São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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Violência política ameaça reta final da eleição no Peru

Em meio a casos diários de agressão, presidente Toledo afirma temer "conflitos pagos" no domingo, dia da votação

Ex-presidente García, que lidera as pesquisas, cancela visita à maior favela de Lima depois de incidente com partidários do rival Humala

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

O segundo turno da campanha presidencial peruana chega à sua última semana com episódios diários de violência e trocas de insultos. O temor de mais confrontos aumentou depois que o presidente Alejandro Toledo afirmou, no último fim de semana, que teme a ocorrência de "conflitos pagos" no domingo, dia da votação.
Ontem, o ex-presidente de centro-esquerda Alan García, que lidera as pesquisas, cancelou a visita que faria à favela de Villa El Salvador, a maior de Lima, depois que partidários do nacionalista Ollanta Humala tentaram invadir o local.
Construído no deserto que circunda Lima, Villa El Salvador é um imenso areal ocupado por mais de 300 mil pessoas, quase todos indígenas do altiplano, e considerado um reduto de Humala na capital peruana.
Quando a reportagem da Folha chegou ao local, por volta das 14h locais, o comandante da polícia, que tinha um contingente de 30 homens, tentava convencer 20 simpatizantes de Humala a deixar o local, uma rua empoeirada cercada por sobrados sem reboco e pequenas fábricas de móveis, em prédios igualmente precários.
Sem sucesso, os policiais começaram a empurrá-los com escudos e foram atacados com pedradas. Depois de cinco minutos, os manifestantes deram a volta na quadra já em maior número. A mesma confusão se repetiu. A polícia, em menor número, pediu reforço. Chegaram mais 25 policiais e cerca de dez "búfalos", como são chamados os violentos militantes-seguranças do partido de García, o Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana).
Apesar do empurra-empurra, ninguém foi ferido ou preso.
Uma hora mais tarde, às 15h, um dos porta-vozes, Mauricio Mulder, chega ao local e, no microfone instalado dentro da fábrica, diz que García cancelou a visita por "motivos familiares", mas seu assessor de imprensa, José Chirito, diz que não havia segurança suficiente.
O incidente de ontem faz parte de uma série de episódios violentos ocorridos na campanha, que têm piorado nos últimos dias. No mais grave, três humalistas foram baleados na cidade de Cusco, no altiplano, outro reduto do nacionalista.
Pouco antes, no mesmo dia, García alega ter recebido uma ovada no lado direito do rosto, mas o ataque não foi registrado em imagem. A ferida, um raspão, tem sido destacada nas fotos publicadas pela imprensa favorável ao ex-presidente.

Montesinos, Chávez
A guerra verbal também tem piorado. Os dois têm se acusado de supostos vínculos com Vladimiro Montesinos, pivô do escândalo de corrupção derrubou Alberto Fujimori, em 2000, e García tem dito que a campanha de Humala recebe dinheiro do presidente Hugo Chávez.
"Alan García é um sem-vergonha, seu desespero é tal que sente que está perdendo, sente que as pesquisas o inflaram demais e não pode deter sua queda", disse Humala. "O choro normal de Humala o leva a usar adjetivos, gestos e insultos que não são muito positivos para a nação" respondeu García.
Pesquisas de opinião divulgadas anteontem mostram que García tem uma vantagem de 10 a 20 pontos percentuais sobre Humala. No entanto, uma pesquisa feita a partir de uma simulação de voto pelo confiável Instituto Apoyo mostrou o ex-presidente com 52%, contra 48% do nacionalista. Ou seja, apenas quatro pontos percentuais separam os dois.


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