
Mahmud Abbas, deve apresentar
um plano de paz elaborado com
membros de alto escalão do Comitê Central do Fatah e do Conselho Legislativo Palestino, entre os
quais Abdul Razzaq al Yahya, ministro do Interior, e Nabil Amru,
deputado do Conselho Legislativo Palestino (CLP) e ex-ministro
que recentemente pediu o fim da
corrupção na ANP. Todos criticaram os atentados suicidas.
O plano propõe a criação do
cargo de primeiro-ministro palestino, para o qual Abbas -conhecido como Abu Mazen- seria
designado em troca da retirada israelense das cidades autônomas
palestinas durante um período
inicial de três meses e da reformulação das forças de segurança com
a intenção declarada de desarmar
todos os grupos que atuam nos
territórios ocupados. Embora tenha descartado negociar com o líder da ANP, Iasser Arafat, seu arquiinimigo, Sharon rejeitou reunir-se com Abbas -e com outros
representantes palestinos.
Israel enviou tanques e buldôzeres ao QG de Arafat, 73, no último
dia 21, depois que dois atentados
suicidas palestinos deixaram seis
mortos em Israel, após seis semanas sem mortos israelenses
-houve 71 palestinos mortos no
período. Arafat condenou os
atentados contra Israel, mas o governo Sharon o acusa de inação.
Na mesma reunião em que Israel decidiu promover a operação
"Questão de Tempo" -com o
objetivo de forçar Arafat ao exílio-, determinou-se o fechamento do escritório do professor
Sari Nusseibeh em Jerusalém, líder palestino moderado.
A nova crise impediu que Abbas
se tornasse o premiê palestino.
Agora, uma nomeação poderia
ser interpretada como traição.
Para o analista israelense Roni
Shaked, "o cerco que põe Arafat
como alvo central está desviando
a atenção dos verdadeiros promotores do terror: Hamas e Jihad
Islâmico [grupos extremistas]".
De qualquer forma, a expectativa
é que, se houver um novo atentado, Sharon aproveitará a oportunidade para expulsar Arafat, cuja
situação, na opinião do cientista
político palestino Ali Jerbawi, é
igual à do QG em Ramallah:
"Com um pouco de força, ele cai".
Dois anos de ações militares israelenses e de atentados palestinos levaram a uma situação que
desestabiliza ambas as economias, ameaça a estrutura da ANP,
a sociedade palestina e o futuro
político de Israel.
A esperança de paz está cada dia
mais distante. Para o sociólogo
egípcio Muhammad Mussad, que
critica os assentamentos judaicos,
"os tanques israelenses estrangulam o pacifismo árabe, e os kamikazes palestinos fazem o mesmo
com o pacifismo israelense".
Texto Anterior: Oriente Médio: Protestos marcam aniversário da Intifada Próximo Texto: Palestinos usam garagem como escola Índice
|