São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002


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Pressionados por reajustes de fornecedores, pequenos "amortecem" repasse e reduzem margem de lucro

Varejo vive tempo de ganhar menos

Fernando Moraes/Folha Imagem
Ricardo Martins, dono de distribuidora de uísque importado, criou bonificação para manter vendas


DA REPORTAGEM LOCAL

Fornecedores cobrando mais caro de um lado. Consumidores sem reajuste salarial do outro. E, no meio, comerciantes se equilibrando para segurar os seus preços e não espantar a clientela.
A cena tem sido rotina em diversos setores do mercado. Sob ameaça da inflação e diante da queda do poder aquisitivo do consumidor, empresários vêm se desdobrando para não repassar os aumentos que a maioria das mercadorias está sofrendo.
É certo que alguns varejistas aproveitam os reajustes generalizados para ampliar sua margem de lucro. Mas, na atual situação, a prática mais comum tem sido a inversa: ganhar um pouco menos -enquanto isso for possível.
"Não repassar aumentos é adiar o encerramento da atividade. Se você não quebra hoje, quebra mais tarde", afirma Gerson Branco, 49, da Gepco, fabricante de vidros blindados e acessórios.
Apesar da alta do dólar, que inflacionou os custos do material importado pela empresa, Branco conta que não está repassando os aumentos à clientela. "Mas é como cair de um prédio alto e pensar, durante a queda, "por enquanto ainda estou vivo'", ilustra.

Pressão
Para ter idéia da disparidade entre os preços adotados pelo atacado e pelo varejo, basta comparar a oscilação durante o ano do IGP-DI (Índice Geral de Preços), que mede a inflação ao consumidor final, em relação à do IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado).
O primeiro tem registrado números superiores ao segundo (veja na pág. 3), comprovando que o varejista tem sido forçado a absorver aumentos e atenuá-los para não ver os preços galoparem.
"Sem o poder de barganha das grandes redes, os pequenos têm de empreender uma batalha para retardar os aumentos. Muitos têm criado associações para garimpar ofertas", diz Wilson Hiroshi Tanaka, 53, presidente do Sindicato do Comércio de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo.
Para Cláudio Felisoni, 50, coordenador-geral do Provar (Programa de Administração do Varejo da USP), o momento pede cautela com o manejo das contas.
"No atual contexto, pequenos e médios são os mais pressionados pela indústria, que esbarrou nas dificuldades de negociação com os grandes. É difícil não acatar a alta e manter os preços", diz.
"Só resta redobrar a atenção com as contas, verificar a possibilidade de reduzir margens de lucro e evitar se descapitalizar com a aquisição de estoques", ensina.
Dono da Galeria dos Pães, em São Paulo, Milton Guedes de Oliveira, 52, foi surpreendido pelo aumento de itens como farinha de trigo, frios, gás e embalagens. "Precisei reduzir a margem de lucro de 24% para 13%. Nos sanduíches, que tinham margem de até 60%, passamos a apenas 30%."
(TATIANA DINIZ)

Colaborou a Redação


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