São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2008

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Trato com Bolívia por mar avança "sem pausa nem pressa", diz Chile

Avaliação é de vice-chanceler chileno, que acordou cessão de área portuária a La Paz

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

Envolvido em uma contenda com o Peru pela fronteira marítima, o Chile comemora, discretamente, o bom momento nas relações bilaterais com outro vizinho produtor de gás com quem têm problemas históricos: a Bolívia. O tema mais delicado da agenda, a demanda boliviana pelo mar, avança "sem pressa e sem pausa".
A avaliação é do vice-chanceler chileno, Alberto van Klaveren, que comanda as negociações com a Bolívia. Há duas semanas, ele esteve em La Paz para revisar uma agenda de 13 pontos com o vizinho -incluindo mar, embora não formalmente o gás-, criada pelos governos Evo Morales e Michelle Bachelet em 2006.
Do encontro, saiu uma decisão histórica: o Chile aceitou ceder uma área do porto de Iquique para uso boliviano, plataforma para exportação e importação. Foi a primeira negociação portuária desde 1904, quando foi assinado o tratado final sobre a chamada "Guerra do Pacífico", travada pelos países e mais o Peru (1879-1881).
A ata da reunião também menciona estudos técnicos para analisar o tema marítimo. Um dia antes, as Forças Armadas dos países fecharam um acordo de cooperação classificado de "histórico".
"Com a Bolívia, estamos avançando com uma agenda que se diferencia das outras que tivemos porque é sincera, inclui o tema marítimo. Estamos num diálogo bastante interessante nesta matéria, avançando sem presa e sem pausa", disse à Folha Van Klaveren.
Os governos têm procurado tratar o tema com discrição. Já que resistências internas "são um desafio que ambos os países têm", diz o vice-chanceler. A simples menção de "estudos" sobre a questão levou parlamentares da direita chilena a ameaçarem convocar ao Congresso o chanceler Alejandro Foxley para se explicar.

Otimismo e gás
Do lado boliviano, também há otimismo. Com uma situação política interna caótica, e com rusgas diplomáticas com EUA e Peru, a atuação de La Paz frente ao Chile ganha elogios até de analistas à direita, que classificam este como o melhor momento das relações desde 1978, quando os países retiraram seus embaixadores.
"É um paradoxo que um nacionalista tenha se aproximado, ao que parece com sinceridade, do Chile", escreveu Manfredo Kempff, ex-ministro do governo Hugo Banzer (1997-2001) e diplomata.
O ideal para a Bolívia seria a cessão de uma área ao norte. Mas, como era antes território peruano, a transferência, por tratados firmados no fim da guerra, depende da anuência de Lima, que não faz parte das negociações. Discute-se também a criação de um enclave boliviano no litoral, onde La Paz instalaria um porto soberano.
A possível venda de gás está na mesa, diz a Bolívia, mas o vice-chanceler chileno afirma que a opção do país, até agora, é buscar fontes do combustível mais longe, até que o gás "vire uma commodity cuja venda seja decidida por critérios exclusivamente comerciais". "A mera possibilidade de exportar gás de Bolívia e Peru ao Chile desperta resistência. Então, é uma vulnerabilidade a evitar", diz Van Klaveren.
O país, que importa 70% de sua energia e sofre com falhas de abastecimento da Argentina, investe em fábricas para regasificar o combustível comprado em forma líquida.



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