|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Violência política ameaça reta final da eleição no Peru
Em meio a casos diários de agressão, presidente Toledo afirma temer "conflitos pagos" no domingo, dia da votação
Ex-presidente García, que lidera as pesquisas, cancela visita à maior favela de Lima depois de incidente com partidários do rival Humala
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
O segundo turno da campanha presidencial peruana chega à sua última semana com
episódios diários de violência e
trocas de insultos. O temor de
mais confrontos aumentou depois que o presidente Alejandro Toledo afirmou, no último
fim de semana, que teme a
ocorrência de "conflitos pagos"
no domingo, dia da votação.
Ontem, o ex-presidente de
centro-esquerda Alan García,
que lidera as pesquisas, cancelou a visita que faria à favela de
Villa El Salvador, a maior de Lima, depois que partidários do
nacionalista Ollanta Humala
tentaram invadir o local.
Construído no deserto que
circunda Lima, Villa El Salvador é um imenso areal ocupado
por mais de 300 mil pessoas,
quase todos indígenas do altiplano, e considerado um reduto
de Humala na capital peruana.
Quando a reportagem da Folha chegou ao local, por volta
das 14h locais, o comandante da
polícia, que tinha um contingente de 30 homens, tentava
convencer 20 simpatizantes de
Humala a deixar o local, uma
rua empoeirada cercada por sobrados sem reboco e pequenas
fábricas de móveis, em prédios
igualmente precários.
Sem sucesso, os policiais começaram a empurrá-los com
escudos e foram atacados com
pedradas. Depois de cinco minutos, os manifestantes deram
a volta na quadra já em maior
número. A mesma confusão se
repetiu. A polícia, em menor
número, pediu reforço. Chegaram mais 25 policiais e cerca de
dez "búfalos", como são chamados os violentos militantes-seguranças do partido de García,
o Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana).
Apesar do empurra-empurra, ninguém foi ferido ou preso.
Uma hora mais tarde, às 15h,
um dos porta-vozes, Mauricio
Mulder, chega ao local e, no microfone instalado dentro da fábrica, diz que García cancelou a
visita por "motivos familiares",
mas seu assessor de imprensa,
José Chirito, diz que não havia
segurança suficiente.
O incidente de ontem faz
parte de uma série de episódios
violentos ocorridos na campanha, que têm piorado nos últimos dias. No mais grave, três
humalistas foram baleados na
cidade de Cusco, no altiplano,
outro reduto do nacionalista.
Pouco antes, no mesmo dia,
García alega ter recebido uma
ovada no lado direito do rosto,
mas o ataque não foi registrado
em imagem. A ferida, um raspão, tem sido destacada nas fotos publicadas pela imprensa
favorável ao ex-presidente.
Montesinos, Chávez
A guerra verbal também tem
piorado. Os dois têm se acusado
de supostos vínculos com Vladimiro Montesinos, pivô do escândalo de corrupção derrubou
Alberto Fujimori, em 2000, e
García tem dito que a campanha de Humala recebe dinheiro
do presidente Hugo Chávez.
"Alan García é um sem-vergonha, seu desespero é tal que
sente que está perdendo, sente
que as pesquisas o inflaram demais e não pode deter sua queda", disse Humala. "O choro
normal de Humala o leva a usar
adjetivos, gestos e insultos que
não são muito positivos para a
nação" respondeu García.
Pesquisas de opinião divulgadas anteontem mostram que
García tem uma vantagem de
10 a 20 pontos percentuais sobre Humala. No entanto, uma
pesquisa feita a partir de uma
simulação de voto pelo confiável Instituto Apoyo mostrou o
ex-presidente com 52%, contra
48% do nacionalista. Ou seja,
apenas quatro pontos percentuais separam os dois.
Texto Anterior: Chanceler do Hamas rejeita plebiscito Próximo Texto: Frases Índice
|