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Trato com Bolívia por mar avança "sem pausa nem pressa", diz Chile
Avaliação é de vice-chanceler chileno, que acordou cessão de área portuária a La Paz
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
Envolvido em uma contenda
com o Peru pela fronteira marítima, o Chile comemora, discretamente, o bom momento
nas relações bilaterais com outro vizinho produtor de gás
com quem têm problemas históricos: a Bolívia. O tema mais
delicado da agenda, a demanda
boliviana pelo mar, avança
"sem pressa e sem pausa".
A avaliação é do vice-chanceler chileno, Alberto van Klaveren, que comanda as negociações com a Bolívia. Há duas semanas, ele esteve em La Paz para revisar uma agenda de 13
pontos com o vizinho -incluindo mar, embora não formalmente o gás-, criada pelos
governos Evo Morales e Michelle Bachelet em 2006.
Do encontro, saiu uma decisão histórica: o Chile aceitou
ceder uma área do porto de
Iquique para uso boliviano, plataforma para exportação e importação. Foi a primeira negociação portuária desde 1904,
quando foi assinado o tratado
final sobre a chamada "Guerra
do Pacífico", travada pelos países e mais o Peru (1879-1881).
A ata da reunião também
menciona estudos técnicos para analisar o tema marítimo.
Um dia antes, as Forças Armadas dos países fecharam um
acordo de cooperação classificado de "histórico".
"Com a Bolívia, estamos
avançando com uma agenda
que se diferencia das outras
que tivemos porque é sincera,
inclui o tema marítimo. Estamos num diálogo bastante interessante nesta matéria, avançando sem presa e sem pausa",
disse à Folha Van Klaveren.
Os governos têm procurado
tratar o tema com discrição. Já
que resistências internas "são
um desafio que ambos os países têm", diz o vice-chanceler.
A simples menção de "estudos"
sobre a questão levou parlamentares da direita chilena a
ameaçarem convocar ao Congresso o chanceler Alejandro
Foxley para se explicar.
Otimismo e gás
Do lado boliviano, também
há otimismo. Com uma situação política interna caótica, e
com rusgas diplomáticas com
EUA e Peru, a atuação de La
Paz frente ao Chile ganha elogios até de analistas à direita,
que classificam este como o
melhor momento das relações
desde 1978, quando os países
retiraram seus embaixadores.
"É um paradoxo que um nacionalista tenha se aproximado, ao que parece com sinceridade, do Chile", escreveu Manfredo Kempff, ex-ministro do
governo Hugo Banzer (1997-2001) e diplomata.
O ideal para a Bolívia seria a
cessão de uma área ao norte.
Mas, como era antes território
peruano, a transferência, por
tratados firmados no fim da
guerra, depende da anuência de
Lima, que não faz parte das negociações. Discute-se também
a criação de um enclave boliviano no litoral, onde La Paz instalaria um porto soberano.
A possível venda de gás está
na mesa, diz a Bolívia, mas o vice-chanceler chileno afirma
que a opção do país, até agora, é
buscar fontes do combustível
mais longe, até que o gás "vire
uma commodity cuja venda seja decidida por critérios exclusivamente comerciais". "A mera possibilidade de exportar gás
de Bolívia e Peru ao Chile desperta resistência. Então, é uma
vulnerabilidade a evitar", diz
Van Klaveren.
O país, que importa 70% de
sua energia e sofre com falhas
de abastecimento da Argentina, investe em fábricas para regasificar o combustível comprado em forma líquida.
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