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Mulheres já reclamam do "sexo artificial" do parceiro
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempos de Viagra, pênis ereto deixou de ser sinônimo de relação sexual satisfatória. Sem a assistência de um médico, a ereção
induzida por drogas também deixou de ser prova de saúde.
Pelo contrário, pode estar camuflando problemas físicos e psicológicos. Este alerta já faz parte
do consenso brasileiro de disfunção erétil aprovado no ano passado e consta das recomendações
internacionais adotadas em Paris,
em junho último.
E, por mais óbvio e, ao mesmo
tempo, surpreendente que possa
parecer, pela primeira vez o consenso internacional lembrou a
importância da parceira nos problemas de disfunção erétil do homem.
A prática farmacêutica no Brasil, no entanto, invalida o essencial dessas recomendações. Os
medicamentos de tarja vermelha,
embora a lei exija prescrição médica, são vendidos sem receita.
Tanto o Viagra, que já tem cinco
anos de mercado, quanto o Levitra e o Cialis, aprovados recentemente na Europa e no Brasil, têm
tarja vermelha. O Levitra acaba de
ser aprovado nos EUA.
Ereção sem drogas
"Os pacientes chegam aqui dizendo que já experimentaram as
três drogas por conta própria",
diz Sidney Glina, urologista do
Instituto H. Ellis, de São Paulo, e
ex-presidente da Sociedade Internacional para o Estudo da Sexualidade e da Impotência.
Glina diz que a grande maioria
de seus pacientes procura a clínica em busca de outras alternativas. "Alguns se queixam que o
uso entrou na rotina e já não funciona. Outros não querem mais
depender do medicamento."
A psiquiatra Carmita Abdo, do
Prosex do Hospital das Clínicas,
autora de várias pesquisas sobre o
comportamento sexual do brasileiro, costuma lembrar que a disfunção erétil é um marcador de
saúde mental e física. "A dificuldade de ereção pode esconder
diabetes, hipertensão, vida sedentária, depressão e mesmo uma relação desgastada com o parceiro."
Mesmo resolvendo temporariamente o problema da ereção, o
paciente precisa procurar um médico, afirma Abdo.
O psicoterapeuta sexual Oswaldo Rodrigues, do Instituto Paulista de Sexualidade, diz que as drogas para ereção estão resultando
em um novo perfil de paciente:
mulheres descontentes com o que
chamam de "sexo artificial" do
companheiro. "Algumas vêm
com o marido afirmando que o
problema está com ele e que ele
precisa se tratar", diz.
Há um outro público procurando ajuda: homens que, mesmo tomando as drogas, não conseguem
ereção porque não têm desejo.
"Se ele não gosta mais da mulher,
não há remédio que resolva", afirma Sidney Glina.
Esse é o grande diferencial das
drogas orais que estão no mercado. Todas facilitam a ereção inibindo a enzima fosforodiesterase-5 e todas dependem do desejo. Alguém que tome o comprimido e
bata o carro a caminho do motel
não terá ereção.
Em geral, as drogas funcionam
para cerca de 80% dos que sofrem
de algum grau de disfunção sexual, número estimado em 150
milhões no mundo e 12 milhões
no Brasil. Viagra e Levitra agem
por um período de 6 a 10 horas, o
Cialis diz que seu efeito pode chegar a 36 horas. A ação se inicia em
geral depois de 10 a 20 minutos e o
preço oscila, no Brasil, entre R$ 20
e R$ 30 o comprimido.
Injeção no pênis
Antes da era dos "comprimidos
do prazer", empregavam-se injeções de prostraglandina e de papaverina, que funcionam em praticamente todos os casos e têm
duração de duas a três horas. São
drogas que não dependem do desejo: aplicada a substância, a ereção acontecerá, queira ou não o
paciente. Segundo Glina, 17% dos
seus pacientes -geralmente com
problemas físicos graves- se beneficiam das injeções.
Outro recurso, indicado para
uma minoria de pacientes, são as
próteses de silicone. Há as maleáveis, que a pessoa dobra ou levanta. E as infláveis, enchidas por um
líquido mantido em um reservatório no abdome e acionado por
uma bombinha instalada na parede do saco escrotal.
Há outras drogas orais a caminho, já que o mercado é gigantesco. O novo desafio, entretanto, está num medicamento que provoque o desejo, um remédio afrodisíaco. Por enquanto, antidepressivos vêm sendo usados timidamente com esse propósito.
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