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PLANEJAMENTO
Passagem da fase de assalariado para a de dono de um negócio próprio desafia novatos
Transição do emprego é corda bamba
CLEBER MARTINS
EDITOR DE NEGÓCIOS E EMPREGOS
Não é só nas mudanças de governo. Transição também é palavra-chave para começar bem um
negócio. Especialmente porque
boa parte dos empresários que estréiam no novo papel ainda mantém um pé no emprego e o outro
na sua empresa recém-aberta.
Para eles, a tática é tatear o novo
terreno antes de pedir as contas
ao patrão e passar, finalmente,
de empregado a empregador.
Querem evitar perder de vez a
fonte de renda como assalariado.
Ou, ao menos, custear os gastos
domésticos e da empresa enquanto o investimento não se paga.
Parece tudo bem pensado e cuidadoso. Mas nem por isso menos
arriscado, dizem os consultores.
Segundo dados do Sebrae-SP
(Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de
São Paulo), quase 50% dos empreendedores atuaram como funcionários de companhias públicas
ou privadas até três meses antes
de engrenar na rotina do negócio.
Boa parte, segundo os especialistas, percorre a ponte de transição entre a fase do contracheque e
a de empreendedor trabalhando
nos dois projetos ao mesmo tempo. Para que a mudança de vida
não aconteça aos solavancos, é essencial, portanto, planejamento.
Ver o patrão pelas costas
Na opinião de Gilberto Rose,
consultor do Sebrae-SP, um cuidado às vezes esquecido é o de
evitar a precipitação. "Não dá para abrir a empresa de uma hora
para a outra. O primeiro passo é
se imaginar sem os benefícios todos de um emprego, como 13º salário, férias e plano de saúde."
O sonhado prazer de ver o patrão pelas costas e de dizer adeus
ao emprego às vezes confunde.
Em certos casos, trocar simplesmente de trabalho é mais aconselhável do que virar empresário.
Ricardo de Almeida Prado Xavier, presidente da consultoria
Manager, que oferece orientação
de carreira a profissionais, estima
que entre 30% e 40% dos executivos atendidos planejem inicialmente abrir uma empresa própria. "Mas somente cerca de 15%
descobrem que é essa, de fato, sua
melhor opção ou real vocação."
Após detectar que a vida como
empregado é uma fase a ser deixada para trás, o aconselhável é fazer
a passagem "emprego/empresa
própria" de forma gradativa.
Essa é a opinião de Francisco
Guglielme, professor de criação
de novos negócios da FGV-SP
(Fundação Getúlio Vargas de São
Paulo) e da FIA-USP (Fundação
Instituto de Administração da
Universidade de São Paulo).
"Uma solução é colocar alguém
de confiança na empresa, enquanto o novo empresário ainda
não tem segurança para deixar o
atual emprego", diz o consultor.
Mas os especialistas ressaltam
que é preciso saber conciliar as
atividades paralelas. "Não há negócio que prospere sem a presença do dono", exemplifica Xavier.
Para André Nudelman, da Innovation Consulting, deve-se avaliar se há como ter uma gestão
profissional. "Daí a necessidade
da presença constante. A diferença entre negócio e investimento."
No caso de a nova empresa ter
como contar com um parceiro
que possa se dedicar integralmente à empreitada -o chamado
"sócio-atleta" (que corre atrás do
negócio)-, por exemplo, as coisas ficam menos complicadas.
Riscos
Além da dedicação ao projeto, a
questão financeira pode ser um
outro cadafalso -como na sedução de deixar o emprego para colocar logo as mãos no valor do
PDV (Programa de Demissão Voluntária) ou do FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço).
"Muitos juntam o dinheiro do
fundo, vendem o carro e põem todas as economias na empresa. Se
não dá certo, perdem tudo", afirma Francisco Guglielme.
Outra questão é mais ética: contar ou não para o patrão que está
montando um negócio? Segundo
Ricardo Xavier, o melhor é manter a discrição. Até porque a companhia pode interpretar como um
sinal de que não há interesse em
seguir uma carreira lá dentro.
E, finalmente, como saber qual
o melhor momento de deixar o
emprego para dedicar todo o
tempo à atividade empresarial?
René Werner, consultor de desenvolvimento societário, dá uma
pista: "Quando o negócio está
consolidado e rende o suficiente
para empreender e viver". É o
ponto de chegada da transição.
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