São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002


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PLANEJAMENTO

Passagem da fase de assalariado para a de dono de um negócio próprio desafia novatos

Transição do emprego é corda bamba

CLEBER MARTINS
EDITOR DE NEGÓCIOS E EMPREGOS

Não é só nas mudanças de governo. Transição também é palavra-chave para começar bem um negócio. Especialmente porque boa parte dos empresários que estréiam no novo papel ainda mantém um pé no emprego e o outro na sua empresa recém-aberta.
Para eles, a tática é tatear o novo terreno antes de pedir as contas ao patrão e passar, finalmente, de empregado a empregador.
Querem evitar perder de vez a fonte de renda como assalariado. Ou, ao menos, custear os gastos domésticos e da empresa enquanto o investimento não se paga.
Parece tudo bem pensado e cuidadoso. Mas nem por isso menos arriscado, dizem os consultores.
Segundo dados do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo), quase 50% dos empreendedores atuaram como funcionários de companhias públicas ou privadas até três meses antes de engrenar na rotina do negócio.
Boa parte, segundo os especialistas, percorre a ponte de transição entre a fase do contracheque e a de empreendedor trabalhando nos dois projetos ao mesmo tempo. Para que a mudança de vida não aconteça aos solavancos, é essencial, portanto, planejamento.

Ver o patrão pelas costas
Na opinião de Gilberto Rose, consultor do Sebrae-SP, um cuidado às vezes esquecido é o de evitar a precipitação. "Não dá para abrir a empresa de uma hora para a outra. O primeiro passo é se imaginar sem os benefícios todos de um emprego, como 13º salário, férias e plano de saúde."
O sonhado prazer de ver o patrão pelas costas e de dizer adeus ao emprego às vezes confunde. Em certos casos, trocar simplesmente de trabalho é mais aconselhável do que virar empresário.
Ricardo de Almeida Prado Xavier, presidente da consultoria Manager, que oferece orientação de carreira a profissionais, estima que entre 30% e 40% dos executivos atendidos planejem inicialmente abrir uma empresa própria. "Mas somente cerca de 15% descobrem que é essa, de fato, sua melhor opção ou real vocação."
Após detectar que a vida como empregado é uma fase a ser deixada para trás, o aconselhável é fazer a passagem "emprego/empresa própria" de forma gradativa.
Essa é a opinião de Francisco Guglielme, professor de criação de novos negócios da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo) e da FIA-USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo).
"Uma solução é colocar alguém de confiança na empresa, enquanto o novo empresário ainda não tem segurança para deixar o atual emprego", diz o consultor.
Mas os especialistas ressaltam que é preciso saber conciliar as atividades paralelas. "Não há negócio que prospere sem a presença do dono", exemplifica Xavier.
Para André Nudelman, da Innovation Consulting, deve-se avaliar se há como ter uma gestão profissional. "Daí a necessidade da presença constante. A diferença entre negócio e investimento."
No caso de a nova empresa ter como contar com um parceiro que possa se dedicar integralmente à empreitada -o chamado "sócio-atleta" (que corre atrás do negócio)-, por exemplo, as coisas ficam menos complicadas.

Riscos
Além da dedicação ao projeto, a questão financeira pode ser um outro cadafalso -como na sedução de deixar o emprego para colocar logo as mãos no valor do PDV (Programa de Demissão Voluntária) ou do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
"Muitos juntam o dinheiro do fundo, vendem o carro e põem todas as economias na empresa. Se não dá certo, perdem tudo", afirma Francisco Guglielme.
Outra questão é mais ética: contar ou não para o patrão que está montando um negócio? Segundo Ricardo Xavier, o melhor é manter a discrição. Até porque a companhia pode interpretar como um sinal de que não há interesse em seguir uma carreira lá dentro.
E, finalmente, como saber qual o melhor momento de deixar o emprego para dedicar todo o tempo à atividade empresarial?
René Werner, consultor de desenvolvimento societário, dá uma pista: "Quando o negócio está consolidado e rende o suficiente para empreender e viver". É o ponto de chegada da transição.



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