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EUROPA
Segundo Harald 5º, descoberta de petróleo nos anos 60 criou o "problema" do país, cuja economia não comporta tanta riqueza
Dinheiro demais é ruim, diz rei da Noruega
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A OSLO
Às vésperas de sua primeira visita de Estado ao Brasil, o rei Harald 5º da Noruega também reclama dos problemas de caixa de seu
país. Mas, ao contrário de Brasília,
para Oslo a dificuldade está nas
sobras -e não nos buracos- do
Orçamento.
Com um Produto Interno Bruto
de US$ 166 bilhões -o Brasil tem
um PIB de US$ 450 bilhões, mas
com uma população 40 vezes
maior-, o grande problema da
Noruega hoje é o excesso de dinheiro, diz o rei.
"Colocando em termos populares -e não é da minha alçada o
que eu vou dizer-, o problema
hoje é que temos muito dinheiro",
afirmou ele durante entrevista em
seu gabinete de trabalho, no palácio real em Oslo, acompanhado
da rainha Sonja. "Temos uma
economia pequena e, se começarmos a usar todo o dinheiro que
todo mundo sabe que temos, a
economia terá problemas."
O "problema" norueguês começou na década de 60, quando a
descoberta de poços de petróleo
no mar do Norte tornou o país, já
rico, riquíssimo. Atividades relacionadas à indústria de petróleo e
gás natural respondem, sozinhas,
por 20% do PIB do país.
A sobra de dinheiro é tão grande que permitiu ao governo criar
o "fundo do petróleo", uma espécie de reserva a ser usada quando
a indústria petroleira do país, que
começa a entrar em declínio, não
tiver mais uma produção satisfatória. Atualmente, o fundo guarda cerca de 900 bilhões de coroas
norueguesas, algo em torno de
US$ 120 bilhões.
Parte do dinheiro tem sido usada em investimentos sociais, mas
o montante maior é guardado para um caso de emergência.
"É um problema muito grande
para os políticos explicar ao povo
que você não pode fazer tudo de
uma vez, mesmo tendo dinheiro
para isso. Acredite ou não, é um
problema político", diz o rei.
Custos elevados
Mas não é apenas a família real
que reclama do excesso de dinheiro. Empresários no país constantemente lamentam que a elevação
do custo de vida decorrente da exploração do petróleo tenha encarecido a manutenção de empresas, serviços e, sobretudo, de empregos -salários baixos não existem na Noruega, onde um trabalhador na indústria ganha metade
do salário de um médico e a renda
das demais categorias profissionais, com raras exceções, oscila
dentro dessa faixa.
Políticos e ministros, em campanha para as eleições locais no
fim do ano, se vêem em dificuldade para explicar ao eleitorado as
limitações que independem do
dinheiro e o risco de se alavancar
a inflação do país caso o dinheiro
do fundo do petróleo seja distribuído, promovendo uma corrida
de consumo.
Qualidade de vida
Outra queixa frequente entre os
noruegueses são os impostos. Um
norueguês comum entrega 40%
de sua renda ao governo. Somando-se impostos sobre a propriedade, em alguns casos o percentual chega a 60%.
Entretanto, no país com o maior
Índice de Desenvolvimento Humano do mundo, segundo as Nações Unidas, a educação é gratuita
e as vagas são garantidas a todos.
De escolas particulares, há somente um pequeno percentual de
berçários e creches. E o governo
ainda custeia os estudos daqueles
que desejam concluir sua formação fora do país.
Os hospitais também são exclusivamente públicos, embora nos
últimos anos algumas clínicas
particulares tenham ganhado dinheiro entre a clientela mais abastada não disposta a esperar pelo
atendimento gratuito.
Além disso, há uma enorme
preocupação com a família - a
jornada de trabalho acaba às 16h
em qualquer fábrica, órgão público ou escritório, para que o norueguês possa passar mais tempo
com a família. E, com exceção da
capital -a maior cidade do país,
com 512 mil habitantes-, em outras cidades é quase impossível
achar gente na rua após as 17h.
Os índices de violência são baixíssimos -em 2000, ano da estatística mais recente, houve 53 homicídios no país -o número de
suicídios foi dez vezes maior.
Com estatísticas assim, talvez fique mais fácil entender por que o
maior problema do país, aos
olhos do rei, seja o dinheiro que
sobra nos cofres públicos.
A jornalista Luciana Coelho viajou a
convite da Chancelaria norueguesa
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